terça-feira, 30 de junho de 2009

POLITICA NACIONAL

Senado 'reage' a Sarney com covardia corporativa
Moreira Mariz/Ag.Senado
Submetidos a um discurso em que José Sarney não anunciou uma mísera providência prática, os senadores reagiram com heróica passividade.
A maioria dos colegas que se pronunciou nas pegadas da fala de Sarney se permitiu dar um voto de confiança ao nada.

Ao dar crédito ao inacreditável, os senadores como que autorizaram a platéia a crer na crença de descrer.
De resto, quem acredita piamente no que não merece crédito se descredencia para piar depois.
Nada mais deletério do que a lamentação depois do fato.
Entre todos os que levaram os lábios ao microfone só Demóstenes Torres (DEM-GO) permitiu-se chamar a encrenca pelo nome correto.
“Temos problemas não só de vícios. Temos a prática clara de delitos aqui dentro [...]. Se há crimes, tem que ir para a cadeia quem cometeu os crimes”.

Demóstenes apontou o caminho das pedras: “O Ministério Público tem que ser chamado. A Polícia Federal tem que ser chamada”.
Mas mesmo Demóstenes soou condescendente ao se referir a Sarney. Deu-lhe um imerecido crédito de confiança:
“Vi com satisfação o discuso do presidente Sarney. Estou no aguardo das providênciais que vai tomar. Por quê?...”
“...Um homem com mais de 50 anos de vida pública, ex-presidente da República, só no Senado presidente três vezes, não pode compactuar com o erro, com o crime”.

Ora, Sarney não se limitou a coonestar os erros. Ajudou a criá-los. Beneficiou-se deles. Afastou Agaciel Maia por pressão, não por obrigação. Protege-o.
Sérgio Guerra, presidente do PSDB, também tratou Sarney como parte da solução, não do problema.
Disse que o Senado não está livre da “corrupção”. Ostenta uma estrutura inchada e inadequada. A certa altura, pronunciou a frase fatídica:
“Já falei sobre a crise com o presidente Sarney, que faz enorme esforço de superá-la”.
Afirmou também: “Não gosto de demissão de diretores. Eles não decidem nada sozinhos. Alguém decidiu com eles. Tem que ser punido também”.
Em seguida, o grãotucano se desdisse: “Mas não estou no capítulo da punição, do retorno ao passado. Estou preocupado com a construção de um Senado novo”.
Acrescentou: “Não dá para andar na rua e não poder dizer que é senador sem ser respeitado”.
Ora, como respeitar um Senado que deseja construir o novo sobre alicerces podres? Como olhar para o futuro sem punir o passado bandalho?
Aloizio Mercadante, líder do PT, falou do milagre –os 14 anos de Agaciel Maia— sem mencionar os santos –Sarney e Renan Calheiros, padrinhos do ex-diretor-geral.
Repisou uma proposta sensata: a imposição de um mandato para os superdiretores do Senado. Dois anos, renováveis por mais dois.
Dirigindo-se a Sarney, Arthur Virgílio, líder do PSDB, disse: “Não o julgarei pela nomeação de um neto”. Por que não?
Depois, concordou com Mercadante. Fustigou Agaciel Maia, um personagem incontornável. E tirou uma casquinha de Sarney. Coisa leve:
“No dia da sua eleição, quando admitiu que manteria o diretor-geral e o manteve, eu disse que não era adequado. E ficou provado que não havia condições de manter”.
Enxergou no discurso de Sarney uma certa anormalidade: “Não dá para entendermos como normal, que o presidente da Casa tenha de prestar contas”.
Mas viu no pronunciamento algo que a platéia talvez não tenha enxergado. Para Virgílio, Sarney “agiu de maneira presidencial”.
“Espero sinceramente que estejamos no caminho de encerrar a crise”.

Informou a Sarney que a bancada do PSDB apresentará um projeto fixando o mandato do diretor-geral. Sarney, que ouvia do plenário, aquiesceu: “Eu concordo”.
Numa evidência de que o PSDB é um aglomerado de amigos integralmente composto de inimigos, o tucano Papaleo Paes (AP) tratou de desdizer o seu “líder”.
Virgílio dissera: “Temos que colocar na cabeça que tem uma crise grave no Senado, que tem de ser enfrentada”.
Para o liderado Papaleo a crise não passa de invenção da imprensa: “Dizem que tem atos secretos. Por que denominaram assim?...”
“...Não existe nenhnum ato secreto. Pode haver falha técnica de funcionários. Todos esses cargos existem na Casa. As nomeações são corretas...”
“...Não há corrupção, malfeitoria de administradores. Eles falharam. Se alguém precisa ser punido. Que seja punido”.
Sarney tem responsabilidade? Claro que não. Trata-se de um “grande político, intelectual, homem que tem inteligência muito acima do normal”.
Pedro Simon, que em privado falava até da renúncia de Sarney, na tribuna apenas soprou: “A imprensa está cobrando...”
“...As manchetes batem no Sarney, na Mesa, atiram pedras. Não estou preoupado com isso hoje. Estou preocupado em mudar a imagem dessa Casa”.
O que fazer? Para Simon, basta que os atos da Mesa diretora passem a ser submetidos ao penário. Mas já não são? Sim, mas ninguém sabe o que está votando.
“O presidente Sarney diz que a culpa não é dele, é de todo o Senado. Eu digo: a culpa é minha. Os erros acontecem pela nossa ação ou pela nossa omissão. Eu sou coresponsável”.
Ficamos entendidos assim: Sarney não tem culpas a purgar. O responsável é Pedro Simon, um réu confesso! E todos os que, como ele, incorrem no pecado da omissão.

‘A crise é do Senado, não é minha’, diz José Sarney

A reputação de um político corresponde à soma dos palavrões que ele inspira nas mesas dos botecos.
Alvo dos mais desairosos comentários, José Sarney subiu à tribuna. Falou muito. Disse pouco, quase nada.
Tomado no seu conjunto, o discurso (íntegra aqui) rende, no máximo, material para um epitáfio. Uma lápide inspirada no Barão de Itararé:
“Aqui jaz um brasileiro que viveu às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas”.

No exercício de sua terceira presidência, Sarney teria bons motivos para avocar para si a responsabilidade pela crise, um pedaço que fosse.
Acha, porém, que a encrenca não lhe diz respeito: “A crise do Senado não é minha, a crise é do Senado”.
Na sua primeira presidência, em 1995, Sarney nomeou para a diretoria-geral Agaciel Maia, a quem se atribui o mafioso mecanismo da administração secreta.
Sarney passou uma borracha no passado: “Nenhum desses atos são da minha gestão”. E tratou de converter os malfeitos em obra coletiva:
“Todos nós somos responsáveis. Nós aprovamos aqui os atos da Mesa. O Senado, no seu conjunto, aprovou”.

Nos 14 anos da era Agaciel, o Senado editou algo como mil atos administraivos secretos.
Sarney deu à afronta constitucional a aparência de um deslize: “Não sei o que é ato secreto...”
“...O que pode ter é irregularidade da entrada em rede ou não de atos de administração...”
“...Tudo em relação ao passado. Nada do nosso período. Não temos nada a ver com isso”.
Sob a sombra frondosa da copa de folhas secretas caíram três frutos da árvore genealógica da família de Sarney.

Sem contar a nomeação de uma filha do amigo Silas Rondeau, foram pilhados um neto e duas sobrinhas do presidente. Sarney posou de injustiçado.
“É por isso que querem me julgar? Falta de respeito pelos homens públicos. Se temos erros, não devo deixar de ter erros. Mas esses constituem extrema injustiça”.
“É injustiça do país julgar dessa maneira um homem como eu, de vida austerta, de família bem composta [...]”.
Como um comandante de navio que se queixa do mar, Sarney reclamou da imprensa. Alvejou também empresários e corporações.
Disse que há “muita gente interessada em enfraquecer o Senado”. São “grupos econômicos, setores radicais da mídia, grupos corporativos radiciais”.
Açulou o instinto de sobrevivência dos colegas: “Nesse momento, devemos pensar no Senado. É nele que estou pensando”.
Embora já tenha em mãos o levantamento das malfeitorias secretas do Senado, Sarney não se dignou a submetê-lo ao melhor detergente: a luz do sol.
Adiou para segunda-feira a divulgação. Alegou que o primeiro-secretário Heráclito Fortes convalesce de uma cirurgia.
Com esse gesto, ganhou mais seis dias para organizar a desconversa que utiliza para lidar com a crise. Punições? Nada de concreto foi dito. Só generalidades do tipo "doa a quem doer".
O discurso de Sarney reforçou na cabeça do brasileiro, que paga a conta, a impressão de que o Senado de hoje não é mais coisa nossa. Tornou-se, por assim dizer, uma espécie de cosa nostra.

Renan aconselha Sarney a fazer do ataque a defesa
Caso dos atos secretos leva o chefão do Senado às cordas

Líder do PMDB mobiliza tropa para fazer a defesa do aliado

Tasso articula grupo suprartidário para cobrar as punições

A descoberta de que o Senado manteve por 14 anos uma burocracia secreta para distribuir favores a um pequeno grupo levou José Sarney às cordas.

Entronizado em sua terceira presidência há quatro meses e meio, o morubixaba do PMDB encontra-se acuado.

Nesta segunda (15), a palavra “renúncia” foi ouvida pela primeira vez no Senado. Pronunciou-a, em privado, o gaúcho Pedro Simon.

Dissidente do PMDB, o partido de Sarney, Simon vem soando entre quatro paredes sempre um tom acima das manifestações que se permite fazer em público.

Acossado pela crise, Sarney ruminou seus rancores ao longo do final de semana. Nesta segunda, trancafiou-se no gabinete da presidência.

Atendeu a uns poucos telefonemas. E se reuniu com dois aliados de todas as horas: os líderes Renan Calheiros (PMDB) e Gim Argelo (PTB).

Aconselharam-no a se defender atacando. Renan pôs para rodar o hardware ao qual sempre recorre quando se vê em apuros. Primeiro, identifica os inimigos: PT e PSDB.

Na sequência, esboça uma reação que se escora em dois pilares: o ataque e a chantagem. Ameaça vazar para os jornais dados que constranjam os rivais

Nas últimas semanas, Sarney dissera a amigos que estava arrependido de ter disputado a presidência do Senado com o petista Tião Viana.

Chegara mesmo a confidenciar a intenção de renunciar ao cargo em 2010, quando fará 80 anos. Depois da conversa com Renan e Argelo, Sarney mudou o rumo da prosa.

Agora, diz que vai à luta. Cogita ler no plenário uma resposta às denúncias que o lançaram no caldeirão dos malfeitos secretos do Senado.

Fala em modificar as regras daqui pra frente. Punições? Por ora, só cogita levar à bandeja a cabeça de José Grazineo, o sucessor de Agaciel Maia na direção-geral.

Caberá a Renan e Argelo executar o pedaço sujo da estratégia, que envolve o recurso à baixaria e à chantagem.

Na outra ponta, o grãotucano Tasso Jereissati organiza uma reunião suprapartidária. Fará um almoço nesta quarta (17).

Está convidando os senadores que, a seu juízo, têm disposição para confontar as mazelas que roem o prestígio do Senado.

Gente como Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Tião Viana, Cristovam Buarque, Renato Casagrande, Demóstenes Torres, Sérgio Guerra e Arthur Virgílio.

Tasso é velho amigo de Sarney. A despeito disso, participou, em fevereiro, da articulação que acomodou a maioria dos votos tucanos no colo de Tião Viana.

Nas pegadas do triunfo de Sarney, Tasso foi à presença do amigo. Levou consigo Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

Os dois aconselharam Sarney a esquecer as rugas da campanha, uma das mais encarniçadas da história. Pediram que “governasse” para todo o Senado.

Hoje, Tasso se diz “decepcionado”. Acha que Sarney tornou-se “prisioneiro” das vontades de Renan.

A idéia da reunião-almoço dos senadores que Renan identifica como “inimigos” foi urdida na noite de sexta (12).


Deu-se em Pernambuco, numa festa junina oferecida por Sérgio Guerra. Entre os mais de mil convidados, havia 12 senadores.

Acomodados na mesma mesa, Tasso e Jarbas Vasconcelos trocaram idéias sobre a encrenca do Senado.

Concluíram que o caso dos atos administrativos secretos levara a crise às fronteiras do paroxismo. Tasso mencionou a idéia de promover o encontro. Jarbas pôs-se de acordo.

“É preciso encontrar saídas”, disse Jarbas ao blog. “A gente pode ficar assistindo ao derretimento do Senado sem fazer nada”.

Para Jarbas, quem preside o Senado é Renan, não Sarney. “O Renan tem, hoje, mais poderes do que na época em que foi presidente...”

“...Renan lideran a bancada do PMDB, cerca de 16 senadores, tirando os dissidentes, e mais a bancada do PTB. O Sarney é refém do Renan”.

Nesta terça (16), o alarido que toma conta do Senado começará a ser içado dos subterrâneos para a tribuna.

Pelo menos três senadores planejam remexer o monturo dos atos secretos em discursos no plenário: o próprio Jarbas, Tião Viana e Arthur Virgílio.

A tropa da dupla Renan-Argelo promete intervir no debate. Algo que deve elevar uma temperatura que, no dizer de Virgílio, tem sido demasiado “amena”.

O líder Virgílio acusa colegas vistos pregoeiros da ética se “acocorar” diante da ameaça de abertura do baú de favores do ex-diretor-geral Agaciel Maia.

Uma divisão da tropa oposicionista favorece Sarney. José Agripino Maia, líder do DEM, não foi convidado para a reunião organizada por Tasso. Consideram-no ligado demais a Renan e Sarney.

Privadamente, Agripino diz que a reunião produzirá barulho, não soluções. Ele pretende se reunir com Sarney.


Acha que a crise exige “providências” que culminem com “punições”. Aconselhará Sarney a demitir a parentela pendurada secretamente na folha do Senado.


Contabilizados inicialmente em 300, os atos secretos saltaram para 500. Agora, diz-se que passam de mil.


Sacudindo-se os papéis, foram ao solo três frutos da árvore genealógica dos Sarney e dos Macieira, o tronco familiar de Marly, a mulher do presidente do Senado.

Reside aí o ponto fraco da pregação de Renan. A lista dos malfeitos não é obra de petistas e tucanos. Foi encomendada pelo primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM).


Eleição de 2010 será a mais disputada’, diz Serra
‘Qualquer candidato do PT é forte; é o partido do governo’

‘Ano que vem não há um candidato natural; favorito tem’

‘Depois do Lula, eu sou o mais bem avaliado do Brasil’

Na noite de sexta (12), ao chegar à fazenda do senador, no município pernambucano de Limoeiro, Serra relutou em falar aos jornalistas.

Alegou que fora a Pernambuco para um participar de uma festa, não para fazer política.

Perambulou entre os convidados, posou para fotos, servir-se de comidas típicas, cantou Baião, música de Luiz Gonzaga, ao lado do sanfoneiro Dominguinhos.

Depois, já na madrugada de sábado (13), Serra cedeu aos conselhos dos tucanos presentes e resolveu falar aos repórteres.


Serra disse que a disputa presidencial de 2010 será a mais disputa desde o restabelecimento das eleições diretas.


Disse que não há um “candidato natural”. Acrescentou: “Favorito até que tem”. Ele próprio? “Isso você só não pode dizer que fui eu que falei”.


Vão abaixo as principais declarações do candidato:


– As críticas de aliados sobre a palidez da campanha tucana: O governo de São Paulo é muito complexo [...]. É um Estado grande e e complexo. Não é fácil você ficar viajando. Por outro lado, acho que a corrida eleitoral foi muito antecipada. Não tem porque a gente entrar nessa antecipação. Agora, sempre que eu posso, eu viajo. Tenho ido, com razoável frequência, fora de São Paulo. Na média, a cada dez dias eu tenho viajado. É que às vezes, o Brasil é grande, e não parece.

– Disputa prévia com Aécio Neves: O PSDB só vai resolver mesmo em fevereiro. Janeiro, fevereiro e março do ano que vem. É muito cedo para antecipar qualquer coisa. Ou vai ser uma escolha por consenso ou, se tiver aresta, vamos aparar a aresta. O que não vai ter é divisão. Isso eu asseguro, sinceramente. Estou falando sinceramente.

- Pesquisas: É muito cedo ainda para que a pesquisa possa dar alguma coisa conclusiva [...]. O que é que eu presto atenção em pesquisa? É na avaliação que a população tem da minha atuação como homem público. Isso é o mais importante. De tudo o que eu vejo nas pesquisas, depois do Lula, eu sou o mais bem avaliado do Brasil. Não é tanto o problema de intenção de voto. É a avaliação positiva. Eu acho isso ótimo, porque estou afastado do cenário nacional desde 2002. Não tive nenhum cargo nacional, nem estou presente na mídia nacional. Portanto é uma avaliação boa. Acho que isso se deve à minha atuação passada. No ministério da Saúde, na autoria do [projeto] do seguro desemprego, no FAT. E o meu próprio desempenho em São Paulo acaba de alguma maneira irradiando.

- Prestígio entre os nordestinos: Quando eu vim [a Pernambuco] na campanha do ano passado, eu fui a uns quatro municípios e, no discurso, eu perguntava: ‘Quem tem parente em São Paulo?’ A grande maioria levantava a mão. É um Estado em que o pessoal está ligado. E eu tenho lá um enorme apoio entre as pessoas que vieram daqui ou da segunda geração. Primeira, segunda e terceira.

- Por que entoou Luiz Gonzaga? Eu sou de um bairro, em São Paulo, um bairro operário, a Mooca. Onde os Nordestinos chegavam era lá. Então, na escola, naquela época chamava jardim de infância, meus colegas, boa parte, eram do Nordeste. O que os professores ensinavam de músiva era daqui. Eu tenho um estoque, lembro perfeitamente.

- Fama de sisudo: Quem me conhece de perto sabe que sou bem humorado e tenho interesses que vão muito além de economia e política. Na vida, você tem a sua personalidade própria e a social. A personalidade social é feita pelos outros. Você não tem condições de exercer controle.

- Carisma: Eu não estou falando de carisma, que é uma coisa mais complexa. Em geral, quem tem carisma é quem ganha eleição. Ganhou a eleição, você tem carisma. Perdeu a eleição, não tem carisma. Em São Paulo, ninguém diz que eu não tenho carisma.

- Governo Lula: Vamos ter que fazer esse balanço mais para frente. Agora é indiscutível que o Lula tem uma popularidade imensa. A minha relação de governador com o presidente é boa, de cooperação.

- A força do PT e a disputa de 2010: Qualquer candidato do PT é forte. É o partido do governo. A eleição do ano que vem será a mais disputada desde que foram reestabelecidas as eleições diretas. Fernando Collor foi aquele fenômeno atípico. Fernando Henrique Cardoso ganhou e foi reeleito na esteira do Plano Real. Em 2002, eu fui bem, afinal de contas tive grande votação, mas estava claro que o país queria o Lula. No ano que vem não há um candidato natural. Favorito até que tem. Mas vai ser uma eleição mais disputada. E o Lula não vai ser candidato no ano que vem. Aí é que nós vamos ver!

- Considera-se favorito? Isso você só não pode dizer que fui eu que falei.



Sem acordo, CPI da Petrobras é comissão natimorta’
Ag. Senado




Depois de dois adiamentos, a instalação da CPI da Petrobras foi marcada para o meio-dia desta quarta (10). Não será instalada, contudo.



A exemplo do que fez na semana passada, a bancada do governo decidiu esvaziar a sessão. Na linha de frente da articulação, Aloizio Mercadante falou ao blog.



O líder do PT condicionou o início da investigação da Petrobras à devolução da relatoria da CPI das ONGs ao governista Ignácio Arruda (PCdoB-CE).



Disse que, mantido o impasse, nenhuma das duas CPIs irá adiante.



“Sem acordo, uma CPI, a da Petrobras, é comissão natimorta. A outra, das ONGs, fica inviabilizada porque não daremos quorum para deliberação”. Vai abaixo a entrevista:







- Por que não será instalada a CPI da Petrobras?

Criou-se um impasse. A oposição contribuiu decisivamente. Eles sabem que não podem fazer o estão fazendo.

- Refere-se a troca do relator da CPI das ONGs?

Sim. Fizemos um acordo. Honramos. Demos a presidência da CPI das ONGs para a oposição. Ficamos com a relatoria. O presidente era o Raimundo Colombo [DEM-SC]. No ano passado, quiseram trocar. Indicaram o Heráclito [Fortes, DEM-PI]. Elegemos novamente o presidente deles. Não é admissível que queiram afastar o relator do nosso bloco [Ignácio Arruda, PCdoB-CE], nomeando outro [Arthur Virgílio, PSDB-AM].

- Não é prerrogativa do presidente da CPI indicar o relator?

Formulamos uma questão de ordem. Cabe ao presidente responder. Se ele nega, podemos recorrer ao plenário da CPI. Em última instância, ao plenário do Senado.

- Se aceitou compartilhar o comando na CPI das ONGs, por que o governo não aceita que o presidente da CPI da Petrobras seja da oposição?

Podemos fazer acordo numa comissão e não fazer na outra. Antes da formalização da CPI, houve um acordo. Seria feita uma audiência pública com o presidente da Petrobras. O PSDB rompeu esse acordo. Temos a prerrogativa de não compartilhar o comando da comissão. Chegamos a um impasse.

-As duas CPIs ficam inviabilizadas?

Corre-se esse rico. Sem acordo, uma CPI, a da Petrobras, é comissão natimorta. A outra, das ONGs, fica inviabilizada porque não daremos quorum para deliberação.

- Estão dispostos a transigir?

Se não recuarem nas ONGs, não há como. Somos maioria. Nos oito anos de FHC eles nunca nos deram presidência ou relatoria de CPIs.

- PT e PMDB já se entenderam quanto aos nomes do relator e do presidente?

Não voltei a tratar desse assunto. Mas na hora em que recsolver o impasse das ONGs isso também se resolve.

- É verdade que sua relação com Renan Calheiros é conturbada?

Diferenças pessoais e políticas entre líderes partidários são próprias da democracia. Os meus compromissos com esse governo estão muito acima dessas diferenças. Então, vou trabalhar para superá-las.

- Lula disse que chamaria os dois para uma convera. Foi chamado?

Não. Mas ele já conhece a minha opinião. Acho que o relator da CPI deveria ser alguém que tenha consistência para tratar de um tema complexo e sensível como é a Petrobras.

- Essa pessoa é o Romero Jucá?

Creio que é um nome adequado. É o líder do governo, tem experiência parlamentar e vivência de política publica. Preenche as condições para ser um bom relator.

- Não receia que a obstrução da oposição paralise o Senado?

Não. Agora é véspera de feriado. O quorum está baixo. Na semana que vem vai ter quorum é vamos votar. Obstrução tem limite. Vai chegar a medida provisória do programa Minha Casa, Minha vida. Eles vao derrubar? O Lula vai dizer: estávamos querendo fazer um milhao de casas e não será mais possível porque a oposição não deixou aprovar a legislação. Acha que a oposição sustenta uma posição como essa?

- Os sucessivos adiamentos não passam a idéia de que o governo receia a investigação da Petrobras?

Não se trata disso. O que se discute é que tínhamos um acordo na CPI das ONGs. Eles não tem legitimidade, votos e amparo regimental para destituir o nosso relator.

- Não há o que ser investigado na Petrobras?

A melhoria do padrão de gestão da empresa é uma boa agenda. Mas não é isso o que querem. A Petrobras está se transformando em palco de disputa política.

- Não crê na sinceridade de propósitos da oposição?

Se o PSDB acha que CPI é o caminho para aprimorar a Petrobras, por que não tem CPI em São Paulo? Por que não instalam a CPI para investigar o governo gaúcho? No Senado, eles tem assinaturas para instalar CPIs. Só acho que o debate é outro.

- Qual é o debate?

A grande questão é: O que vamos fazer com o pré sal? As reservas serão mantidas sob controle do Estado ou vão continuar sendo privatizadas pelo regime de concessão? Como vamos repartir os royalties do petróleo?

- Acha que a investigação impede esse debate?

Em 74, a Venezuela descobriu suas megareservas. Celso Furtado escreveu um ensaio. Dizia que o futuro da Venezuela dependia da discussão que fosse feita naquela época sobre o petróleo. Seria a primeira nação desenvolvida da América Latina ou ficaria prisioneira do petróleo. Uma visão profética. Aqui, considerando-se o desvirtuamento do debate sobre a Petrobras, corremos o risco de cometer equívocos semelhantes.



- PS.: Leia aqui entrevista do líder tucano Arthur Virgílio sobre o mesmo tema.




‘Se nos negarem a CPI, vamos ao Ministério Público’
Antônio Cruz/ABr
Acomodado no posto de relator da CPI das ONGs, Arthur Virgílio tornou-se a principal desculpa do governo para postergar o início da investigação da Petrobras.



A despeito disso, o líder tucano não cogita desocupar a cadeira que ocupou na semana passada. Prefere responder à tática governista com a obstrução.



Em entrevista ao blog, disse que o adiamento da CPI da Petrobras “é inútil”. Afirma que o tucanato está colecionando dados sobre malfeitos praticados na estatal.



“Já temos muitas denúncias. Estão sendo sistematizadas por uma equipe técnica. São denuncias sérias”.



Acrescenta: “Se nos negarem a CPI, vamos ao Ministério Público”. Leia abaixo a entrevista:







- Como vai funcionar a obstrução ensaiada pela oposição?

Será feita onde aparecer oportunidade para fazê-la, no plenário e nas comissões.

- Há limites?

É óbvio que tem limites. Será uma obstrução seletiva. Não cairemos na armadilha que o governo costuma armar. Se aparece alguma matéria de interesse nacional, não ficaremos numa camisa de força.

- Vão obstruir a medida provisória do programa Minha Casa, Minha vida?

Não há porque obstruir uma matéria como essa. Não somos doidos. Mas também não quer dizer que precisamos votar para ontem. A medida provisória tem tempo. Não é nenhuma sangria desatada. Vamos ver o que é preciso corrigir. Não existe projeto perfeito. Além disso, não tenho porque acreditar que o impasse perdure além do tempo de validade dessa medida provisória.]

- Acha, então, que o impasse será superado?

Creio que sim. É uma irracionalidade. Eles dizem que nós faltamos com a palavra. Na semana passada, aceitamos adiar a instalação da CPI da Petrobras mediante o compromisso do líder do governo [Romero Jucá, PMDB-RR] de que ela começaria a funcionar nesta quarta. Independentemente do que ocorresse na CPI das ONGs. Está registrado nos anais. Basta consultar as notas taquigráficas.

- Acredita que será instalada?

Não será. Eles vão protelar mais uma vez. Marcaram para o meio-dia. Sabem que os companheiros deles arranjaram passagem para deixar Brasília antes das 11h.

- O que fazer?

Além de recorrer à obstrução, que nos é facultada pelo regimento, temos o caminho do Procuradoria. Se nos negarem a CPI, vamos ao Ministério Público.

- Tem o que levar à Procuradoria?

Já temos muitas denúncias. Estão sendo sistematizadas por uma equipe técnica. São denuncias sérias. É inútil eles ficarem nessa luta inglória pelo adiamento da CPI. A gente leva tudo para o Ministério Público.

- Essa decisão está tomada?

Sem dúvida. Faremos isso nas duas CPIs, a das ONGs e a da Petrobras.

- O governo alega que a oposição rompeu o acordo na CPI das ONGs?

O argumento é furado. Eles acham bonito ter os dois postos de controle na CPI da Petrobras e acham ruim a gente ter os dois na outra. Fomos obrigados a ter o controle nas ONGs porque há dois anos que eles estão enrolando, sem investigar nada. Hoje apresentei roteiro de trabalho completo.

- Esse roteiro inclui apurações engavetadas?

É basicamente o que estava engavetado. Considerando-se as apurações sugeridas, a CPI das ONGs é ótima. Sob o ângulo do que foi providenciado ela não existiu.

- Aloizio Mercadante condiciona a instalação da CPI da Petrobras à devolução da relatoria das ONGs à oposição. Insiste em que houve quebra de acordo.

O que o Aloizio não diz é que eles estão quebrando uma praxe. Nós somos o bloco de maior bancada. PSDB e DEM tem 27 senadores. Pela proporcionalidade, temos direito a um dos postos de comando nas CPIs. Ao negar esse direito, eles criam um clima selvagem no Senado. Tinham tanto respeito pela praxe que concordaram em compartilhar a CPI das ONGs. Agora, como pintou outra CPI que é vista como capital para eles, não querem mais compartilhar. Só há uma razão para isso.

- Que razão?

Tenho a impressão de que eles tem medo de que a gente saiba mais do que realmente sabemos. E o que a gente sabe já é de meter medo.

- O que a oposição sabe?

Já levantamos um histórico da empresa. Já sabemos quem é sério e quem não é. Tanto que o tal petista Guilherme Estrella [diretor de Exploração e Produção da Petrobras] nós decidimos ressalvar. É pessoa direita. Não temos o que dizer dele. Não podemos dizer o mesmo de outros personagens.

- Por exemplo.

Não temos a mesma confiança em relação a Paulo Roberto Costa [diretor de Abastecimento], Renato Duque [diretor de Serviços] e Wilson Santarosa [gerente-executivo de Marketing]. Esses, por exemplo, nós estamos olhando com lupa. Não merecem de nós a mesma confiança que depositamos no doutor Estrella.

- O que há de concreto nessa sistematização de denúncias?

É muita coisa. Na hora própria, vai aparecer. Instalada a CPI, vamos entrar com dezenas de requerimentos. Inviabilizado esse caminho, vamos ao Ministério Público.

- O PT diz que, sob FHC, não teve nem presidência nem relatoria de CPI.

O argumento é pueril. Nessa época, eles só tinham oito senadores. Eram do tamanho do PTB de hoje, que tem sete. Os partidos que tinham o direito de participar do comando de CPIs eram o DEM, então PFL, o PSDB e o PMDB. Eles queriam o quê? Seria o mesmo que exigir agora que o PTB presida ou relate CPIs. A comparação é exdrúcula. Juntos, PSDB e DEM tem 27 senadores.

- Mercadante alega que a oposição quer CPI em Brasília e bloqueia CPIs em São Paulo e no Rio Grande do Su. Verdade, não acha?

Esse é outro velho argumento do PT. São adeptos da seguinte teoria: eu não te investigo e tu não me investigas. Essa é uma pergunta que o Aloizio Mercadante tem que fazer aos deputados estaduais desses Estados, não a mim. Perguntem ao governador [José] Serra, à governadora Yeda [Crusius], pra mim não. Se for necessário fazer CPIs nesses Estados, que façam. Não tenho nada contra. Diziam que não teve CPI no governo FHC. Houve 21 em oito anos. Uma delas, a do Proer, investigou até o Banco Central.

- O que acha do argumento de que a CPI obscurece o debate do pré-sal?

Esse debate é relevante e não tem porque ser evitado. Temos tanto cuidado com o pré-sal que estamos preservando o diretor dessa área, o doutor Guilherme Estrella. O que não aceitamos é que, a pretexto de privilegiar o debate estratégico, fechemos os olhos para a o aparelhando da Petrobras. A turma lá continua malversando com essa conversa de pré-sal. Não aceitamos que se coloque acima da lei uma empresa que deve respeito às leis.

- O PSDB quer privatizar a Petrobras?

Não. É o contrário disso. Queremos reestatizar a empresa. Queremos evitar que ela vire uma PDVSA [a estatal petrolífera da Venezuela] Já investigamos o presidente Lula no mensalção, investigamos o presidente Collor no impeachment. Por que a Petrobras não pode ser investigada? A empresa por acaso virou o dogma da Virgem Maria?

- Receia que CPI nem seja instalada?

Por ora, não chego a tanto. Até porque vai chegar uma hora em que os fatos vão se impor às manobras.

- Trabalha com a hipótese de abrir mão da relatoria da CPI das ONGs?

Não. Eles, se quiserem, que perpetrem a violência. Podem fazer, dispõem de número para isso. Mas não será com a nossa concordância. Mostramos um plano de trabalho. Talvez não sejam capazes de cumpri-lo. Mas não terão como fugir dele.





PMDB cobiça agora presidência da BR Distribuidora
Antônio Lacerda/Efe
Sob a liderança de Renan Calheiros (AL), o PMDB do Senado inaugurou uma articulação silenciosa para tentar obter um novo cargo na Petrobras.



A turma de Renan ambiciona agora a presidência da BR Distribuidora. Um posto ocupado, por ora, pelo petista José Eduardo Dutra.



Prestes a ingressar na disputa pela presidência do PT, Dutra terá de deixar a subsidiária da Petrobras até o final de julho. Daí o olho grande do PMDB.



Fiel da balança na CPI da Petrobras, a ser instalada nesta quarta (10), o grupo de Renan havia insinuado interesse por outro cargo.



Desejava a diretoria de Exploração e Produção da Petrobras, responsável pelas jazidas do pré-sal. Dilma Rousseff pôs o pé na porta.



A chefe da Casa Civil, disse que a substituição de Guilherme Estrela, o petista do pré-sal, estava fora de questão.



No último final de semana, o ex-Campo Majoritário, grupo de José Dirceu e Antonio Palocci, decidiu empinar o nome de Dutra como opção para presidir o PT.



A eleição do sucessor de Ricardo Berzoini, atual presidente da legenda, será em 22 de novembro. Mas o registro das chapas terá de ocorrer em julho.



A simples menção da hipótese de Dutra ter de deixar a BR Distribuidora reassanhou o PMDB. O partido acha que está subrepresentado no organograma da Petrobras.



A tribo dos peemedebês controla duas cadeiras de realce. O ex-senador Sérgio Machado (CE), foi plantado por Renan na presidência da Transpetro.



Jorge Zelada, foi à diretoria Internacional da estatal petroleira como representante do PMDB da Câmara. E ficou nisso.



O PT gere o filé mignon. Além de Estrella e Dutra, acomodou Sérgio Gabrielli na presidência e Maria das Graças Foster na diretoria de Energia.



Mais recentemente, o petismo acomodou Miguel Rosseto, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, na cadeira de presidente da Petrobras Biocombustíveis.



“É óbvio que esse quadro não faz justiça ao peso do PMDB no Congresso”, disse ao blog, na noite desta segunda (8), um soldado da bancada de Renan.



A movimentação subterrânea ocorre nas pegadas da decisão de Lula de chamar Renan para uma conversa sobre os rumos da CPI da Petrobras.



Oficialmente, o PMDB nega interesse pelo cargo de Dutra. Também negava que cobiçasse a diretoria de Estrella. Assim joga o time de Renan.



Não reivindica, insinua. Não pede, ameaça. Não pisa o centro palco, se esgueira pela coxia.



Na CPI, o PMDB dispõe de três cadeiras. Um delas, é ocupada por Romero Jucá (RR). Líder de Lula, é mais fiel ao governo do que a Renan.



Restam dois votos. Que somados ao de Fernando Collor (PTB-AL), hoje de bem com Renan, convertem-se em três.



Numa comissão de onze membros, uma eventual sublevação desse grupo levaria a oposição –dois votos do PSDB e um do DEM— a fazer maioria de seis contra cinco.




Grupos do PT abrem guerra pelo comando do partido

Saída de Gilberto Carvalho da disputa reacendeu divisões

Ao menos 4 ‘tendencias’ ambicionam o cargo de Berzoini

Grupos de Dirceu e Tarso Genro vão medir forças de novo

Ao vetar a participação de Gilberto Carvalho, seu chefe-de-gabiente, na disputa pela presidência do PT, Lula incendiou o partido.

Sondagens informais indicavam que Carvalho iria à disputa interna com chances de unificar as diversas tendências que se espremem sob o guarda-chuva do PT.

Sem ele, a perspectiva de unidade se esvaiu. Por ora, pelo menos quatro grupos manifestam a intenção de disputar o cargo de presidente do partido.

A eleição está marcada para 22 de novembro. Está em jogo a renovação dos diretórios em três níveis: nacional, estadual e municipal.

O cargo mais vistoso é o de presidente nacional. Hoje, é ocupado pelo deputado Ricardo Berzoini (SP). O substituto terá mandato de três anos.

A perspectiva de dirigir a legenda no ano eleitoral de 2010 e no alvorecer do governo que sucederá o de Lula tonifica a ambição dos contendores.

A disputa mais aguerrida será travada entre o ex-Campo majoritário, tendência do ex-ministro José Dirceu, e o Mensagem ao Partido, grupo do ministro Tarso Genro.

Já mediram forças em 2007. A turma de Dirceu prevaleceu. E Berzoini, embora tisnado pelo affair dos aloprados do dossiê antitucanos, foi reconduzido à presidência.

Ao grupo de Tarso restou acomodar o deputado José Eduardo Cardozo na secretaria-geral do PT, o segundo cargo mais importante da hierarquia partidária.

Para essa disputa de 2009, os candidatos ao diretório nacional terão de registrar suas chapas até o próximo dia 25 de julho.

Pelo menos quatro tendências petistas esboçam a intenção de entrar na briga. São as seguintes:

1. Ex-Campo Majoritário: Rebatizado de CNB (Construindo um Novo Brasil), o grupo de Dirceu e Antonio Palocci controla algo como 40% dos votos dos filiados do PT.

O ex-Campo reuniu-se na sexta (5) e no sábado (6), conforme já noticiado aqui. Sem Gilberto Carvalho, decidiu fixar-se no nome do ex-senador José Eduardo Dutra (SE).

Vem a ser o atual presidente da BR Distribuidora. É subsidiária da Petrobras, a maior distribuidora de combustíveis do país. Deve deixar o cargo em julho.

2. Mensagem ao Partido: Criada na fase pós-mensalão sob o lema da renovação ética, a tendência de Tarso Genro amealhou em 2007 algo como 20% dos votos do petismo.

Cogita relançar o atual secretário-geral José Eduardo Cardozo ao cargo de presidente. O êxito da empreitada depende de alianças com outras tendências minoritárias.


3. Articulação de Esquerda: O integrante mais buliçoso desse grupo é Valter Pomar, atual secretário nacional de Relações Internacionais do PT.

Pomar torce o nariz para os dois Josés –o Eduardo Dutra, dodói do ex-Campo Mojoritário, e o Martins Cardozo, opção do Mensagem ao Partido.

-se o lançamento da candidatura da deputada Iriny Lopes (ES). Sozinho, o Articulação de Esquerda padece da inanição.

Controla cerca de 10% do cesto de votos do petismo. Numa escala de zero a dez, a chance de eleger o sucessor de Berzoini é menos um. Porém...

Porém, num eventual cenário de placar apertado, os votos da Articulação de Esquerda podem vir a ser disputados como uma espécie de última coca-cola do deserto.

4. Movimento PT: Essa corrente cogitava alinhar-se à candidatura de Gilberto Carvalho. Com o veto de Lula, passou a flertar com uma opção própria.

Há uma disputa interna no grupo. A favorita é a deputada Maria do Rosário (RS), candidata derrotada à prefeitura de Porto Alegre no ano passado.

Corre por fora o também deputado Geraldo Magela (DF), candidato derrotado ao governo do DF em 2006.

O Movimento PT, por minúsculo, tem algo como 8% dos votos do petismo. Porém, na disuta de de 2007, escalara a casa dos 20% graças a uma aliança.

Juntara-se a outras duas tendências: a Lutas de Massas, do deputado Jilmar Tatto (SP) e a Novo Rumos, dos ex-prefeitos Fernando Pimentel (BH) e Marta Suplicy (SP).

Reeditando-se a parceria, esses três grupos desceriam ao tabuleiro como uma força nada desprezível nas composições internas. Seriam a penúltima coca-cola do Saara.

Lula observa a ebulição de seu partido com uma ponta de preocupação. Egresso do Ex-Campo Majoritário, o presidente pende para José Eduardo Dutra.

Nos próximos dias, Dutra deve pedir uma audiência a Lula. A pretexto de discutir sua saída da BR Distribuidora, vai tentar consolidar o apoio do presidente.

A guerra interna que se instalou nos subterrâneos do petismo não afeta diretamente a candidatura presidencial de Dilma Rousseff.

Ao antecipar o lançamento de Dilma, Lula como que ergueu um dique que represou o debate sobre nomes alternativos.

Dividido quanto à sucessão de Berzoini, o PT está unificado em torno de Dilma. Seja qual for o escolhido, não se atreverá a peitar Lula.

O receio do presidente é o de que a disputa atrase as composições que considera urgentes, sobretudo com o PMDB. Por isso, vai cuidar pessoalmente desse pedaço da encrenca.
Escrito por Josias de Souza





“O tucanato assustou-se diante da conjunção do repique da popularidade de Lula com a redução da distância que separa José Serra de Dilma Rousseff (de 30 pontos para 22). Assombração sabe para quem aparece.

Um partido que tem dois nomes para oferecer, mas o favorito reluta em anunciar sua candidatura, não poderia esperar outra coisa.

Faltam 16 meses para a eleição de 2010, e José Serra guarda o imponente silêncio dos santos de andor. É cedo? O companheiro Obama anunciou sua candidatura 21 meses antes da eleição.

Ao seu estilo, o PSDB tem um candidato que não diz que é candidato, quer fazer prévia, mas não quer fazer prévia, quer montar uma chapa puro-sangue, mas não quer montar uma chapa puro-sangue.


Em 2006, José Serra saiu da disputa com Geraldo Alckmin sem ter anunciado publicamente que era candidato à Presidência. Nunca se saberá direito até que ponto ele saiu do caminho porque temeu a divisão de sua base ou porque percebeu que marcharia para uma segunda derrota.

Sem candidato (ou sem candidatos disputando prévias), o PSDB acorrentou-se ao projeto-procissão, no qual o santo percorre um trajeto com destino certo, cabendo aos devotos acompanhá-lo com suas preces.

A imobilidade do PSDB é responsável, em parte, pela persistência do fantasma de uma nova candidatura de Nosso Guia.

Se Serra ou Aécio botassem a cara na vitrine, desencadeariam um processo que dificultaria uma manobra queremista do comissariado. Jogando na retranca, alimentam-na.

Pode-se dizer que Lula já informou que não pretende buscar o terceiro mandato, mas ele nunca disse isso numa frase que não contivesse uma saída de emergência.

Numa de suas últimas versões, repetiu que não pretende entrar na disputa, mas disse que não via nenhum mal no continuísmo chavista.

Se algum dia Lula quiser encerrar essa discussão, pode recorrer a um modelo formulado em 1871 pelo general americano William Sherman (o devastador do Sul dos Estados Unidos durante a Guerra Civil). Ele mandou uma carta a um jornal dizendo o seguinte:

‘Nunca fui e nunca serei candidato a presidente. Se algum partido me indicar, não aceitarei a escolha. E se eu for eleito, mesmo que seja por unanimidade, não ocuparei o cargo’".

BACANA sei lá !!!

FOFOCÓDROMO
Vic Pires Franco vai lançar em agosto, o Blog do Vic. Já está em fase experimental no twitter e já começou a soltar o veneno para todos os lados. O blog terá direito a uma equipe de 4 profissionais, vai contar com matérias investigativas e bombardeios mil. Inclusive, Vic já soltou a primeira: “Com este discurso de meio ambiente, o Jatene ta pensando em se eleger guarda florestal.” Rs.

DIZEM POR AÍ...
Que os ânimos em alguns partidos estão acabando com os nervos de muita gente. Jatene e Couto não abrem mão de suas candidaturas e Mário já retirou do cercadinho de Jatene o deputado Bira Barbosa, e dizem que Ana Cunha será a próxima. No PT a confusão de sempre, muita reunião entre Governo e partido e nenhuma decisão prática. Ou seja, a palavra par-ti-do nunca foi tão apropriada para definir PT e PSDB.





NOSSA MAIOR OBRA É CUIDAR DAS PESSOAS: É o slogan desse negócio chamado GOVERNO ANA JÚLIA. Onde já se viu, cuidar sem hospital, sem escola ?
Vic, twuitando por aí.


" - Se o PMDB quiser fazer uma aliança com o PSDB terá de se adequar ao nosso projeto."

Almir Gabriel


O pesadelo do PSDB
Se o país dos horrores que o PSDB mostra em seus programas de TV existisse de fato, não haveria explicação racional para os altos índices de aprovação do governo e do presidente Lula. Teríamos que procurar, então, uma explicação mágica.
Um país onde nada está certo, tudo está errado e tudo o que dá errado é culpa do governo "incompetente" é uma fantasia ultra reacionária que o PSDB insiste em repetir ano após ano, enquanto reduz seu tamanho a cada eleição. É o marketing político do isolamento, que prova que a máxima de Leon Trotski continua valendo: a política é circular; em algum momento, a ultra-direita tangenciará a ultra-esquerda.
Com uma arrogância típica de burgueses decaídos, os dirigentes do PSDB não cansam de atacar a auto-estima do brasileiro, ousando comparar o Brasil, um país laico e plural, com a Índia, um país divido em castas e onde os índices de pobreza e concentração de renda são extremos.
Ou seja, os tucanos preferem o sistema de castas, que perpetua a pobreza, à política de distribuição de renda e inclusão social que se pratica no país desde 2002 e que está na raiz da aprovação recorde de Lula e seu governo.
Atacar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é outro atalho equivocado, que tenta alcançar "lateralmente" a Ministra Dilma Roussef. Encontrar meia dúzia ou uma centena de obras do PAC que estejam atrasadas ou paradas não desqualifica o programa, apenas demonstra, uma vez mais, sua importância.
Um partido na contra-mão da história, é o que vi no tempo de antena do Partido que dirigiu o país por longos e sofridos oito anos de submissão ao FMI e de desrespeito aos movimentos sociais e suas demandas.
Não é por acaso que o senador Ricardo Azeredo, do PSDB, é o autor de um projeto de lei que, de acordo com a revista Carta Capital, está sendo chamado de "o AI-5 da internet", propondo a censura no uso do meio de comunicação mais plural e democrático que existe.

CHICO CAVALCANTE


" - O Jatene tem de parar com este asunto de ecologia, ele não vai ser candidato a guarda florestal."

Vic Pires Franco sobre os últimos discursos de Simão, o verde.



" - Rs rs rs. Ainda não".

Jader Barbalho, ontem a noite me respondendo se tem novidades entre PMDB e PT no Pará.



" - Jader não quer atender ninguém."

A frase é do deputado Paulo Rocha. E é verdade verdadeira, sem tirar nem por. Ou melhor, uma verdade estadual.
A leitura que meio PMDB faz é a seguinte; Foi de Jader a ideia de lançar Ana ao Governo, foi de Jader a ideia de lançar Priante, asssim com as duas candidaturas levando obrigatoriamente Almir para o segundo turno.
Foi de Jader a ideia de falar com Lula e comunicar a estratégia, foi de Jader o convencimento junto a Lula de que Mário Cardoso - já decidido candidato ao Governo em convenção pelo PT - não tinha naquele momento densidade eleitoral para forçar um segundo turno.
Isso, e o resto - a candidatura de Ana a pedido de Lula, o pedido de Lula para que Mário abrisse mão de sua candidatura - todo mundo sabe.
Então Jader acha que neste Governo, as mudanças que Ana tem todo o direito de fazer, não foram conduzidas de forma clara, não foram dados telefonemas dizendo que em tal órgão era necessário substituir nomes peemedebistas que não estavam atendendo aos anceios da Governadora. O que foi feito foi o comunicado que tais nomes seriam afastados, e deixado no ar que o PMDB poderia indicar substitutos. Não foi combinado em nenhum caso de substituição de nomes peemedebistas com o próprio PMDB as mudanças, nomes não foram analisados em conjunto, apenas o Governo decidia e pronto.
Não houve um papo assim; " - Olha deputado, estamos tento alguns problemas na Secretaria de Saúde - por exemplo - então gostaria de falar com você sobre uma possível substituição."
Não, isso não foi feito.
Então meio PMDB acha que isso não é parceira, não é aliança. Acham mais, que se o Governo pode fazer tudo só, inclusive mexer nos órgãos oferecidos ao PMDB em troca de acordo, este mesmo Governo pode governar sozinho.
E meio PMDB acha que assim, sem conversar, sem ponderar, sem tratar o PMDB como parceiro, como aliado, apenas avisando o que se pretende fazer ou avisando quando já se foi feito, tudo isso levou Jader a ficar com o balde cheio.
Por conta disso, Jader não atende aos telefonemas do Governo.
Se atender, vai atender aquele a quem ele procurou para apresentar uma proposta de derrota ao PSDB e seus 12 anos de poder.
Se atender, vai atender Lula, o que não significa que vai seguir a orientação do presidente. Mas que Jader não abre mão que Lula seja o avalista de uma possível - e cada vez mais difícil - aliança com o PT estadual, onde os acertos sejam cumprido, o respeito pelos aliados seja mantido, ah isso ele quer.
E não vai mudar um milímetro de sua convicção antes de sentar e tratar do assunto com Lula. Se assim o Presidente quiser, claro.


Inigualável!!!


Quando ele lançou Triller eu era um pré-adolescente. Parecia que uma onda enorme tomava conta da cidade, das discotecas, das ruas, das escolas, do mundo. Michael vinha com uma dança insinuante, com um ritmo dançante, com os tais dos clips contando pequenas histórias.
Era impossível não se vestir e tentar dançar como ele. E a música pop ganhava um rei, com seguidores por todo o planeta.
E foi este inovador musical que perdemos. Infelizmente ele será lembrado também pelas transformações estéticas que fez, um sinal óbvio de algum tipo de distúrbio psicológico.
As suas músicas e seu ritmo, estes sim, devem ser lembrados. A criatividade do artista, graças a Deus, era maior que seus tormentos.
Afinal, como dizem os Titãs; " - Cada um sabe a alegria, e a dor que traz no coração."
Acabou a dor Michael.



" - Arapiraca não é coisa nossa."

Foi a resposta de um peemedebista quando perguntei se o recém empossado diretor da Adepará era do PMDB.
Na verdade Aliomar Arapiraca da Silva é ligado ao PT.
Ou seja, o PMDB não indicou o nome para o comando da Adepará, o que talvez signifique que o partido, dá assim, um passo para trás em relação a aliança com o PT.



Porto em Marabá

Um convênio fechado ontem entre o Governo do Estado e CPH vai dar a Marabá um porto público de carga e passageiros. Obra de 76 milhões com recursos do DNIT e 7% de contra partida Estadual as obras do porto devem começar no final deste ano.



A impressão petista

O blog falou hoje com meio PT que esteve em Brasília. Segundo TODOS, a avaliação da direção nacional do partido foi de que o PMDB estará junto com o PT em 2010.
E o que conta, segundo eles, para esta aliança não são os cargos peemedebistas no Estado, mas o espaço político que o presidente do partido Jader Barbalho detém junto ao Governo Federal.
É nisso que eles apostam, depois das conversas de hoje, de que a influência de Barbalho junto ao Governo Federal e seu espaço político neste mesmo Governo vai pesar a favor de uma coligação com o PT no estado.
saíram de lá torcendo todos os dedos.



Bate Perna

Paulo Rocha disse hoje que o bate perna dele com Ana por Brasília tem um único fim, buscar recursos para o estado. Foram recebidos por dois Ministros e por Berzoini.
Perguntei se era para tratar na aliança com o PMDB e Paulo saiu-se com essa;
" - Não, o Jader nem quer falar sobre este assunto agora então tratar isso com o Bersoini pra que. Vamos aguardar ele ter vontade de falar."
É...


Obras

Chicão está sofrendo na pele o que é uma secretaria sem recursos. Até o momento nem mesmo a abertura do sistema que dá condição da Secretaria de Obras começar a receber os repasses do Governo, foi aberto.
Chico sofre calado, condição de homem educado que é. Mas uma fonte da Secretaria garantiu que as despesas básicas estão sendo mantidos com uma sobrinha do ano passado.
Sobrinha mesmo que, sabe-se lá Deus, quanto tempo vai durar.
É o que se pode chamar de um osso duro de roer esta Secretaria de Obras.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Leio, no Blog do Bacana, que sua ex-excelência Almir Gabriel, teria cometido que "se o PMDB quiser fazer uma aliança com o PSDB terá de se adequar ao nosso projeto."

O projeto em questão deve ser o dele, ou seja, eleger o Senador Mario Couto para governador do Pará.

Almir Gabriel, por conta da estupidez católica de insistir na teoria geocêntrica, - ele sendo a Terra - perdeu a eleição para Ana Júlia.

Qualquer tênue demonstração de casmurrice do ex-governador depõe contra o desejo tucano de voltar a ocupar o Palácio dos Despachos, de onde, mesmo em situação delicadamente frágil, não pretende sair a atual entourage da Democracia Socialista.

O eleitor paraense, mesmo decepcionado com o atual governo, não dá sinal algum de que sente saudades de Almir Gabriel.

O ex-governador deposto está, pois não conseguiu manter sua autoridade sem o poder que a emprestava.

Isto posto, também não é capaz de colaborar em nada na corrida eleitoral de 2010, a não ser soltar bafos tipo a frase aspeada, em meio à fumaça de seus porroncas.
Parsifal Pontes

sábado, 27 de junho de 2009

PERERECA PSDB RACHADO.

Jatene1

JATENE ABRE O JOGO

Em entrevista exclusiva à Perereca da Vizinha, ex-governador do Pará fala sobre o racha do PSDB e a queda de braço entre o MPF e os pecuaristas. Critica o governo petista e o crescimento dos gastos com o custeio da máquina. E assume: poderá, sim, disputar a convenção do PSDB com o senador Mário Couto.

“Sou, geneticamente, músico. Tentei ser intelectual, mas, acabei virando político”. É assim que se define o economista Simão Jatene, ex-governador do Pará e provável candidato do PSDB, novamente ao Governo do Estado, nas eleições do ano que vem.

Aos 60 anos, Jatene vive, talvez, a vida que pediu a Deus: ensina Economia Amazônica e Economia Política na Universidade Federal do Pará; estuda temas áridos, como o meio ambiente. Mas, sobretudo, se dedica a sua grande paixão: a música.

Mestre pela Unicamp, ele recebeu o blog para uma alentada entrevista, na tarde de quinta-feira, 18.

Falou sobre tudo: a política paraense, o racha do PSDB, a sua pré-candidatura ao Governo, as relações entre tucanos e petistas, o imbróglio entre o Ministério Público Federal e os pecuaristas, a administração do PT, a opção tucana pelas Organizações Sociais (OS), os avanços do Pará ao longo dos doze anos de tucanato.

Jatene2

Sobre Almir: “É uma avaliação injusta e equivocada”

Perereca: O senhor traiu o doutor Almir Gabriel e o PSDB?

Jatene: Com absoluta certeza, não. E mais do que qualquer palavra que possa dizer a respeito disso, acho que as pessoas que participaram, desde o início, da criação do partido, como o Paulo Chaves, o Paulo Elcídio, a Ana Diniz, a Adelina, o Zé Augusto Afonso; essas pessoas que viveram, desde o primeiro momento, todo esse processo dificilmente estariam ao lado de alguém que tivesse traído o partido. Acho isso uma avaliação equivocada, injusta, que me entristece.

Perereca: A que o senhor atribui, então, o fato de o ex-governador Almir Gabriel ter dito que o senhor fez “corpo mole”, nas eleições de 2006? O senhor fez, realmente, “corpo mole”?

Jatene: Acho que a avaliação do ex-governador Almir Gabriel, como a avaliação de qualquer pessoa, merece de mim todo o respeito.

Agora, não tenho como concordar quando não corresponde à realidade e aos fatos.

Corremos este estado, estivemos em vários municípios - e veja, de novo, uma indicação: você acha que alguém pode fazer corpo mole sem que as pessoas percebam?

E por que é que essas pessoas, que são fundadoras do partido; por que é que os deputados, que viveram a campanha também de forma muito direta, continuam tendo uma clara indicação a respeito de uma candidatura nossa? Esses deputados jamais estariam conosco se, efetivamente, tivessem percebido algo assim.

Além disso, você acha que alguém que pretende, por alguma razão, ver um aliado derrotado; alguém que está no governo e que terá o seu governo, no período seguinte, olhado com lentes de todas as formas por um partido historicamente opositor, teria feito algo assim, sem, no mínimo, procurar uma tribuna para se defender? Não faz sentido isso, não é? Porque se, na verdade, existisse alguma intenção desse tipo, não seria razoável que eu tivesse buscado um mandato para, pelo menos, supostamente me proteger?

Agora, não posso deixar de dizer uma coisa: quando começamos a conversar sobre essa entrevista, eu lhe disse que não quero, porque acho que não agrega nada na discussão deste estado, ficar nisto: “mas a avaliação de fulano foi nessa direção”; “mas o que pensa sicrano nessa direção”...

Acho que a sociedade tem uma avaliação dessas coisas; os fatos se impõem aos discursos.

O que me preocupa muito, neste momento, com todo o respeito que tenho por todas as avaliações que possam fazer, é que estamos vivendo um momento crítico, neste país, e, particularmente, na Amazônia e no Pará.

Estou preocupado é com a necessidade de formatarmos um projeto de saída para isso.

O mundo vive um momento muito especial. Essa questão ambiental está na ordem do dia. Ninguém imagine que isso é um modismo, uma coisa passageira – não é; veio para ficar.

A Amazônia está no olho desse furacão; o Pará é, sem dúvida, a melhor síntese disso na Amazônia. E eu espero que as lideranças políticas comecem a discutir isso, porque, no ano que vem, vamos ter de escolher um governador e ele terá de se posicionar nessa questão.

Perereca: Mas, se não houve essa traição, esse corpo mole, por que, na sua opinião, o doutor Almir, que foi seu amigo durante 30 anos, tem essa leitura? O senhor acha que ele se equivocou na leitura de alguma coisa?

Jatene: Não tenho nenhuma dúvida de que a leitura dele, além de equivocada, é injusta. Mas, não tenho como responder o porquê dessa leitura.

Mas, quero dizer uma coisa, reafirmando o que já disse a respeito disso: isso não muda um milímetro do meu respeito por ele. Não muda um milímetro da avaliação que faço da importância política que ele teve no estado do Pará. Não muda um milímetro da avaliação que faço dos oito anos de governo do Gabriel. Ou seja, os conceitos que construí, durante anos, não são alterados por uma entrevista, por um equívoco, por uma avaliação divergente daquela que considero a correta.

Porque isso está sendo dito, concretamente, para quê? Para explicar o resultado das eleições. E eu acho que o resultado das eleições não se encontra aí.

Jatene3

Poder para FAZER

Perereca: Mas o senhor não acha que o resultado teria sido diferente se o senhor tivesse sido candidato, em vez de abrir mão em favor do doutor Almir?

Jatene: Mais uma vez vou dizer as razões disso.

Eu sempre disse – e não é agora, tampouco às vésperas das eleições passadas – que me preocupava muito o estatuto da reeleição, no Brasil.

Preocupa-me muito a reeleição num país cujas instituições ainda são muito frágeis e os partidos políticos estão muito distantes daquilo que sonhamos.

Sempre digo que um partido político é, acima de tudo, um educador coletivo, que tem uma tarefa dificílima.

De um lado, ao mesmo tempo em que ele rompe com os limites externos do cidadão, capacita o cidadão para se impor os seus próprios limites. É a questão dos direitos e deveres. Se não, você cai numa coisa muito complicada, que é a história de achar que todo mundo só tem direitos.

Mas, voltando à história que você perguntou: no Brasil, os partidos são muito pouco programáticos. Por isso, a reeleição acaba impregnada por um personalismo muito grande.

E como sempre apostei em projeto coletivo, não podia imaginar a reeleição a não ser excepcionalmente, no caso de não se ter uma candidatura alternativa, à altura de garantir a continuidade de princípios postos no governo.

Mas, esse não era o caso: tínhamos uma pessoa com uma história; um ex-governador que fez um belo trabalho e que se dispunha a ser candidato.
Então, por quê?

Se, na verdade, você pode brigar pelo Poder por três grandes motivações: para TER – são aqueles que acham que, na verdade, o Poder é a porta da felicidade e da riqueza; para SER – são aqueles que são um poço de vaidade e, por causa disso, precisam ter o Poder para que as pessoas fiquem lhes rendendo homenagem; e para FAZER.

Se você briga pelo Poder para FAZER, é o projeto que motiva, mais do que essa questão de quem é o ator principal.

Vamos ser francos: isso é absolutamente coerente, razoável – e essa foi a razão.

Se teria sido diferente, se a população teria feito outra leitura?... Não sei.

Jatene4

Tucanos podem bater chapa na convenção

Perereca: Desculpe a franqueza, a pergunta: o senhor não recuou, em 2006, na sua candidatura, por medo de entrar em bola dividida? Por medo de ter de disputar a candidatura, na convenção, com o doutor Almir?

Jatene: De jeito nenhum! Mas, de jeito nenhum!...

É gozada essa coisa da política: ela tem umas coisas fantásticas, mas tem, também, umas coisas muito perversas.

Uma delas é, exatamente, esse sentimento.

Se você se desvia um pouco do que, supostamente, é o que as pessoas vislumbram como sendo “o caminho natural”, você tem de achar uma pitada de canalhice para botar naquele desvio, porque não pode ser por um gesto dessa natureza. Ninguém pode abrir mão dessa coisa fantástica que é a possibilidade de manter o Poder, por um ideário superior.

Ora, se tem alguém que pode tocar o projeto com qualidade, com compromisso, e os princípios serão mantidos; e se, filosoficamente, no caso específico das sociedades em que os partidos são frágeis – não é a democracia, a reeleição pela reeleição – mas se, nesses casos, eu discordo da questão, acho que a reeleição não é uma boa alternativa, qual o problema?

Então, não foi por esse negócio de “bola dividida”, não. Pelo contrário: foi a valorização do projeto coletivo, foi a valorização do Poder para fazer. Foi a compreensão clara de que mais importante do que quem está sentado na cadeira é o projeto que está sendo executado e que, necessariamente, só se realiza como fruto de um esforço conjunto.

Perereca: Então, o senhor está disposto a bater chapa, na convenção do ano que vem, com o senador Mário Couto, caso ele não recue?

Jatene: Deixe eu lhe dizer uma coisa: espero que não precisemos fazer isso. Mas, já disse isso em mais de uma oportunidade: eu não inventei essa história da minha candidatura – não inventei, mesmo!

Ela foi se forjando, nestes dois anos, como fruto de apelo, de muita discussão com lideranças políticas. E eu lhe diria que, nos últimos tempos, sobretudo fruto de uma enorme manifestação das ruas.

Eu ando nas ruas: não tenho motorista, não tenho seguranças; vou ao supermercado, fazer as compras de casa; vou ao shopping, como todo mortal... E encontro com as pessoas. E o sentimento das pessoas, o apelo das pessoas, é que está na raiz da minha candidatura.

O partido tem dez deputados estaduais – e os dez são favoráveis a ela; tem três deputados federais – e dois são favoráveis a ela; entre os prefeitos, a grande maioria, inclusive municípios como Abaetetuba, Paragominas, Altamira são favoráveis. Então, o que é que pode mudar isso? É o partido dizer que fez uma avaliação de que não é assim. Por que, se não, qual o sentido do discurso coletivo?

Não quero porque quero ou porque já fui e quero ser de novo, ou porque o cavalo está passando selado... – isso, para mim, não é um jogo, não! Isso, na verdade, é um enorme desafio, que precisa ser assumido em toda a sua extensão, mesmo!

Formatar um projeto de Estado, neste momento, é um grande desafio.

Perereca: Então, o senhor vai até o fim na sua pré-candidatura?

Jatene: Já lhe disse isso: se for o desejo do partido e o sentimento da população, eu seria absolutamente incoerente, estaria negando toda a minha história se não fosse.

Para mim, a questão central é esta: por que é que você quer ser candidato?

Primeiro, porque as pessoas têm uma avaliação, do que está aí, de profunda decepção.

Eu quero porque as pessoas estão me dizendo que se sentem enganadas, que se sentem frustradas e que acham importante a gente retomar isso.

Quero porque a classe política considera isso importante; tem uma avaliação muito semelhante a essa da população.

Então, isso não é um jogo, não é uma disputa pela disputa. Não é porque não tenho nada a perder que sou candidato – não existe isso.

Sou candidato porque acho que todos nós temos muito a perder neste momento.

A minha pré-candidatura está colada pelo muito que este estado está perdendo e pode continuar perdendo. É isso que, na verdade, está por trás dela.

Também não sou nenhum “Messias”, tenho essa clareza.

Não é nada “Messiânico” isso, não.

É uma coisa muito pé-no-chão, de perceber que esse é um sentimento que está posto na sociedade, nas lideranças políticas. Então, paciência.

Jatene5

Crise na Santa Casa era questão de tempo

Perereca: Como é que o senhor avalia o atual governo do Pará?

Jatene: O governo cometeu – e continua cometendo – alguns erros muito graves.

A gente precisa ter claro que governar um estado como o Pará é um permanente – e, certas horas, frustrante – exercício de optar entre coisas que não se pode fazer opção.

Como é que você faz opção entre gastar em Saúde ou em Educação, onde a Saúde e a Educação são precárias? Como é que você faz opção entre gastar em Educação ou em Segurança?

O que a gente precisa ter claro é que nos foi imposto um padrão de ocupação que criou uma enorme desordem, numa ordem precária pré-existente, a partir da chamada corrida rumo ao Norte.

Com isso, os governos vivem numa permanente corrida atrás do prejuízo.

Quando você pega o orçamento e compara às demandas, ele é absolutamente insuficiente.

Então, é irresponsável você chegar numa televisão e dizer que vai resolver tudo, porque não há qualquer chance de fazer isso.

É absolutamente irrealista você chegar numa campanha e prometer: “vou acabar com isso!”.

Você tem de ter a humildade de compreender que, se conseguir colocar algum tijolo nessa construção – e é preciso fazer isso – já estará dando uma contribuição importante.

Vamos pegar algumas coisas concretas. A questão da saúde, por exemplo.

Por que partimos para a construção dos hospitais regionais? Porque, quando andava pelo interior, percebia essa demanda verdadeira, real.

Ah, mas é fácil levar média e alta complexidade ao interior? Claro que não. Mas, num estado de dimensões continentais como o Pará, temos de ter a coragem de ousar.

Mas, não ficamos só nisso.

Paralelamente à construção dos hospitais, criamos dois programas. Um deles era o Médico no Município – também chamado Médico 24 Horas.

Sabe o que é que era esse programa? Como percebemos que os municípios não tinham recursos para pagar uma remuneração que garantisse a fixação do médico, fizemos convênios com mais de 70 municípios. E repassávamos recursos, todo mês, para a contratação de dois médicos.

O outro programa era de entrega de medicamentos básicos.

Com isso, havia, nos municípios, o médico e o medicamento, o que segurava um pouco o deslocamento para a capital.

Além disso, tínhamos, aqui em Belém, convênios com vários hospitais, o que garantia uma retaguarda, sempre que acendia a luz vermelha na Santa Casa, em termos de superlotação.

Mas – e por isso eu disse que o governo cometeu alguns equívocos – acabaram com esses convênios, tanto para a contratação de médicos, nos municípios, quanto para esses hospitais de retaguarda, em Belém.

Também acabaram com a distribuição de medicamentos básicos, no interior.

Então, era só uma questão de tempo ver o drama que se viveu na Santa Casa, por exemplo.

Perereca: Mas, em vez de investir nos hospitais regionais, não teria sido mais produtivo, para a saúde, investir maciçamente na Atenção Básica, inclusive com a reforma das unidades existentes?

Jatene: Espere um pouquinho, porque aí é que eu acho que está a história.

Tais desafios não têm uma seqüência tão aritmética como essa que você está querendo.

Trabalhamos com a Atenção Básica, nos municípios, e criamos os hospitais regionais até para facilitar.

Aliás, eles foram escolhidos espacialmente, de forma a contemplar as várias regiões do estado. E onde tínhamos uma demanda um pouco maior... Por exemplo: deixamos um hospital quase pronto em Tailândia, que, embora não seja de média e alta complexidade, é grande.

Por quê?

Porque, nesse eixo da PA-150, havia uma demanda crescente, pela própria dinâmica da região.

Então, fizemos outro hospital. Ele ficou praticamente pronto – e até hoje não entendo por que é que não foi inaugurado.

Então, não pense que houve descuido com isso.

Outro ponto importante é que, no caso de Santarém, por exemplo, não apenas fizemos o hospital regional: também levamos a Faculdade de Medicina, para formar quadros na própria região.

Isso, aliás, já começa a dar bons frutos, apesar da atrapalhação, quando tentaram colocar aquele hospital para funcionar.

Também preciso dizer outra coisa: sempre disse que a escolha das OS não se deu por uma questão ideológica, mas, absolutamente pragmática.

Jatene6
OS ajudariam a melhorar serviço público

Perereca: Mas esse modelo das OS, na verdade, não acaba facilitando que se burlem as exigências legais, exigências que pretendem tornar mais cristalina a gestão da coisa pública?

Jatene: Pelo contrário: não creio que seja um mecanismo que leve a burlar a Lei. Até porque parto do seguinte suposto: se o Estado é capaz de realizar direto, deve ser capaz de fazer a gestão.

Lembro que diziam, acerca do Hospital Metropolitano: “vai ser privatizado”, “É um hospital privado”.

E eu me lembro que tive a oportunidade de dizer, à governadora eleita: vá ao Hospital Metropolitano, para ver o modelo; veja se a senhora não encontra um serviço público de qualidade.
E por quê?

Porque você tem um contrato de gestão e a questão é o Estado, cada vez mais, se especializar em monitorar, tornar transparente, acompanhar.

Como é que você, enquanto setor público como um todo – e aí eu vejo as OS como um mecanismo importante para isso – vai enfrentar determinados desafios, para os quais é preciso ter profissionais qualificados, que precisam ter uma remuneração diferenciada, e não há condições de generalizar isso no setor público?

Perereca: Mas, não seria melhor, então, mudar a Lei? E não é meio estranho você entregar uma coisa pública, na qual se investem milhões, para uma organização híbrida, meio pública, meio privada?

Jatene: Volta, volta esse negócio aí, porque eu acho que é bom (risos)...

Primeiro, a gente tem de ter claro o seguinte: neste país, se tem uma grande confusão entre público e estatal.

Para mim, público é uma coisa que é maior do que o privado e, também, que o Estado.

A rigor, eu lhe diria que, no Brasil, lamentavelmente, ainda estamos por construir o conceito de público.

Sempre se confundiu, no Brasil, público com estatal.

É por isso que também se tem uma enorme dificuldade em exercitar o conceito de cidadão. Por quê? Porque você não é cidadão em abstrato. Você é cidadão diante do outro; você é cidadão diante do Estado.

E o que eu acho é que, cada vez mais, a polêmica “EstadoXPrivado” tem de dar origem a outro ente, chamado “Público”.

Essa é que é a grande questão. Esse é que é o desafio da sociedade moderna: como é que a gente constrói o “Público”.

Acho que temos experiências positivas nisso, como é o caso do Metropolitano. E acho que o Estado, cada vez mais, se apresenta como regulador.

Jatene7

A Revolução Ambiental: “É preciso repactuar
a relação do Homem com a natureza”

Perereca: No seu governo, houve o desenvolvimento da cadeia produtiva da pecuária. Como é que o senhor viu essa questão que envolveu o Ministério Público Federal, os pecuaristas que descumprem a legislação ambiental e as grandes redes de supermercado, que resolveram boicotar tais produtos?


Jatene: A primeira coisa que precisamos ter claro é que é cada vez menor o número de pessoas que duvida de que o mundo vive um momento muito especial.

Pela primeira vez na História, a gente percebe, claramente, que o planeta vem sofrendo mudanças, em decorrência da ação da espécie Humana. Uma espécie muito bem sucedida, aliás, em termos de reprodução: éramos, na época da Segunda Guerra Mundial, pouco mais de dois bilhões e somos, hoje, sete bilhões.

Mas, nesse processo, o Homem foi domesticando e até destruindo outras espécies; influenciando essa ordem de tal modo que, hoje, isso começa até a comprometer a sua própria sobrevivência.

Para mim, a Amazônia está no centro dessa discussão.

Digo sempre que o Brasil entrou com um atraso de cem anos na Primeira Revolução Industrial. Entrou, com um atraso de mais de cem anos, na Segunda Revolução Industrial. Mas, tem a oportunidade de entrar pela porta da frente na grande revolução do século XXI, que é a Ambiental.

O homem tem de repactuar a sua relação com os outros homens, mas, também, tem de repactuar a sua relação com a natureza.

Jatene8
Amazônia produz 8% do PIB
e emite 50% do CO2

Perereca: Qual o papel do Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE) nesse contexto?

Jatene: As pessoas falam no ZEE como sendo um conjunto de mapas, de informações. E eu sempre disse que o zoneamento, mais do que qualquer coisa, tem de ser um pacto entre os vários segmentos da sociedade, acerca da nossa relação com a natureza. Porque, se você tiver só um conjunto de mapas e não tiver esse pacto, ele vai virar um documento de prateleira.

Vou citar alguns números importantes, para refletirmos.

A Amazônia representa 60% do país, tem 12% da população e gera só 8% do PIB, o que já é um desequilíbrio, porque há uma participação da população menor que a do PIB.

E o que é mais dramático: para gerar 8% do PIB, ou seja, de toda a produção do país, a Amazônia emite mais de 50% do CO2 emitido pelo Brasil.

Há um estudo recente, do Instituto Mackenzie, no qual se procura ver o seguinte: como é que o Brasil transita dessa economia atual para uma economia de baixo carbono?

E ele mostra que o mundo emite, hoje, em torno de 45 gigatoneladas de carbono. Se nada for feito, estaremos emitindo, em 2030, cerca de 70 gigatoneladas. Mas, para que a temperatura média da Terra não se eleve além de uns 2 graus, teríamos de estar emitindo, em 2030, cerca de 35 gigatoneladas – ou seja, a metade.

Isso significa que é preciso um esforço global para o rebaixamento desse patamar, o que vai exigir uma ação com três componentes fundamentais.

O primeiro é a busca de matrizes energéticas mais eficientes e menos poluentes.

O segundo é a busca de padrões de consumo menos agressivos ao ambiente. E veja: essas medidas que têm o caráter de induzir o consumo responsável são fundamentais. Essa maior regulação por parte do Estado vai acontecer, mesmo, e não só no Brasil, porque se trata de uma questão global e prioritária.

O terceiro é a garantia de nichos de prestação de serviços ambientais, em escala planetária.

Então, para mim, a discussão central é como é que se transita de uma economia que foi incentivada nesses moldes. Porque o modelo padrão de ocupação da Amazônia, o nosso papel de “fronteira” para o resto do Brasil, foi imposto à região; não foi uma opção daqueles que aqui vivem.

Então, é verdade que, quase 50 anos depois da chamada “corrida rumo ao Norte”, o país conseguiu driblar a Reforma Agrária. Mas, engendrou, aqui, uma das estruturas fundiárias mais perversas, distorcidas, injustas e pouco produtivas.

Jatene9

Para além dos limites do capital:
a proteção ambiental remunerada

Perereca: O senhor não acha que esse imbróglio entre os pecuaristas e o Ministério Público demonstra que estamos, na verdade, perdendo essa luta por encontrar um meio termo entre desenvolvimento e preservação?

Jatene: É exatamente nisso que quero chegar. O Brasil driblou a Reforma Agrária, mas, impôs à Amazônia um padrão de ocupação absolutamente ineficiente.

Veja: se você produz só 8% do PIB, mas emite 50% do CO2, isso é uma loucura completa. Em segundo lugar, o país não precisou ocupar militarmente a Amazônia, mas, em compensação, estimulou um padrão de ocupação extremamente perverso nessa relação com a natureza, na medida em que incentivava o desmatamento, como imposição para a garantia da propriedade.

Isso nos leva a uma constatação que, para mim, é o ponto central: não há como negar que existe um passivo social e um passivo ambiental muito grande. Mas, não dá para responsabilizar os que aqui vivem por isso.

Isso é fruto de um padrão de ocupação imposto, de fora para dentro, ao Pará e à Amazônia. E só há uma forma de reverter isso: é o País assumir claramente que a Amazônia do século XXI não pode continuar se confrontando com a armadilha de produzir ou preservar.

Só temos duas saídas aqui: ou produzimos preservando, ou preservamos produzindo. O primeiro conceito é mais fácil; o segundo parece doidice, né?

O que é preservar produzindo? É compreender que manter floresta e rio na Amazônia; floresta e qualidade de ar é, na verdade, estar produzindo condições objetivas de vida para a espécie, no planeta.

Isso tem uma conseqüência brutal: o conceito de produção tem de ser “elastecido”; não pode continuar, apenas, nos limites do capital. Temos de começar a pensar o conceito de produção nos limites da natureza.

Com essa transição, é possível entender uma coisa: se manter floresta e rio na Amazônia é produzir, então, isso tem de ser “precificado”, tem de ser remunerado.

E essa é discussão que está posta: como é que se transita de um modelo que via a Amazônia como simples fronteira, como o lugar que resolve o problema da pressão pela terra, como o lugar que abastece o país com recursos naturais, para um modelo que vê a Amazônia como prestadora de serviços ambientais em escala planetária, mas, que tem o desafio de resolver o problema da pobreza que marca a vida de mais de 40% das 25 milhões de pessoas que vivem na região.

Ora, esse não pode ser um desafio da Amazônia: tem de ser um desafio do País.

Mas, também não se pode achar que vamos continuar aumentando o passivo ambiental e social que está aí.

Por isso é que aposto na questão do pacto; no zoneamento da Amazônia. Lembro que, quando acabamos o zoneamento no Pará, disse ao Governo Federal que esse não era um zoneamento do Governo do Pará, mas, do Estado. E que eu gostaria que isso pudesse ser espraiado a toda à Amazônia; que a gente pudesse definir o que vai ser área de preservação permanente, de uso restrito, de uso intensivo, de recuperação. E que, ao invés de ficar fazendo por “soluços” – cria uma reserva aqui e aí tem uma pressão social acolá e cria uma reserva acolá – que mapeássemos isso, porque até a regularização fundiária tem de ter como pressuposto o zoneamento.

Se não, há o risco de regularizar terra, mas constatar, no futuro, que aquilo não era área de produção intensiva, mas, de preservação.

Jatene10

PecuaristasXAmbientalistas:
queda de braço sem vencedores

Perereca: Nesse contexto, como é que o senhor vê as obras do PAC, na Amazônia?

Jatene: A Amazônia, de um modo geral, independentemente dos governos, tem sido vista, sempre, de forma marginal no projeto nacional. E o que precisamos mudar é a “lente” de ver a Amazônia. Só isso permitirá que a gente fuja dessa armadilha de produzir ou preservar.

Não queremos ser, simplesmente, uma fronteira de recursos naturais. Temos um papel natural, em primeiro lugar, que é o de sermos prestadores de serviços ambientais, em escala planetária. E temos, também, um papel histórico, que é o de servir de base de sustentação e de vida digna para 25 milhões de habitantes.

Hoje, estamos, aparentemente, no pior dos mundos. Se você conversar com o setor florestal, com o setor pecuário ou com os ambientalistas todos dirão que o que está aí é uma droga. É um modelo que, a rigor, não serve a ninguém, mas que se mantém. E por quê? Porque como não há um Estado que tenha credibilidade para chamar os atores e levá-los a uma pactuação, todos temem que qualquer mudança torne o cenário pior do que já está.

E aí a gente cai num imobilismo, que é esse que vivemos hoje, no qual terminamos tendo essas quedas-de-braço.

Só nesta semana, tivemos, de um lado, a aprovação daquela MP da Grilagem; e, de outro, essa suspensão da compra de carne da Amazônia. Fica parecendo que uma foi vitória dos ambientalistas; outra, dos produtores. Mas, enquanto as coisas forem vistas desse jeito, estamos perdendo é todos.

Porque, nesse jogo, não tem vitória de ambientalista ou de produtor. O confronto não é ambientalista versus produtor. O confronto somos nós, todos, pela construção de um novo padrão de desenvolvimento.

Jatene11
Pobreza caiu no Pará dos tucanos

Perereca: Os tucanos costumam dizer que o Pará melhorou, ao longo de doze anos de governos do PSDB. Mas, há pessoas que citam indicadores que, na verdade, demonstram o crescimento da pobreza. O Pará realmente empobreceu sob o tucanato?

Jatene: A discussão de indicador é uma coisa muito complexa, sobretudo na Amazônia. Mas, há um indicador que é sempre interessante, que é a linha da pobreza.


Tenho aqui um trabalho do Imazon – que não me consta que seja dos tucanos – a partir de informações do IBGE/IPEA – que também não me consta que estejam nas mãos dos tucanos – e que mostra várias coisas interessantes.

Uma delas é o comportamento desse indicador, quanto à população abaixo da linha da pobreza extrema, entre 1990 e 2005, na Amazônia.

No Acre, esse indicador saltou de 19% para 22% – e não me consta que eram os tucanos que governavam o Acre. No Amazonas, cresceu de 8% para 12%. No Amapá, foi de 9% para 11%. No Maranhão, caiu de forma expressiva, de 46% para 28%, até porque o número era muito alto. No Mato Grosso, caiu de 11% para 6%. No Pará, caiu de 20% para 16%.


E perceba uma coisa: tivemos queda, apesar de a população, nesse período, ter crescido acima da média nacional.

Veja, ainda, que, na maioria dos estados da Amazônia, a pobreza extrema cresceu.

Gostaria, portanto, de dizer o seguinte: todas as vezes que comparo o que fizemos com o que foi feito pelos demais governos, inclusive o atual, a sensação que tenho é a de que fizemos muito.

Mas, quando comparo o que fizemos com aquilo que precisa ser feito, aí é que fico com a sensação de que foi muito pouco.

Mas essas coisas precisam ser tratadas com seriedade e com essa relativização.

Jatene12

Crescimento do custeio ameaça estabilidade

Perereca: o senhor acha que o PT está quebrando o estado com esse crescimento do custeio, registrado nos dois últimos anos?

Jatene: Você me dá oportunidade até para falar algumas coisas bem interessantes.

Eu ouvia muito uma história de que eles pegaram o estado quebrado. Mas, o maior aumento salarial aos servidores, no governo atual, foi em 2007.

Então, como é que pode isso, se o estado estava quebrado? Quer dizer, na verdade, isso foi feito com o orçamento que deixamos; foi a nossa “herança maldita”...

Outro exemplo: a crise na saúde, aquela situação dramática na Santa Casa, foi em 2008, assim como a grande explosão da insegurança pública. Estranho isso, não é?

Quanto à sua pergunta, o que posso dizer é que, se pegarmos o que gastávamos em custeio, corrigirmos pela inflação e compararmos com o que foi gasto em 2008, esse gasto em custeio aumentou em torno de R$ 700 milhões.

E eu não vejo em que o Estado melhorou, em termos de prestação de serviços, para justificar esse aumento de R$ 700 milhões.

Se pegarmos os números dos investimentos, veremos o seguinte: investimos, em 2006, cerca de R$ 950 milhões – o que, corrigido, daria mais de R$ 1 bilhão.

Já em 2007, o investimento despencou para a metade disso.

E, em 2008, os investimentos ficaram em torno de R$ 900 milhões – mas eu fico profundamente intrigado em saber onde é que foram investidos esses R$ 900 milhões de 2008, porque, em 2006, com os R$ 950 milhões que investimos, fizemos três hospitais de média e alta complexidade, o Hangar, o asfaltamento da PA-279, ou seja, vários projetos. E eu não consigo ver nada disso em 2008.

Perereca: Esse crescimento do custeio se sustenta em relação ao crescimento da arrecadação?

Jatene: Eu diria que é preocupante, porque o equilíbrio das contas públicas é fundamental para qualquer gestão. Aí, gostaria de fazer uma observação: se pegarmos o que foi repassado ao Pará no último ano do presidente Fernando Henrique Cardoso; projetarmos isso para os anos subseqüentes e compararmos com o que foi repassado pelo Governo Federal, sob o presidente Lula, vamos constatar que o Pará deixou de receber R$ 1,2 bilhão – o equivalente, portanto, a dez obras como o Hangar.

Jatene13

Lula foi perverso com o Pará

Perereca: O senhor acha, então, que o Governo Federal tentou lhe prejudicar?

Jatene: Ele foi profundamente perverso, não comigo, mas, com o Pará. E me lembro que disse isso, à época. E me lembro que apareceram com um número estapafúrdio, dizendo que tinham passado R$ 5 bilhões. E eu disse: “Mas, rapaz, R$ 5 bilhões, em qualquer lugar, aparece. E onde é que estão esses investimentos?”. Posso lhe dizer mais uma coisa: as parcelas do Fundo de Exportação. A primeira, que deveria ter vindo em janeiro, só veio em novembro de 2006. A segunda, só chegou em 31 de dezembro. A terceira, só veio em 2007.

Perereca: O senhor foi tratado, então, a pão e água?

Jatene: Não – na verdade, não tive nem pão e nem água; tivemos é de correr atrás. E eu acho que, quando se fizer a comparação dos governos, é bom ter essas coisas em mente.

Perereca: Por que é que o PSDB perdeu a eleição de 2006?

Jatene: Acho muito complicado fazer esse tipo de avaliação; é melhor perguntar à população.

Postado por Ana Célia Pinheiro às 19:51 0 comentários
Jatene14

Dá pra votar em Mário Couto?

Perereca: O senhor vota no Mário Couto, se ele for o candidato do PSDB?

Jatene: Deixa eu te dizer: tenho absoluta certeza de que o partido vai fazer a opção pelo nosso nome. Até porque aposto nessa questão coletiva e o sentimento que tenho é o de que a população tem demonstrado uma franca preferência pela gente, acho que você está fazendo a pergunta à pessoa errada...


Jatene15
As diferenças entre tucanos e petistas

Perereca: Há mesmo diferenças entre tucanos e petistas, local e nacionalmente? Quais?

Jatene: Acho que o Brasil tem, historicamente, cometido alguns pecados e nós todos, a classe política de um modo geral, temos de nos penitenciar por isso. Uma dessas coisas é a enorme dificuldade em valorizar o que nos aproxima – a gente tem uma tendência é a valorizar o que nos divide. Isso não tem sido positivo porque, no Partido dos Trabalhadores, você tem pessoas que são capazes de ter uma visão mais larga do mundo, e que, sem dúvida alguma, teriam muito mais identidade com a proposta do PSDB – e vice-versa.

O que acho que tem faltado é maturidade para compreender que o Brasil e o Pará são maiores que qualquer partido e que qualquer liderança política.

Para mim, um dos pecados de determinados segmentos do PT é ter se arvorado a se apresentar à sociedade como sendo a expressão da defesa dos interesses dos mais fracos; é ter se arvorado a se apresentar à população como sendo a expressão mais pura e cristalina da ética e da defesa de princípios e conceitos morais.

A realidade é bem mais complexa do que isso.

Há problemas nos partidos, de um modo geral; há pessoas corretas, nos partidos, independentemente das siglas – é claro que, com maiores concentrações aqui e ali; e eu acho que o PSDB é um dos partidos que congrega quadros da melhor qualidade.


Mas, não dá para negar que o PT tem quadros importantes, é claro.

Então, acho que tem, sim, uma diferença de postura.

Acho que a crítica pela crítica, que terminou sendo uma marca do PT, termina não ajudando a construir. O PSDB é até apelidado de “murista” por causa disso, mas, não é “murista”, não: muitas vezes, é que a responsabilidade desse compromisso com a sociedade não permite que você saia por aí com uma metralhadora giratória.


A minha expectativa é que a experiência do PT no Governo – e eu espero que ela termine rapidamente – é que ela leve pelo menos alguns grupos do PT a refletir, a amadurecer.

A perceber que a realidade é mais forte que os discursos e que, se a gente usar a palavra para revelar o que quer dizer; se a gente compreender que a sabedoria é melhor que a esperteza; e se a gente entender que a verdade não pode estar subordinada à conveniência do momento, o diálogo democrático fica muito mais tranqüilo.


Não consigo entender aquela história de que “em campanha a gente diz o que quer e se explica no governo”.

Acho que campanha é hora de assumir compromissos. E o Governo é hora de resgatar compromissos. As diferenças precisam ser apresentadas, mas, não dá para simplificar.


Recordo de alguns motes da campanha passada que, realmente, foram de uma profunda pobreza de espírito.

E gostaria de registrar o seguinte: isso não é um discurso, não!

Quando assumi o governo, lembro que havia uma certa dificuldade na relação com a Prefeitura de Belém, à época, comandada pelo prefeito Edmilson, sobre a questão das unidades de Saúde.

Assumi o governo e convidei o prefeito Edmilson para discutir essa questão – é só pegar os jornais da época.

Disputei o Governo com a atual prefeita de Santarém, Maria do Carmo. Mas, nem por isso deixei de ir a Santarém e de ajudar a Prefeitura.


Lembro, inclusive, de um convênio que fizemos, para a orla de Alter do Chão. E recordo, na época da construção do hospital, até da fala da prefeita Maria do Carmo.

Eleição de Almir seria um avanço

Perereca: Tendo em vista essa democratização das relações, no seu governo, que parece ter sido bem mais aberto ao diálogo, a eleição do doutor Almir, pelo próprio perfil dele, não representaria um retrocesso?


Jatene: Não, não acho que a eleição do Gabriel seria um retrocesso – até porque, se achasse isso, teria disputado com ele, sim.

Acho que a eleição dele seria, sim, um avanço, até porque nós todos aprendemos.

E quero lhe dizer com toda a franqueza: se Deus e a população do Pará me levarem, novamente, ao Governo, pode ter certeza absoluta de que não será uma reprodução do que foi.

Aprendi, acertei, errei – não tenho nenhuma dificuldade em arrumar o que errei e tentar potencializar o que acertei.

Essa coisa da importância do coletivo na construção da sociedade...

Não tenho nenhuma dificuldade em me relacionar com qualquer segmento. Tenho dificuldade é em me relacionar com a hipocrisia, com a mentira, com a tentativa de usar a esperteza para enganar as pessoas.

E eu sempre digo: não tenho raiva da população porque vota assim ou assado. Tenho raiva é de quem engana a população.

Quinta Marajó.

Se Sarney Renuncia, Acaba

Por Walter Rodrigues, no blogue de Colunão, sob título acima.

Por mais duro que pareça aos sarneístas, tem razão o senador Pedro Simon (PMDB-RS) quando sugere a “licença” de José Sarney da presidência do Senado, como forma de preservar a instituição e arrefecer o denuncismo midiático.
Com três ressalvas, porém:
1) Licenciar-se é um modo menos doloroso de renunciar, pois quem sai em circunstâncias tão adversas depois não tem como voltar;
2) “Preservar a instituição” significa arranjar um meio de salvar a pele de todo mundo — senadores e altos burocratas, com duas ou três exceções entre esses últimos —, enquanto a de Sarney é lentamente consumida pelo descrédito.
3) O denuncismo midiático existe, sim, no sentido de que a grande imprensa do sudeste está em campanha para derrubar o presidente do Senado e parte do que publica é exagerado, distorcido ou simplesmente injusto.
Mas há muito que o Senado convive com graves irregularidades de que somente a alta burocracia tinha pleno conhecimento — mas nenhum dos senadores ignorava por completo. Nesse sentido, a imprensa contribui para melhorar o Poder Legislativo quando lhe expõe as mazelas e força a criação de mecanismo de transparência que já deveriam existir há muito tempo.

Não é como Renan

É pouco provável que Sarney aceite licenciar-se, assim como não se vislumbra a possibilidade de que seja destituído por seus pares. Cair de um cargo tão elevado com quase 80 anos, após uma carreira quase sempre ascendente, é mais do que Sarney conseguiria aguentar política e talvez até fisicamente.
Renam Calheiros pôde renunciar e continuar no jogo, quase com a mesma força. Sarney, não. Se renuncia, está morto.
A questão é saber se aguenta mais uma semana de bombardeio.


Ana Júlia e José Serra: Iguais?

Por Humberto Lopes, Mestrando em Ciência Política pela UFPA.



Quero começar esclarecendo que este artigo não é redigido nos moldes dos textos trotskistas (PSOLTU), com a lengalenga que identifica PT e PSDB como meros agentes do neoliberalismo. Essas analises têm a consistência de um ovo quente: tire-se a casca e não se sustentam em pé. Também têm a utilidade de um jogo entre Pinheirense e Tiradentes de campeonato paraense da década de 80: nem como passatempo servem.
Quero ainda marcar o que considero a principal diferença entre Ana Júlia e José Serra. A governadora, no que tem de certo e de errado no seu governo, no que tem de intenção e de gesto, está interessada em dar dignidade às camadas mais carentes da população. Já Serra, como todo burocrata, se contenta com concretos e números.
O eixo que quero abordar é tema recorrente na imprensa e nas rodas de articulação política: como o governador de São Paulo e a Governadora do Pará tratam as eleições de 2010. Antes de entrar no tema em si, seria útil se fazer um comparativo das carreiras dos mandatários. Ambos começaram sua militância no movimento estudantil. Ambos dedicaram um tempo de suas vidas públicas aos seus municípios. Serra por dois anos como prefeito de São Paulo e Ana Júlia por oito anos em Belém (dois meio mandatos de vereadora e um mandato de vice-prefeita). Ambos foram deputados federais e senadores, embora não no mesmo período.
Ambos foram eleitos em 2006 para cumprir um primeiro mandato à frente do governo de seus Estados. Ironicamente – embora por razões diferentes – entraram na disputa para cumprir funções estratégicas aos seus partidos. Ana Júlia foi eleita pelos méritos de seu partido e por sua capacidade de mobilizar a emoção do eleitorado. Serra -apesar de “insosso” - conseguiu liquidar em a eleição em primeiro turno graças à imperícia do staff de seu concorrente. Lá, como aqui, PSDB e PT estavam frente a frente.
Serra e Ana têm objetivos diferentes em 2010. O tucano pretende disputar a presidência da Republica. Enfrenta a obstinação de Aécio Neves em não ser um mero Senador. O dilema dos tucanos tem dois componentes: abreviar a disputa para iniciar a campanha e, se a disputa for inevitável, reduzir seu colégio eleitoral para dar a impressão de participação massificada. Ana busca a reeleição. Até aqui não foram noticiadas pesquisas sérias de intenção de votos. Quem as tem – se existem – só divulga o que lhes interessa. Mas o poder é sempre poder. O PSDB ainda não definiu seu candidato, mas a disputa interna está arrefecendo. Se o candidato for de fato Simão Jatene será um adversário com pouco apetite para a disputa corpo-a-corpo. Será o carisma contra o tecnicismo.
Ana tem outro tipo de preocupação: as alianças e o PT. Seu principal parceiro, o PMDB encontra-se indócil. amansá-lo não será fácil. No PT precisa ter cuidado com duas armadilhas: prévias e solução heterodoxa. No caso das prévias Paraoapebas foi um aviso: maquina administrativa sozinha não resolve o problema do voto interno. Almir Trindade e o PTLM, um grupo que representa cerca de 2% dos filiados paraenses, tentam recolher assinaturas de dirigentes partidários para forçar a escolha do candidato ao governo pela base. O resultado não é difícil de imaginar: mais um período com o governo sangrando, o partido impossibilitado de fechar coligações por “não ter candidato definido” e Ana vitoriosa nas previas, mas com seu nome violentamente questionado.
A solução hetorodoxa equivale a uma amputação e é relativamente indolor: a lá Rio-98 a direção nacional escolhe outro candidato. Hoje, ninguém quer esse desfecho, mas ele pode ser construído.
Feitos os paralelos, podemos entrar naquilo que considero o sinal de igualdade entre Ana Júlia e José Serra. Quem são seus favoritos para as eleições de 2010.
O caso de Serra é mais simples. Quer disputar a presidência da república deixando em seu lugar alguém de confiança. No caso o Chefe da Casa Civil, José Aníbal. O problema é que Geraldo Alckmin também quer ser governador de São Paulo. Alckmin ostenta índices superiores a 45%, em algumas simulações ganhando em primeiro turno. Já José Aníbal mal passa dos 2% (pesquisa Datafolha, realizada de 26 a 28/05). Para ajudar Aníbal, Serra tem feito o que pode: traz seu articulador colado nos eventos oficiais e viagens de serviço, ampliou os poderes da Casa Civil e por fim designou que Aníbal como interlocutor do Governo com os prefeitos, destinando um fundo superior a 500 milhões de reais para convênios com os municípios. Não descuidou de Alckmin: nomeou-o para a Secretaria Estadual de Desenvolvimento, equivalente à SEDECT do Governo do Estado do Pará.
Ana é candidata à reeleição em 2010. Mas, para este pleito e para sua sucessão em 2014, já teria um preferido: Claudio Puty seu Chefe da Casa Civil. Pela formula que – dizem – é endossada pela Governadora, Puty seria candidato a Deputado Federal em 2010 e a governador em 2014.
A candidatura de Puty a Deputado Federal causou estranheza: escantearia Suely Oliveira que foi candidata em 2006 ao mesmo cargo. Com um agravante: dos três personagens principais que criaram, endossaram e articularam a candidatura de Suely em 2006 dois mudaram de opinião sem qualquer balanço: a própria governadora e Joaquim Soriano, dirigente da corrente da qual Puty, Ana e Sueli participam.
Sequer o argumento de que um candidato do governo bem votado seria bom para o Partido sensibilizou os corações dos dirigentes das demais correntes petistas. Na avaliação deles, uma candidatura construída a partir da atração governamental só se estabelece através da predação de bases alheias. No máximo lhes garante uma eleição, não uma carreira.
Sob o argumento de “calçar” a governadora para eventuais prévias em 2010, o GT da DS lançou a campanha de 30.000 filiações para “emparedar” o Campo Majoritário. Os números são contraditórios, mas tomando por base a melhor avaliação da DS e a pior do Campo, no máximo pode-se especular que a chapa da governadora vai de 20% em 2007 para 25% em 2009, no PED que se realizará em novembro. Mas, considerando que o Campo Majoritário não vai disputar as prévias e a solução heterodoxa pouco interessa ao conjunto do PT, há um senão nessa campanha de filiação. O mote não é Ana Júlia em 2010. É Claudio Puty em 2014.
As reações ao “Projeto2014” não foram de estranheza. Foram de indignação. Um recado foi mandado à DS: “No PT tem fila. Quem quiser ser candidato pegue sua senha e espere sua vez”.



Pequena nota: vou tratar de um assunto que não cabe no texto acima e não vi qualquer menção a ele aqui no Quinta Emenda. Um jornal e alguns blogs noticiaram um bate-boca entre Suely e Puty no Aeroporto de Marabá. Dois secretários de Estado em duelo verbal em público já é uma cena por demais bizarra. Ainda mais bizarro é um se esgoelando e outro calado (ou balbuciando alguma coisa sem chance de se defender). Se esse fato aconteceu, pela circunstância e pelo conteúdo, alguma coisa está errada no Governo. Suely, na hipótese mais branda, deveria ser chamada pela Governadora a se explicar e a explicar o que supostamente foi dito no salão do aeroporto – especialmente no que tange aos projetos políticos do núcleo duro. Na pior das hipóteses, caberia a exoneração, pois há indícios de insubordinação nesse ato. Mas não acredito que essa escaramuça de fato tenha ocorrido. O espaço apropriado para aquilo que o povo chama de “lavagem de roupa suja” foi a Conferencia da Democracia Socialista. Lá Suely e seu grupo, ao contrario de 2007, não lançou documento, seus embates foram dentro do razoável e não houve disputa das “posições de poder” dentro da tendência. Aliás, tudo correu dentro do maior consenso possível.


Dedinho

E a governadora acabou não falando com o presidente.
Deve-se o fato, segundo fontes do Palácio, ao pequeno acidente que foi vítima ao sair do carro, antes do encontro. Na hora de fechar a porta, deixou um dedo no meio do caminho, e pimba!: quebrou-o.
O encontro foi remarcado para a próxima quarta.


Foi a peso de muita gritaria que a governadora Ana Julia entregou na segunda feira - depois de mais de trinta dias esperando uma vaga na sua agenda nunca divulgada - uma nova alternativa de tráfego para a travessia do Marajó, através de um contrato com a empresa Henvil, que por sua vez locou o catamarã Álamo.
A viagem inaugural durou duas horas e meia, dez minutos a mais que uma viagem que fiz na velha banheira "Comandante Marcos", da Arapariu, na época em que a velha embarcação possuia um flap na popa e mantinha sua velocidade no nível 10.
Hoje, sem flap e no nível 7, pra economizar combustível, faz a travessia em pouco mais de 3 horas.
A medida encurtou em meia hora a demanda dos turistas, com base nas condições anteriores do Cmte. Marcos, o que já é alguma coisa, embora os problemas do bi-modal deverão continuar.
O gerente executivo do Plano Marajó, Marcio Mamede, da Seir, que se reporta ao blog ao estilo de um bicheiro, está feliz da vida.
Eu não estaria, depois de dois anos e meio, mais trinta dias de agenda, por meia hora a menos, pagando o dobro.
Falta agora pegar no gogó das companhias de navegação, justamente as que levam e trazem os pobres e trabalhadores. Essa o Mamede vai esperar sentadinho, quietinho, bonitinho.

Juca,

Participei das negociações (por parte do governo do estado) desde o início (em 2007), na tentativa de resolver a questão do transporte para o Marajó. Hoje não estou mais no governo por questões de ordem profissional. No entanto, posso lhe garantir que a visão que tínhamos (e creio que ainda temos) no governo, era de que o problema do turismo no Marajó é de ordem complexa e exige uma solução estrutural mais ampla (com medidas consistentes de curto, médio e longo prazo).

O transporte, sem dúvida nenhuma, é um dos elos fundamentais para qualquer atividade turistica, o que dizer do caso do Marajó. Porém não é único, e nem, talvez, o mais importante...!? A nossa proposta sempre foi a de estruturar parcerias e fazer planejamento para o desenvolvimento do turimo de forma mais completa e sistêmica possível: chamando o segmento turístico (membros do Fomentur)e a sociedade para alcançar soluções em conjunto e assumir também responsabilidades com um projeto coletivo de curto, médio e longo prazo.

Creio que, com isso, iniciamos uma nova forma de lidar com o problema que se arrastava por anos sem solução; e que agora, creio eu, começa a deslanchar. Instalamos fóruns na região do Marajó (por meio de grandes esforços da Paratur e da Seir), e dialogamos muito com todos os envolvidos na questão. O acordo, vou confessar, não foi fácil (tanto é que demoramos mais de dosi anos). Mas, no entanto, creio eu, conseguimos finalmente avançar de forma mais consistente. Hoje acho que estamos começando a ver o problema de um outr ângulo!

Isso só foi possível a medida em que todos puderam perceber (com o tempo, através das discussões..)que sem comprometimento de ambos os lados (governo e sociedade civil) não se conseguiria avançar para uma solução do problema!! Assim, todos se comprometeram a fazer a sua parte!! O governo, com grande empenho do Cezar (da CPH), da Ann (Paratur), de técnicos da Arcon, Paratur e AGE, entre outros (e claro, com o importante respaldo da governadora), fez esse primeiro esforço, e cumpriu a sua parte no que diz respeito às medidas mais emergenciais que servirão de subsídio (foi esse o acordo!) para medidas futuras mais estruturais, visando a reorganização do sistema de transporte (para o Marajó) como um todo. O setor empresarial tem metas a cumprir, daqui em diante, no sentido de viabilizar este esforço inicial do governo!! Demos um passo importante, creio eu!! No entanto, precisamos continuar aprofundando o esforço de todos no sentido de aumentar o compromisso coletivo com a causa. Digo compromiso, e não cobrança apenas!!!
Temos que expandir as melhorias nos servíços, na infraestrutura de transporte em terra e na divulgação do roteiro...
Há muito ainda por ser feito! Demos só o primeiro passo numa caminhada que promete ser longa, porém necessária...

Um forte abraço, e parabéns pelo blog.

Danilo Fernandes (ex coord da CDSE e ex secr. adj. da Segov)


Juvencio de Arruda disse...
Obrigado pos rua participação no debate, Danilo. Concordo com seus estudos, o problema é complexo. A lancha ajuda umpouco,mas enquanto esse monopólio absolutamente danoso das emporesas que fazem a, digamos, linha dos pobres, a questão pouco avançará pois, tens razão de novo, o transporte para a ilha é um problema.
Se nos dirigirmos aos restante dos municípios, a situação é pior, bem sabes. Navios imjndos, superlotados, com cargas perigosas, em fiscalização, enfim...a questão é tão ampla quanto grave, e antiga, Danilo, muito antiga.
Desejo boa sorte aos que tentam melhorar a situação.
Obrigado e um forte abs pra vc também.