terça-feira, 30 de junho de 2009

POLITICA NACIONAL

Senado 'reage' a Sarney com covardia corporativa
Moreira Mariz/Ag.Senado
Submetidos a um discurso em que José Sarney não anunciou uma mísera providência prática, os senadores reagiram com heróica passividade.
A maioria dos colegas que se pronunciou nas pegadas da fala de Sarney se permitiu dar um voto de confiança ao nada.

Ao dar crédito ao inacreditável, os senadores como que autorizaram a platéia a crer na crença de descrer.
De resto, quem acredita piamente no que não merece crédito se descredencia para piar depois.
Nada mais deletério do que a lamentação depois do fato.
Entre todos os que levaram os lábios ao microfone só Demóstenes Torres (DEM-GO) permitiu-se chamar a encrenca pelo nome correto.
“Temos problemas não só de vícios. Temos a prática clara de delitos aqui dentro [...]. Se há crimes, tem que ir para a cadeia quem cometeu os crimes”.

Demóstenes apontou o caminho das pedras: “O Ministério Público tem que ser chamado. A Polícia Federal tem que ser chamada”.
Mas mesmo Demóstenes soou condescendente ao se referir a Sarney. Deu-lhe um imerecido crédito de confiança:
“Vi com satisfação o discuso do presidente Sarney. Estou no aguardo das providênciais que vai tomar. Por quê?...”
“...Um homem com mais de 50 anos de vida pública, ex-presidente da República, só no Senado presidente três vezes, não pode compactuar com o erro, com o crime”.

Ora, Sarney não se limitou a coonestar os erros. Ajudou a criá-los. Beneficiou-se deles. Afastou Agaciel Maia por pressão, não por obrigação. Protege-o.
Sérgio Guerra, presidente do PSDB, também tratou Sarney como parte da solução, não do problema.
Disse que o Senado não está livre da “corrupção”. Ostenta uma estrutura inchada e inadequada. A certa altura, pronunciou a frase fatídica:
“Já falei sobre a crise com o presidente Sarney, que faz enorme esforço de superá-la”.
Afirmou também: “Não gosto de demissão de diretores. Eles não decidem nada sozinhos. Alguém decidiu com eles. Tem que ser punido também”.
Em seguida, o grãotucano se desdisse: “Mas não estou no capítulo da punição, do retorno ao passado. Estou preocupado com a construção de um Senado novo”.
Acrescentou: “Não dá para andar na rua e não poder dizer que é senador sem ser respeitado”.
Ora, como respeitar um Senado que deseja construir o novo sobre alicerces podres? Como olhar para o futuro sem punir o passado bandalho?
Aloizio Mercadante, líder do PT, falou do milagre –os 14 anos de Agaciel Maia— sem mencionar os santos –Sarney e Renan Calheiros, padrinhos do ex-diretor-geral.
Repisou uma proposta sensata: a imposição de um mandato para os superdiretores do Senado. Dois anos, renováveis por mais dois.
Dirigindo-se a Sarney, Arthur Virgílio, líder do PSDB, disse: “Não o julgarei pela nomeação de um neto”. Por que não?
Depois, concordou com Mercadante. Fustigou Agaciel Maia, um personagem incontornável. E tirou uma casquinha de Sarney. Coisa leve:
“No dia da sua eleição, quando admitiu que manteria o diretor-geral e o manteve, eu disse que não era adequado. E ficou provado que não havia condições de manter”.
Enxergou no discurso de Sarney uma certa anormalidade: “Não dá para entendermos como normal, que o presidente da Casa tenha de prestar contas”.
Mas viu no pronunciamento algo que a platéia talvez não tenha enxergado. Para Virgílio, Sarney “agiu de maneira presidencial”.
“Espero sinceramente que estejamos no caminho de encerrar a crise”.

Informou a Sarney que a bancada do PSDB apresentará um projeto fixando o mandato do diretor-geral. Sarney, que ouvia do plenário, aquiesceu: “Eu concordo”.
Numa evidência de que o PSDB é um aglomerado de amigos integralmente composto de inimigos, o tucano Papaleo Paes (AP) tratou de desdizer o seu “líder”.
Virgílio dissera: “Temos que colocar na cabeça que tem uma crise grave no Senado, que tem de ser enfrentada”.
Para o liderado Papaleo a crise não passa de invenção da imprensa: “Dizem que tem atos secretos. Por que denominaram assim?...”
“...Não existe nenhnum ato secreto. Pode haver falha técnica de funcionários. Todos esses cargos existem na Casa. As nomeações são corretas...”
“...Não há corrupção, malfeitoria de administradores. Eles falharam. Se alguém precisa ser punido. Que seja punido”.
Sarney tem responsabilidade? Claro que não. Trata-se de um “grande político, intelectual, homem que tem inteligência muito acima do normal”.
Pedro Simon, que em privado falava até da renúncia de Sarney, na tribuna apenas soprou: “A imprensa está cobrando...”
“...As manchetes batem no Sarney, na Mesa, atiram pedras. Não estou preoupado com isso hoje. Estou preocupado em mudar a imagem dessa Casa”.
O que fazer? Para Simon, basta que os atos da Mesa diretora passem a ser submetidos ao penário. Mas já não são? Sim, mas ninguém sabe o que está votando.
“O presidente Sarney diz que a culpa não é dele, é de todo o Senado. Eu digo: a culpa é minha. Os erros acontecem pela nossa ação ou pela nossa omissão. Eu sou coresponsável”.
Ficamos entendidos assim: Sarney não tem culpas a purgar. O responsável é Pedro Simon, um réu confesso! E todos os que, como ele, incorrem no pecado da omissão.

‘A crise é do Senado, não é minha’, diz José Sarney

A reputação de um político corresponde à soma dos palavrões que ele inspira nas mesas dos botecos.
Alvo dos mais desairosos comentários, José Sarney subiu à tribuna. Falou muito. Disse pouco, quase nada.
Tomado no seu conjunto, o discurso (íntegra aqui) rende, no máximo, material para um epitáfio. Uma lápide inspirada no Barão de Itararé:
“Aqui jaz um brasileiro que viveu às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas”.

No exercício de sua terceira presidência, Sarney teria bons motivos para avocar para si a responsabilidade pela crise, um pedaço que fosse.
Acha, porém, que a encrenca não lhe diz respeito: “A crise do Senado não é minha, a crise é do Senado”.
Na sua primeira presidência, em 1995, Sarney nomeou para a diretoria-geral Agaciel Maia, a quem se atribui o mafioso mecanismo da administração secreta.
Sarney passou uma borracha no passado: “Nenhum desses atos são da minha gestão”. E tratou de converter os malfeitos em obra coletiva:
“Todos nós somos responsáveis. Nós aprovamos aqui os atos da Mesa. O Senado, no seu conjunto, aprovou”.

Nos 14 anos da era Agaciel, o Senado editou algo como mil atos administraivos secretos.
Sarney deu à afronta constitucional a aparência de um deslize: “Não sei o que é ato secreto...”
“...O que pode ter é irregularidade da entrada em rede ou não de atos de administração...”
“...Tudo em relação ao passado. Nada do nosso período. Não temos nada a ver com isso”.
Sob a sombra frondosa da copa de folhas secretas caíram três frutos da árvore genealógica da família de Sarney.

Sem contar a nomeação de uma filha do amigo Silas Rondeau, foram pilhados um neto e duas sobrinhas do presidente. Sarney posou de injustiçado.
“É por isso que querem me julgar? Falta de respeito pelos homens públicos. Se temos erros, não devo deixar de ter erros. Mas esses constituem extrema injustiça”.
“É injustiça do país julgar dessa maneira um homem como eu, de vida austerta, de família bem composta [...]”.
Como um comandante de navio que se queixa do mar, Sarney reclamou da imprensa. Alvejou também empresários e corporações.
Disse que há “muita gente interessada em enfraquecer o Senado”. São “grupos econômicos, setores radicais da mídia, grupos corporativos radiciais”.
Açulou o instinto de sobrevivência dos colegas: “Nesse momento, devemos pensar no Senado. É nele que estou pensando”.
Embora já tenha em mãos o levantamento das malfeitorias secretas do Senado, Sarney não se dignou a submetê-lo ao melhor detergente: a luz do sol.
Adiou para segunda-feira a divulgação. Alegou que o primeiro-secretário Heráclito Fortes convalesce de uma cirurgia.
Com esse gesto, ganhou mais seis dias para organizar a desconversa que utiliza para lidar com a crise. Punições? Nada de concreto foi dito. Só generalidades do tipo "doa a quem doer".
O discurso de Sarney reforçou na cabeça do brasileiro, que paga a conta, a impressão de que o Senado de hoje não é mais coisa nossa. Tornou-se, por assim dizer, uma espécie de cosa nostra.

Renan aconselha Sarney a fazer do ataque a defesa
Caso dos atos secretos leva o chefão do Senado às cordas

Líder do PMDB mobiliza tropa para fazer a defesa do aliado

Tasso articula grupo suprartidário para cobrar as punições

A descoberta de que o Senado manteve por 14 anos uma burocracia secreta para distribuir favores a um pequeno grupo levou José Sarney às cordas.

Entronizado em sua terceira presidência há quatro meses e meio, o morubixaba do PMDB encontra-se acuado.

Nesta segunda (15), a palavra “renúncia” foi ouvida pela primeira vez no Senado. Pronunciou-a, em privado, o gaúcho Pedro Simon.

Dissidente do PMDB, o partido de Sarney, Simon vem soando entre quatro paredes sempre um tom acima das manifestações que se permite fazer em público.

Acossado pela crise, Sarney ruminou seus rancores ao longo do final de semana. Nesta segunda, trancafiou-se no gabinete da presidência.

Atendeu a uns poucos telefonemas. E se reuniu com dois aliados de todas as horas: os líderes Renan Calheiros (PMDB) e Gim Argelo (PTB).

Aconselharam-no a se defender atacando. Renan pôs para rodar o hardware ao qual sempre recorre quando se vê em apuros. Primeiro, identifica os inimigos: PT e PSDB.

Na sequência, esboça uma reação que se escora em dois pilares: o ataque e a chantagem. Ameaça vazar para os jornais dados que constranjam os rivais

Nas últimas semanas, Sarney dissera a amigos que estava arrependido de ter disputado a presidência do Senado com o petista Tião Viana.

Chegara mesmo a confidenciar a intenção de renunciar ao cargo em 2010, quando fará 80 anos. Depois da conversa com Renan e Argelo, Sarney mudou o rumo da prosa.

Agora, diz que vai à luta. Cogita ler no plenário uma resposta às denúncias que o lançaram no caldeirão dos malfeitos secretos do Senado.

Fala em modificar as regras daqui pra frente. Punições? Por ora, só cogita levar à bandeja a cabeça de José Grazineo, o sucessor de Agaciel Maia na direção-geral.

Caberá a Renan e Argelo executar o pedaço sujo da estratégia, que envolve o recurso à baixaria e à chantagem.

Na outra ponta, o grãotucano Tasso Jereissati organiza uma reunião suprapartidária. Fará um almoço nesta quarta (17).

Está convidando os senadores que, a seu juízo, têm disposição para confontar as mazelas que roem o prestígio do Senado.

Gente como Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Tião Viana, Cristovam Buarque, Renato Casagrande, Demóstenes Torres, Sérgio Guerra e Arthur Virgílio.

Tasso é velho amigo de Sarney. A despeito disso, participou, em fevereiro, da articulação que acomodou a maioria dos votos tucanos no colo de Tião Viana.

Nas pegadas do triunfo de Sarney, Tasso foi à presença do amigo. Levou consigo Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

Os dois aconselharam Sarney a esquecer as rugas da campanha, uma das mais encarniçadas da história. Pediram que “governasse” para todo o Senado.

Hoje, Tasso se diz “decepcionado”. Acha que Sarney tornou-se “prisioneiro” das vontades de Renan.

A idéia da reunião-almoço dos senadores que Renan identifica como “inimigos” foi urdida na noite de sexta (12).


Deu-se em Pernambuco, numa festa junina oferecida por Sérgio Guerra. Entre os mais de mil convidados, havia 12 senadores.

Acomodados na mesma mesa, Tasso e Jarbas Vasconcelos trocaram idéias sobre a encrenca do Senado.

Concluíram que o caso dos atos administrativos secretos levara a crise às fronteiras do paroxismo. Tasso mencionou a idéia de promover o encontro. Jarbas pôs-se de acordo.

“É preciso encontrar saídas”, disse Jarbas ao blog. “A gente pode ficar assistindo ao derretimento do Senado sem fazer nada”.

Para Jarbas, quem preside o Senado é Renan, não Sarney. “O Renan tem, hoje, mais poderes do que na época em que foi presidente...”

“...Renan lideran a bancada do PMDB, cerca de 16 senadores, tirando os dissidentes, e mais a bancada do PTB. O Sarney é refém do Renan”.

Nesta terça (16), o alarido que toma conta do Senado começará a ser içado dos subterrâneos para a tribuna.

Pelo menos três senadores planejam remexer o monturo dos atos secretos em discursos no plenário: o próprio Jarbas, Tião Viana e Arthur Virgílio.

A tropa da dupla Renan-Argelo promete intervir no debate. Algo que deve elevar uma temperatura que, no dizer de Virgílio, tem sido demasiado “amena”.

O líder Virgílio acusa colegas vistos pregoeiros da ética se “acocorar” diante da ameaça de abertura do baú de favores do ex-diretor-geral Agaciel Maia.

Uma divisão da tropa oposicionista favorece Sarney. José Agripino Maia, líder do DEM, não foi convidado para a reunião organizada por Tasso. Consideram-no ligado demais a Renan e Sarney.

Privadamente, Agripino diz que a reunião produzirá barulho, não soluções. Ele pretende se reunir com Sarney.


Acha que a crise exige “providências” que culminem com “punições”. Aconselhará Sarney a demitir a parentela pendurada secretamente na folha do Senado.


Contabilizados inicialmente em 300, os atos secretos saltaram para 500. Agora, diz-se que passam de mil.


Sacudindo-se os papéis, foram ao solo três frutos da árvore genealógica dos Sarney e dos Macieira, o tronco familiar de Marly, a mulher do presidente do Senado.

Reside aí o ponto fraco da pregação de Renan. A lista dos malfeitos não é obra de petistas e tucanos. Foi encomendada pelo primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM).


Eleição de 2010 será a mais disputada’, diz Serra
‘Qualquer candidato do PT é forte; é o partido do governo’

‘Ano que vem não há um candidato natural; favorito tem’

‘Depois do Lula, eu sou o mais bem avaliado do Brasil’

Na noite de sexta (12), ao chegar à fazenda do senador, no município pernambucano de Limoeiro, Serra relutou em falar aos jornalistas.

Alegou que fora a Pernambuco para um participar de uma festa, não para fazer política.

Perambulou entre os convidados, posou para fotos, servir-se de comidas típicas, cantou Baião, música de Luiz Gonzaga, ao lado do sanfoneiro Dominguinhos.

Depois, já na madrugada de sábado (13), Serra cedeu aos conselhos dos tucanos presentes e resolveu falar aos repórteres.


Serra disse que a disputa presidencial de 2010 será a mais disputa desde o restabelecimento das eleições diretas.


Disse que não há um “candidato natural”. Acrescentou: “Favorito até que tem”. Ele próprio? “Isso você só não pode dizer que fui eu que falei”.


Vão abaixo as principais declarações do candidato:


– As críticas de aliados sobre a palidez da campanha tucana: O governo de São Paulo é muito complexo [...]. É um Estado grande e e complexo. Não é fácil você ficar viajando. Por outro lado, acho que a corrida eleitoral foi muito antecipada. Não tem porque a gente entrar nessa antecipação. Agora, sempre que eu posso, eu viajo. Tenho ido, com razoável frequência, fora de São Paulo. Na média, a cada dez dias eu tenho viajado. É que às vezes, o Brasil é grande, e não parece.

– Disputa prévia com Aécio Neves: O PSDB só vai resolver mesmo em fevereiro. Janeiro, fevereiro e março do ano que vem. É muito cedo para antecipar qualquer coisa. Ou vai ser uma escolha por consenso ou, se tiver aresta, vamos aparar a aresta. O que não vai ter é divisão. Isso eu asseguro, sinceramente. Estou falando sinceramente.

- Pesquisas: É muito cedo ainda para que a pesquisa possa dar alguma coisa conclusiva [...]. O que é que eu presto atenção em pesquisa? É na avaliação que a população tem da minha atuação como homem público. Isso é o mais importante. De tudo o que eu vejo nas pesquisas, depois do Lula, eu sou o mais bem avaliado do Brasil. Não é tanto o problema de intenção de voto. É a avaliação positiva. Eu acho isso ótimo, porque estou afastado do cenário nacional desde 2002. Não tive nenhum cargo nacional, nem estou presente na mídia nacional. Portanto é uma avaliação boa. Acho que isso se deve à minha atuação passada. No ministério da Saúde, na autoria do [projeto] do seguro desemprego, no FAT. E o meu próprio desempenho em São Paulo acaba de alguma maneira irradiando.

- Prestígio entre os nordestinos: Quando eu vim [a Pernambuco] na campanha do ano passado, eu fui a uns quatro municípios e, no discurso, eu perguntava: ‘Quem tem parente em São Paulo?’ A grande maioria levantava a mão. É um Estado em que o pessoal está ligado. E eu tenho lá um enorme apoio entre as pessoas que vieram daqui ou da segunda geração. Primeira, segunda e terceira.

- Por que entoou Luiz Gonzaga? Eu sou de um bairro, em São Paulo, um bairro operário, a Mooca. Onde os Nordestinos chegavam era lá. Então, na escola, naquela época chamava jardim de infância, meus colegas, boa parte, eram do Nordeste. O que os professores ensinavam de músiva era daqui. Eu tenho um estoque, lembro perfeitamente.

- Fama de sisudo: Quem me conhece de perto sabe que sou bem humorado e tenho interesses que vão muito além de economia e política. Na vida, você tem a sua personalidade própria e a social. A personalidade social é feita pelos outros. Você não tem condições de exercer controle.

- Carisma: Eu não estou falando de carisma, que é uma coisa mais complexa. Em geral, quem tem carisma é quem ganha eleição. Ganhou a eleição, você tem carisma. Perdeu a eleição, não tem carisma. Em São Paulo, ninguém diz que eu não tenho carisma.

- Governo Lula: Vamos ter que fazer esse balanço mais para frente. Agora é indiscutível que o Lula tem uma popularidade imensa. A minha relação de governador com o presidente é boa, de cooperação.

- A força do PT e a disputa de 2010: Qualquer candidato do PT é forte. É o partido do governo. A eleição do ano que vem será a mais disputada desde que foram reestabelecidas as eleições diretas. Fernando Collor foi aquele fenômeno atípico. Fernando Henrique Cardoso ganhou e foi reeleito na esteira do Plano Real. Em 2002, eu fui bem, afinal de contas tive grande votação, mas estava claro que o país queria o Lula. No ano que vem não há um candidato natural. Favorito até que tem. Mas vai ser uma eleição mais disputada. E o Lula não vai ser candidato no ano que vem. Aí é que nós vamos ver!

- Considera-se favorito? Isso você só não pode dizer que fui eu que falei.



Sem acordo, CPI da Petrobras é comissão natimorta’
Ag. Senado




Depois de dois adiamentos, a instalação da CPI da Petrobras foi marcada para o meio-dia desta quarta (10). Não será instalada, contudo.



A exemplo do que fez na semana passada, a bancada do governo decidiu esvaziar a sessão. Na linha de frente da articulação, Aloizio Mercadante falou ao blog.



O líder do PT condicionou o início da investigação da Petrobras à devolução da relatoria da CPI das ONGs ao governista Ignácio Arruda (PCdoB-CE).



Disse que, mantido o impasse, nenhuma das duas CPIs irá adiante.



“Sem acordo, uma CPI, a da Petrobras, é comissão natimorta. A outra, das ONGs, fica inviabilizada porque não daremos quorum para deliberação”. Vai abaixo a entrevista:







- Por que não será instalada a CPI da Petrobras?

Criou-se um impasse. A oposição contribuiu decisivamente. Eles sabem que não podem fazer o estão fazendo.

- Refere-se a troca do relator da CPI das ONGs?

Sim. Fizemos um acordo. Honramos. Demos a presidência da CPI das ONGs para a oposição. Ficamos com a relatoria. O presidente era o Raimundo Colombo [DEM-SC]. No ano passado, quiseram trocar. Indicaram o Heráclito [Fortes, DEM-PI]. Elegemos novamente o presidente deles. Não é admissível que queiram afastar o relator do nosso bloco [Ignácio Arruda, PCdoB-CE], nomeando outro [Arthur Virgílio, PSDB-AM].

- Não é prerrogativa do presidente da CPI indicar o relator?

Formulamos uma questão de ordem. Cabe ao presidente responder. Se ele nega, podemos recorrer ao plenário da CPI. Em última instância, ao plenário do Senado.

- Se aceitou compartilhar o comando na CPI das ONGs, por que o governo não aceita que o presidente da CPI da Petrobras seja da oposição?

Podemos fazer acordo numa comissão e não fazer na outra. Antes da formalização da CPI, houve um acordo. Seria feita uma audiência pública com o presidente da Petrobras. O PSDB rompeu esse acordo. Temos a prerrogativa de não compartilhar o comando da comissão. Chegamos a um impasse.

-As duas CPIs ficam inviabilizadas?

Corre-se esse rico. Sem acordo, uma CPI, a da Petrobras, é comissão natimorta. A outra, das ONGs, fica inviabilizada porque não daremos quorum para deliberação.

- Estão dispostos a transigir?

Se não recuarem nas ONGs, não há como. Somos maioria. Nos oito anos de FHC eles nunca nos deram presidência ou relatoria de CPIs.

- PT e PMDB já se entenderam quanto aos nomes do relator e do presidente?

Não voltei a tratar desse assunto. Mas na hora em que recsolver o impasse das ONGs isso também se resolve.

- É verdade que sua relação com Renan Calheiros é conturbada?

Diferenças pessoais e políticas entre líderes partidários são próprias da democracia. Os meus compromissos com esse governo estão muito acima dessas diferenças. Então, vou trabalhar para superá-las.

- Lula disse que chamaria os dois para uma convera. Foi chamado?

Não. Mas ele já conhece a minha opinião. Acho que o relator da CPI deveria ser alguém que tenha consistência para tratar de um tema complexo e sensível como é a Petrobras.

- Essa pessoa é o Romero Jucá?

Creio que é um nome adequado. É o líder do governo, tem experiência parlamentar e vivência de política publica. Preenche as condições para ser um bom relator.

- Não receia que a obstrução da oposição paralise o Senado?

Não. Agora é véspera de feriado. O quorum está baixo. Na semana que vem vai ter quorum é vamos votar. Obstrução tem limite. Vai chegar a medida provisória do programa Minha Casa, Minha vida. Eles vao derrubar? O Lula vai dizer: estávamos querendo fazer um milhao de casas e não será mais possível porque a oposição não deixou aprovar a legislação. Acha que a oposição sustenta uma posição como essa?

- Os sucessivos adiamentos não passam a idéia de que o governo receia a investigação da Petrobras?

Não se trata disso. O que se discute é que tínhamos um acordo na CPI das ONGs. Eles não tem legitimidade, votos e amparo regimental para destituir o nosso relator.

- Não há o que ser investigado na Petrobras?

A melhoria do padrão de gestão da empresa é uma boa agenda. Mas não é isso o que querem. A Petrobras está se transformando em palco de disputa política.

- Não crê na sinceridade de propósitos da oposição?

Se o PSDB acha que CPI é o caminho para aprimorar a Petrobras, por que não tem CPI em São Paulo? Por que não instalam a CPI para investigar o governo gaúcho? No Senado, eles tem assinaturas para instalar CPIs. Só acho que o debate é outro.

- Qual é o debate?

A grande questão é: O que vamos fazer com o pré sal? As reservas serão mantidas sob controle do Estado ou vão continuar sendo privatizadas pelo regime de concessão? Como vamos repartir os royalties do petróleo?

- Acha que a investigação impede esse debate?

Em 74, a Venezuela descobriu suas megareservas. Celso Furtado escreveu um ensaio. Dizia que o futuro da Venezuela dependia da discussão que fosse feita naquela época sobre o petróleo. Seria a primeira nação desenvolvida da América Latina ou ficaria prisioneira do petróleo. Uma visão profética. Aqui, considerando-se o desvirtuamento do debate sobre a Petrobras, corremos o risco de cometer equívocos semelhantes.



- PS.: Leia aqui entrevista do líder tucano Arthur Virgílio sobre o mesmo tema.




‘Se nos negarem a CPI, vamos ao Ministério Público’
Antônio Cruz/ABr
Acomodado no posto de relator da CPI das ONGs, Arthur Virgílio tornou-se a principal desculpa do governo para postergar o início da investigação da Petrobras.



A despeito disso, o líder tucano não cogita desocupar a cadeira que ocupou na semana passada. Prefere responder à tática governista com a obstrução.



Em entrevista ao blog, disse que o adiamento da CPI da Petrobras “é inútil”. Afirma que o tucanato está colecionando dados sobre malfeitos praticados na estatal.



“Já temos muitas denúncias. Estão sendo sistematizadas por uma equipe técnica. São denuncias sérias”.



Acrescenta: “Se nos negarem a CPI, vamos ao Ministério Público”. Leia abaixo a entrevista:







- Como vai funcionar a obstrução ensaiada pela oposição?

Será feita onde aparecer oportunidade para fazê-la, no plenário e nas comissões.

- Há limites?

É óbvio que tem limites. Será uma obstrução seletiva. Não cairemos na armadilha que o governo costuma armar. Se aparece alguma matéria de interesse nacional, não ficaremos numa camisa de força.

- Vão obstruir a medida provisória do programa Minha Casa, Minha vida?

Não há porque obstruir uma matéria como essa. Não somos doidos. Mas também não quer dizer que precisamos votar para ontem. A medida provisória tem tempo. Não é nenhuma sangria desatada. Vamos ver o que é preciso corrigir. Não existe projeto perfeito. Além disso, não tenho porque acreditar que o impasse perdure além do tempo de validade dessa medida provisória.]

- Acha, então, que o impasse será superado?

Creio que sim. É uma irracionalidade. Eles dizem que nós faltamos com a palavra. Na semana passada, aceitamos adiar a instalação da CPI da Petrobras mediante o compromisso do líder do governo [Romero Jucá, PMDB-RR] de que ela começaria a funcionar nesta quarta. Independentemente do que ocorresse na CPI das ONGs. Está registrado nos anais. Basta consultar as notas taquigráficas.

- Acredita que será instalada?

Não será. Eles vão protelar mais uma vez. Marcaram para o meio-dia. Sabem que os companheiros deles arranjaram passagem para deixar Brasília antes das 11h.

- O que fazer?

Além de recorrer à obstrução, que nos é facultada pelo regimento, temos o caminho do Procuradoria. Se nos negarem a CPI, vamos ao Ministério Público.

- Tem o que levar à Procuradoria?

Já temos muitas denúncias. Estão sendo sistematizadas por uma equipe técnica. São denuncias sérias. É inútil eles ficarem nessa luta inglória pelo adiamento da CPI. A gente leva tudo para o Ministério Público.

- Essa decisão está tomada?

Sem dúvida. Faremos isso nas duas CPIs, a das ONGs e a da Petrobras.

- O governo alega que a oposição rompeu o acordo na CPI das ONGs?

O argumento é furado. Eles acham bonito ter os dois postos de controle na CPI da Petrobras e acham ruim a gente ter os dois na outra. Fomos obrigados a ter o controle nas ONGs porque há dois anos que eles estão enrolando, sem investigar nada. Hoje apresentei roteiro de trabalho completo.

- Esse roteiro inclui apurações engavetadas?

É basicamente o que estava engavetado. Considerando-se as apurações sugeridas, a CPI das ONGs é ótima. Sob o ângulo do que foi providenciado ela não existiu.

- Aloizio Mercadante condiciona a instalação da CPI da Petrobras à devolução da relatoria das ONGs à oposição. Insiste em que houve quebra de acordo.

O que o Aloizio não diz é que eles estão quebrando uma praxe. Nós somos o bloco de maior bancada. PSDB e DEM tem 27 senadores. Pela proporcionalidade, temos direito a um dos postos de comando nas CPIs. Ao negar esse direito, eles criam um clima selvagem no Senado. Tinham tanto respeito pela praxe que concordaram em compartilhar a CPI das ONGs. Agora, como pintou outra CPI que é vista como capital para eles, não querem mais compartilhar. Só há uma razão para isso.

- Que razão?

Tenho a impressão de que eles tem medo de que a gente saiba mais do que realmente sabemos. E o que a gente sabe já é de meter medo.

- O que a oposição sabe?

Já levantamos um histórico da empresa. Já sabemos quem é sério e quem não é. Tanto que o tal petista Guilherme Estrella [diretor de Exploração e Produção da Petrobras] nós decidimos ressalvar. É pessoa direita. Não temos o que dizer dele. Não podemos dizer o mesmo de outros personagens.

- Por exemplo.

Não temos a mesma confiança em relação a Paulo Roberto Costa [diretor de Abastecimento], Renato Duque [diretor de Serviços] e Wilson Santarosa [gerente-executivo de Marketing]. Esses, por exemplo, nós estamos olhando com lupa. Não merecem de nós a mesma confiança que depositamos no doutor Estrella.

- O que há de concreto nessa sistematização de denúncias?

É muita coisa. Na hora própria, vai aparecer. Instalada a CPI, vamos entrar com dezenas de requerimentos. Inviabilizado esse caminho, vamos ao Ministério Público.

- O PT diz que, sob FHC, não teve nem presidência nem relatoria de CPI.

O argumento é pueril. Nessa época, eles só tinham oito senadores. Eram do tamanho do PTB de hoje, que tem sete. Os partidos que tinham o direito de participar do comando de CPIs eram o DEM, então PFL, o PSDB e o PMDB. Eles queriam o quê? Seria o mesmo que exigir agora que o PTB presida ou relate CPIs. A comparação é exdrúcula. Juntos, PSDB e DEM tem 27 senadores.

- Mercadante alega que a oposição quer CPI em Brasília e bloqueia CPIs em São Paulo e no Rio Grande do Su. Verdade, não acha?

Esse é outro velho argumento do PT. São adeptos da seguinte teoria: eu não te investigo e tu não me investigas. Essa é uma pergunta que o Aloizio Mercadante tem que fazer aos deputados estaduais desses Estados, não a mim. Perguntem ao governador [José] Serra, à governadora Yeda [Crusius], pra mim não. Se for necessário fazer CPIs nesses Estados, que façam. Não tenho nada contra. Diziam que não teve CPI no governo FHC. Houve 21 em oito anos. Uma delas, a do Proer, investigou até o Banco Central.

- O que acha do argumento de que a CPI obscurece o debate do pré-sal?

Esse debate é relevante e não tem porque ser evitado. Temos tanto cuidado com o pré-sal que estamos preservando o diretor dessa área, o doutor Guilherme Estrella. O que não aceitamos é que, a pretexto de privilegiar o debate estratégico, fechemos os olhos para a o aparelhando da Petrobras. A turma lá continua malversando com essa conversa de pré-sal. Não aceitamos que se coloque acima da lei uma empresa que deve respeito às leis.

- O PSDB quer privatizar a Petrobras?

Não. É o contrário disso. Queremos reestatizar a empresa. Queremos evitar que ela vire uma PDVSA [a estatal petrolífera da Venezuela] Já investigamos o presidente Lula no mensalção, investigamos o presidente Collor no impeachment. Por que a Petrobras não pode ser investigada? A empresa por acaso virou o dogma da Virgem Maria?

- Receia que CPI nem seja instalada?

Por ora, não chego a tanto. Até porque vai chegar uma hora em que os fatos vão se impor às manobras.

- Trabalha com a hipótese de abrir mão da relatoria da CPI das ONGs?

Não. Eles, se quiserem, que perpetrem a violência. Podem fazer, dispõem de número para isso. Mas não será com a nossa concordância. Mostramos um plano de trabalho. Talvez não sejam capazes de cumpri-lo. Mas não terão como fugir dele.





PMDB cobiça agora presidência da BR Distribuidora
Antônio Lacerda/Efe
Sob a liderança de Renan Calheiros (AL), o PMDB do Senado inaugurou uma articulação silenciosa para tentar obter um novo cargo na Petrobras.



A turma de Renan ambiciona agora a presidência da BR Distribuidora. Um posto ocupado, por ora, pelo petista José Eduardo Dutra.



Prestes a ingressar na disputa pela presidência do PT, Dutra terá de deixar a subsidiária da Petrobras até o final de julho. Daí o olho grande do PMDB.



Fiel da balança na CPI da Petrobras, a ser instalada nesta quarta (10), o grupo de Renan havia insinuado interesse por outro cargo.



Desejava a diretoria de Exploração e Produção da Petrobras, responsável pelas jazidas do pré-sal. Dilma Rousseff pôs o pé na porta.



A chefe da Casa Civil, disse que a substituição de Guilherme Estrela, o petista do pré-sal, estava fora de questão.



No último final de semana, o ex-Campo Majoritário, grupo de José Dirceu e Antonio Palocci, decidiu empinar o nome de Dutra como opção para presidir o PT.



A eleição do sucessor de Ricardo Berzoini, atual presidente da legenda, será em 22 de novembro. Mas o registro das chapas terá de ocorrer em julho.



A simples menção da hipótese de Dutra ter de deixar a BR Distribuidora reassanhou o PMDB. O partido acha que está subrepresentado no organograma da Petrobras.



A tribo dos peemedebês controla duas cadeiras de realce. O ex-senador Sérgio Machado (CE), foi plantado por Renan na presidência da Transpetro.



Jorge Zelada, foi à diretoria Internacional da estatal petroleira como representante do PMDB da Câmara. E ficou nisso.



O PT gere o filé mignon. Além de Estrella e Dutra, acomodou Sérgio Gabrielli na presidência e Maria das Graças Foster na diretoria de Energia.



Mais recentemente, o petismo acomodou Miguel Rosseto, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, na cadeira de presidente da Petrobras Biocombustíveis.



“É óbvio que esse quadro não faz justiça ao peso do PMDB no Congresso”, disse ao blog, na noite desta segunda (8), um soldado da bancada de Renan.



A movimentação subterrânea ocorre nas pegadas da decisão de Lula de chamar Renan para uma conversa sobre os rumos da CPI da Petrobras.



Oficialmente, o PMDB nega interesse pelo cargo de Dutra. Também negava que cobiçasse a diretoria de Estrella. Assim joga o time de Renan.



Não reivindica, insinua. Não pede, ameaça. Não pisa o centro palco, se esgueira pela coxia.



Na CPI, o PMDB dispõe de três cadeiras. Um delas, é ocupada por Romero Jucá (RR). Líder de Lula, é mais fiel ao governo do que a Renan.



Restam dois votos. Que somados ao de Fernando Collor (PTB-AL), hoje de bem com Renan, convertem-se em três.



Numa comissão de onze membros, uma eventual sublevação desse grupo levaria a oposição –dois votos do PSDB e um do DEM— a fazer maioria de seis contra cinco.




Grupos do PT abrem guerra pelo comando do partido

Saída de Gilberto Carvalho da disputa reacendeu divisões

Ao menos 4 ‘tendencias’ ambicionam o cargo de Berzoini

Grupos de Dirceu e Tarso Genro vão medir forças de novo

Ao vetar a participação de Gilberto Carvalho, seu chefe-de-gabiente, na disputa pela presidência do PT, Lula incendiou o partido.

Sondagens informais indicavam que Carvalho iria à disputa interna com chances de unificar as diversas tendências que se espremem sob o guarda-chuva do PT.

Sem ele, a perspectiva de unidade se esvaiu. Por ora, pelo menos quatro grupos manifestam a intenção de disputar o cargo de presidente do partido.

A eleição está marcada para 22 de novembro. Está em jogo a renovação dos diretórios em três níveis: nacional, estadual e municipal.

O cargo mais vistoso é o de presidente nacional. Hoje, é ocupado pelo deputado Ricardo Berzoini (SP). O substituto terá mandato de três anos.

A perspectiva de dirigir a legenda no ano eleitoral de 2010 e no alvorecer do governo que sucederá o de Lula tonifica a ambição dos contendores.

A disputa mais aguerrida será travada entre o ex-Campo majoritário, tendência do ex-ministro José Dirceu, e o Mensagem ao Partido, grupo do ministro Tarso Genro.

Já mediram forças em 2007. A turma de Dirceu prevaleceu. E Berzoini, embora tisnado pelo affair dos aloprados do dossiê antitucanos, foi reconduzido à presidência.

Ao grupo de Tarso restou acomodar o deputado José Eduardo Cardozo na secretaria-geral do PT, o segundo cargo mais importante da hierarquia partidária.

Para essa disputa de 2009, os candidatos ao diretório nacional terão de registrar suas chapas até o próximo dia 25 de julho.

Pelo menos quatro tendências petistas esboçam a intenção de entrar na briga. São as seguintes:

1. Ex-Campo Majoritário: Rebatizado de CNB (Construindo um Novo Brasil), o grupo de Dirceu e Antonio Palocci controla algo como 40% dos votos dos filiados do PT.

O ex-Campo reuniu-se na sexta (5) e no sábado (6), conforme já noticiado aqui. Sem Gilberto Carvalho, decidiu fixar-se no nome do ex-senador José Eduardo Dutra (SE).

Vem a ser o atual presidente da BR Distribuidora. É subsidiária da Petrobras, a maior distribuidora de combustíveis do país. Deve deixar o cargo em julho.

2. Mensagem ao Partido: Criada na fase pós-mensalão sob o lema da renovação ética, a tendência de Tarso Genro amealhou em 2007 algo como 20% dos votos do petismo.

Cogita relançar o atual secretário-geral José Eduardo Cardozo ao cargo de presidente. O êxito da empreitada depende de alianças com outras tendências minoritárias.


3. Articulação de Esquerda: O integrante mais buliçoso desse grupo é Valter Pomar, atual secretário nacional de Relações Internacionais do PT.

Pomar torce o nariz para os dois Josés –o Eduardo Dutra, dodói do ex-Campo Mojoritário, e o Martins Cardozo, opção do Mensagem ao Partido.

-se o lançamento da candidatura da deputada Iriny Lopes (ES). Sozinho, o Articulação de Esquerda padece da inanição.

Controla cerca de 10% do cesto de votos do petismo. Numa escala de zero a dez, a chance de eleger o sucessor de Berzoini é menos um. Porém...

Porém, num eventual cenário de placar apertado, os votos da Articulação de Esquerda podem vir a ser disputados como uma espécie de última coca-cola do deserto.

4. Movimento PT: Essa corrente cogitava alinhar-se à candidatura de Gilberto Carvalho. Com o veto de Lula, passou a flertar com uma opção própria.

Há uma disputa interna no grupo. A favorita é a deputada Maria do Rosário (RS), candidata derrotada à prefeitura de Porto Alegre no ano passado.

Corre por fora o também deputado Geraldo Magela (DF), candidato derrotado ao governo do DF em 2006.

O Movimento PT, por minúsculo, tem algo como 8% dos votos do petismo. Porém, na disuta de de 2007, escalara a casa dos 20% graças a uma aliança.

Juntara-se a outras duas tendências: a Lutas de Massas, do deputado Jilmar Tatto (SP) e a Novo Rumos, dos ex-prefeitos Fernando Pimentel (BH) e Marta Suplicy (SP).

Reeditando-se a parceria, esses três grupos desceriam ao tabuleiro como uma força nada desprezível nas composições internas. Seriam a penúltima coca-cola do Saara.

Lula observa a ebulição de seu partido com uma ponta de preocupação. Egresso do Ex-Campo Majoritário, o presidente pende para José Eduardo Dutra.

Nos próximos dias, Dutra deve pedir uma audiência a Lula. A pretexto de discutir sua saída da BR Distribuidora, vai tentar consolidar o apoio do presidente.

A guerra interna que se instalou nos subterrâneos do petismo não afeta diretamente a candidatura presidencial de Dilma Rousseff.

Ao antecipar o lançamento de Dilma, Lula como que ergueu um dique que represou o debate sobre nomes alternativos.

Dividido quanto à sucessão de Berzoini, o PT está unificado em torno de Dilma. Seja qual for o escolhido, não se atreverá a peitar Lula.

O receio do presidente é o de que a disputa atrase as composições que considera urgentes, sobretudo com o PMDB. Por isso, vai cuidar pessoalmente desse pedaço da encrenca.
Escrito por Josias de Souza





“O tucanato assustou-se diante da conjunção do repique da popularidade de Lula com a redução da distância que separa José Serra de Dilma Rousseff (de 30 pontos para 22). Assombração sabe para quem aparece.

Um partido que tem dois nomes para oferecer, mas o favorito reluta em anunciar sua candidatura, não poderia esperar outra coisa.

Faltam 16 meses para a eleição de 2010, e José Serra guarda o imponente silêncio dos santos de andor. É cedo? O companheiro Obama anunciou sua candidatura 21 meses antes da eleição.

Ao seu estilo, o PSDB tem um candidato que não diz que é candidato, quer fazer prévia, mas não quer fazer prévia, quer montar uma chapa puro-sangue, mas não quer montar uma chapa puro-sangue.


Em 2006, José Serra saiu da disputa com Geraldo Alckmin sem ter anunciado publicamente que era candidato à Presidência. Nunca se saberá direito até que ponto ele saiu do caminho porque temeu a divisão de sua base ou porque percebeu que marcharia para uma segunda derrota.

Sem candidato (ou sem candidatos disputando prévias), o PSDB acorrentou-se ao projeto-procissão, no qual o santo percorre um trajeto com destino certo, cabendo aos devotos acompanhá-lo com suas preces.

A imobilidade do PSDB é responsável, em parte, pela persistência do fantasma de uma nova candidatura de Nosso Guia.

Se Serra ou Aécio botassem a cara na vitrine, desencadeariam um processo que dificultaria uma manobra queremista do comissariado. Jogando na retranca, alimentam-na.

Pode-se dizer que Lula já informou que não pretende buscar o terceiro mandato, mas ele nunca disse isso numa frase que não contivesse uma saída de emergência.

Numa de suas últimas versões, repetiu que não pretende entrar na disputa, mas disse que não via nenhum mal no continuísmo chavista.

Se algum dia Lula quiser encerrar essa discussão, pode recorrer a um modelo formulado em 1871 pelo general americano William Sherman (o devastador do Sul dos Estados Unidos durante a Guerra Civil). Ele mandou uma carta a um jornal dizendo o seguinte:

‘Nunca fui e nunca serei candidato a presidente. Se algum partido me indicar, não aceitarei a escolha. E se eu for eleito, mesmo que seja por unanimidade, não ocuparei o cargo’".

Nenhum comentário:

Postar um comentário