quarta-feira, 9 de abril de 2014

Policia para quem precisa de policia...

A PM não pode virar as costas à PM. E nem à população.


Olhem só, meus caros.
Vamos tentar nos entender.
Vamos tentar encontrar a ordem, num ambiente de desordem estabelecida. De desordem institucional que ameaça não fulano, sicrano ou beltrano, mas todos nós.
Você aí, sinceramente, gostaria que os policiais militares do Pará tivessem apenas 110% de aumento em seus soldos?
Talvez não.
Talvez você aí, como o pessoal aqui da redação do Espaço Aberto, gostaria que os PMs do Pará, do cabo ao comandante-geral da PM, tivessem 200%, 300% de aumento.
Todos fazemos votos que o PMs, sobretudo aqueles que, como dizem, estão na linha de frente, expondo a cara, o peito e a alma para combater o banditismo que campeia desenfreadamente, fazemos votos, pois, que essa categoria não apenas seja bem remunerada como também esteja bem equipada para exercer os seus misteres.
Mas olhem, uma coisa é considerarmos justos os anseios de pais e mães policiais militares de receberem remuneração compatível com o essencial e insubstituível papel que desempenham.
Outra coisa, completamente diferente, são as vias que eles escolheram para pugnar pela concretização desses anseios.
E o que constatamos todos nós - aterrorizados, assustados e confusos em relação aos limites institucionais e constitucionais que demarcam a natureza dessas manifestações de PMs que eclodem na Região Metropolitana de Belém desde a última sexta-feira?
Constatamos que os PMs já ingressaram, perigosamente, naquele estágio de terra arrasada, em que passa a viger aquela máxima do "perdido por um, perdido por mil".
Ou perdido por 2 mil, 10 mil ou 30 mil.
Mas o perigoso, o assustador, o aterrador em tudo isso é que os PMs, dominados por um ativismo sindical - ou associativo, que seja - que a lei não reconhece, não se dão conta de que, ao interditarem vias públicas, não estão desacreditando a si mesmos.
O perigoso, o assustador, o aterrador em tudo isso é que os militares, transformados em militantes de uma causa na sua essência legítima, mas marginal às leis, não estão desacreditando a si mesmos.
O perigoso, o assustador, o aterrador em tudo isso é que os PMs, quando impedem até mesmo que pobre cidadãos anônimos enterrem seus mortos - como aconteceu com uma senhora mostrada aos prantos, em fotografia que O LIBERAL publicou em sua edição do último sábado -, não estão desacreditando a si mesmos.
O perigoso, o assustador, o aterrador em tudo isso é que os PMs, quando agridem jornalistas, como foi o caso de cinegrafista e repórter de uma equipe da TV Liberal, golpeados também no último sábado enquanto desenvolviam missão estritamente profissional, pois os PMs, quando incorrem nesse tipo de transgressão, não estão desacreditando a si mesmos.
A quem, portanto, desacreditam os PMs?
Eles desacreditam o Estado, meus caros.
Eles desacreditam a própria Polícia Militar.
Eles desacreditam a função constitucional de que estão investidos, que é a de prover a segurança dos cidadãos.
Não é o José, o João ou o Manoel que estão interditando rodovias, impedindo os cidadãos de ir e vir, espancando jornalistas e desbordando de suas atribuições.
Não. Não são eles.
É a Segurança Pública, é a instituição policial militar que está fazendo tudo isso. Não pensem os policiais manifestantes que são policiais apenas quando estão fardados e "em serviço".
Eles são policiais militares as 24 horas do dia. Devem obediência à hierarquia. Devem render-se aos seus regulamentos internos. E devem obedecer às leis.
Devem fazê-lo todo dia, o dia todo, estando ou não em serviço.
O múnus público que deriva de suas funções não é temporário. É permanente.
Se assim o é, com que cara os PMs que hoje espancam jornalistas haverão, amanhã, de dissuadir manifestações que se virarem contra profissionais de Imprensa, como frequentemente tem acontecido?
Se assim o é, com que cara os PMs que hoje interditam vias públicas haverão de usar a força - a legítima, a permitida nos estritos limites da lei - para liberar ao tráfego os caminhos públicos?
Que legitimidade moral terão os PMs, hoje transgressores da ordem, para amanhã agirem como os guardiães da ordem?
Olhem aqui.
Na semana passada, o jornalista José Roberto Guzzo escreveu em Veja o artigo "A polícia, o bem e o mal".
É um dos artigos mais lúcidos, mais objetivos e mais sinceros que o poster já leu sobre o assunto.
Lá pelas tantas, diz Guzzo:

A questão real é apoiar hoje a polícia brasileira que existe hoje - não dá para chamar a polícia da Dinamarca, por exemplo, para substituir a nossa, ou tirar a PM da rua e só chamá-la de volta daqui a alguns anos, quando estiver suficientemente treinada, preparada e capacitada a ser infalível. É mais do que sabido que a polícia do Brasil tem todos os vícios registrados no dicionário, de A a Z. Mas, da mesma maneira como não é possível fechar todos os hospitais públicos que funcionam mal. e só reabri-los quando forem uma maravilha, temos de conviver com a realidade que está aí. É indispensável transformá-la, mas não dá para exigir, já, uma corporação armada que precise ter virtudes superiores às nossas.

Pois é.
Não queremos a polícia da Dinamarca no lugar da nossa.
Não poderemos exigir que a polícia tenha, agora e já, as excelências com que sonhamos.
Precisamos entender as limitações da polícia, sem abrir mão de cobrar do Poder Público para que a dote de condições para chegar, um dia, a ser como a polícia da Dinamarca.
Mas também não podemos admitir que a polícia vire as costas para a própria polícia.
Não podemos admitir que a polícia, encarnação e expressão da ordem institucional, seja a expressão da desordem estabelecida.
Não podemos acreditar que os policiais militares desconheçam que, constitucionalmente, não devem ser cultores da ordem apenas quando estão "em serviço".
Não. O respeito à ordem é da natureza da profissão que os PMs escolheram.
Daí que interditar suas e rodovias, espancar cidadãos - sobretudo os que, como jornalistas, estão trabalhando - e desbordar de suas obrigações faz com que a PM vire as costas à própria PM, ao Estado e à população.
Ou não?

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