quarta-feira, 17 de junho de 2009

BLOG DO FABIO CASTRO EX SECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO

O sono dos secretários justos
A curiosa reação dos amigos tende, nas circunstâncias de deixarmos de ocupar um cargo como o de secretário de estado, a preocupar-se como nosso ânimo. Agradeço a todos, que foram inúmeros – e mesmo não sabia que eram tantos! - mas... ora, sejamos republicamos, nenhum cargo público nos espelha inteiramente e as moscas azuis que se estatelam contra os espelhos são, com efeito, umas criaturinhas sempre, e com excesso, ridículas. Ademais, o cargo de secretário de comunicação, vértice de todas as disputas e aposto de uma área da qual, como se sabe, todos muito entendem, ainda que não entendam nada, é um posto extremamente difícil.
Bom, meus amigos, o alívio é imenso. Tenho consciência de que fiz o melhor que pude e que estive sempre a postos, com franqueza, coragem, bom humor, honestidade e sobretudo fidelidade aos meus fornecedores, clientes, amigos, colegas de governo, de tendência e de partido. E posso dormir o sono dos secretários justos.

Questões de Estado
Deixei de ser secretário de comunicação na terça-feira dia 19 de maio de 2009, exatos e curiosos dois depois de minha última postagem no Hupomnemata. Acabava de retornar de uma viagem à Vitória, Espírito Santo, onde fora participar, a convite da Câmara Municipal dessa cidade, de uma audiência pública a respeito da Conferência Nacional de Comunicação. Já ao religar o celular, saindo do avião, recebi uns vinte telefonemas ou mensagens perguntando se era verdade o caso. Rumei diretamente para o Palácio dos Despachos, onde me deram o recado de que a governadora Ana Júlia desejava falar comigo. Reuni-me com ela às 18h, mais ou menos e seguiu-se uma belíssima conversa.
- O que a senhora está dizendo é que eu vou voltar a ser gente¿
Resgatei uma das deliciosas gargalhadas da minha governadora. Recusei a oportunidade (valiosa) de ocupar o cargo de secretário adjunto de cultura, para o qual AJ me convidou, considerando meu interesse e minha participação no campo da cultura, muito mais antiga que minha ação no campo da comunicação. Mesmo porque a pessoa que ocupa o cargo, me parece que provisoriamente, é competentíssima. E propus que pudesse me ocupar da Conferência Estadual de Comunicação e dos projetos de comunicação popular e comunitária que comecei a desenvolver na Secom – já que, como disse a governadora, a secretaria precisaria se concentrar nas ações de marketing nesta nova etapa.
Nos dias que se seguiram estabeleci um diálogo com a governadora e alguns membros do governo organizando minha saída e a entrada do Paulo Roberto Ferreira no cargo. Nesse debate minhas novas funções no governo foram enriquecidas, digamos assim, na direção de criarmos um Núcleo de Comunicação Política, vinculado ao Gabinete e a Casa Civil do Governo, que passasse a se ocupar de um conjunto de ações necessárias e estratégicas no campo da análise de conjunturas e construção de elementos narrativos.



Imperativo categórico
Não se espere que se venha a falar, indiscretamente, sobre o governo do qual participei e participo. Em primeiro lugar porque a confiança que se nos é depositada, em qualquer situação da vida, mais ingrata ou menos ingrata, exige a retribuição da discrição – até que possa se tornar - por si mesmo, bem entendido - história. Em segundo lugar, porque minha fé no coletivo é profunda, e ela postula que a condição de ser ou ter sido secretário de estado só se torna relevante diante dos projetos comuns e coletivos. Para mim, essas coisas são “imperativos categóricos” - no sentido kantiano do termo. Ou seja, coisas impossíveis de serem questionadas, coisas que nem mesmo à razão se submetem.
Não obstante, precisarei falar aqui de comunicação, e para isto conto usar e duvidar da experiência que referi acima. Trata-se de uma fé didática. Precisamos ensinar a sociedade a se defender de sua mídia. E precisamos aprender com ela a nos defendermos de nossa mídia – da que nos envolve e da que produzimos.


Retomada
O último post publicado neste blog data de pouco mais de dois anos atrás. Nele suspendo as atividades do blog por ocupar um cargo público que exigia absoluta suspeição – e suspensão – de toda individualidade. Isto passado, retomo o blog com os mesmos princípios e objetivos de antes. E talvez mais alguns, que decorrem da experiência fabulosa de ter sido, por dois anos, secretário de estado de comunicação e que se associam às novas pesquisas que pretendo iniciar e aos novos compromissos que essa experiência me deu.

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