terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Na véspera de completar 30 anos, o PT do Pará se viu diante de uma grave crise política, crise esta que foi aparentemente resolvida a tempo da festa oficial programada para o dia 30 de janeiro. Ocorre porém que os desdobramentos do dito “pacto” ainda está por mostrar a sua verdadeira conseqüência mais obscura.
Entendendo a Crise Política no PT do Pará em 13 Pontos:
1- O PT
O Partido dos Trabalhadores se afirmou na sociedade brasileira como o principal partido de esquerda do país, fato esse que o coloca como referência de militância neste campo político, transformando-o num partido de “massas”, ou seja, com grande poder de aglutinação de pessoas. Essa condição de partido de massa, somada a necessidade de organização partidária e a ainda à democratização das suas instâncias internas, fez surgir no PT um conjunto de coletivos políticos com conteúdos ideológicos próprios, que são vulgarmente conhecidos como Tendências Internas. Obviamente que essa forma de organização propicia conflitos de interesses e disputas internas pelo controle partidário, que vão sendo resolvidos por meio de instâncias de debates, de resoluções, de decisões e também de eleições. É a singularidade desse processo político que, há 30 anos, vem conduzindo a dialética e rica história do PT.
2- O PT do Pará
Nacionalmente o controle hegemônico da máquina partidária é exercido pela aglutinação de algumas Tendências Internas que se intitulavam “Campo Majoritário”, hoje abrigado num movimento chamado “Construindo um Novo Brasil”. No Pará, esse “campo”, também é hegemônico, formado basicamente pela junção da “Unidade na Luta”, do Dep. Federal Paulo Rocha; do “PT Pra Valer” do Dep. Federal Zé Geraldo; da “Articulação Socialista – AS” do Dep. Federal Beto Faro; além de outros grupos de pouca expressão. Após a saída do PT dos grupos que se articulavam em torno do ex Dep. Federal Babá e do ex prefeito de Belém Edmilson Rodrigues, coube a “Democracia Socialista – DS”, tendência minoritária da qual milita a Governadora Ana Júlia, o papel de principal tendência interna de oposição ao “Campo”, aglutinando consigo um outro conjunto de pequenos grupos políticos que se designam como “Mensagem ao Partido”.
3- O PT do Pará e os Governos Petistas
Embora o “Campo Majoritário” sempre tenha sido hegemônico na direção do PT, o fato é que eles não conseguiram emplacar suas lideranças nos principais governos administrados pelo PT do Pará. Na Prefeitura de Belém, o PT chegou ao governo com Edmilson Rodrigues da então tendência Força Socialista, que era de oposição ao “Campo” e engoliram a seco durante oito anos a truculenta disputa partidária bancada pelo Prefeito. Contudo, os delírios “Stalinistas” da Força, fez surgir a DS, liderados por Ana Júlia, “estrela petista” emergente na política regional, que acabou virando Governadora do Estado, numa estratégia eleitoral, que mais uma vez desagradou o “Campo”, afinal, “gato escaldado de medo de água fria.”.
4- A DS
A tarefa primária de qualquer grupo de esquerda é a disputa pela hegemonia do aparato partidário, ou seja, não se constrói casa em terreno alheio. Em outras palavras, não se governa sem o partido. Isto posto, a DS, conjunturalmente tem o governo, o que implica dizer que é tarefa natural e, fundamental, disputar (e ganhar) o Partido. De fato, por duas oportunidades a DS tentou, mas, não obteve êxito. É evidente que o insucesso da DS pode ser credenciado a muitos fatores de caráter interno, mas, basicamente, a meu ver, faltou robustez política para a DS, pois não seria estratégico para o governo repetir a “Cruzada” praticada por Edmilson. Nesse caso, o uso da máquina governamental nas eleições internas do PT foi menos descarada, ou melhor, foi mais “democrática”, no sentido de que outras tendências também usufruíram do mesmo instrumento.
Isto posto, a DS sabe que para ganhar essa robustez será preciso eleger mandatos parlamentares, que são por natureza, os principais aglutinadores da militância. Portanto, a disputa pela hegemonia do PT passa, necessariamente, pela eleição de 2010. Para a DS, construir seus mandatos parlamentares é condição inequívoca para a ampliação da disputa interna e, mais, da sua própria sobrevivência enquanto tendência.
5- Combinaram com os Russos ?
Obviamente que ninguém vê os movimentos das “tropas inimigas” sem que nada seja feito. No folclore futebolístico, surge logo aquela passagem creditada ao jogador Garrincha de que para a estratégia dar certo é preciso combinar com os adversários. E é isso mesmo! Para o “Campo”, não interessa a DS fazer esses mandatos parlamentares. Pra que? Se a DS já tem a governadora. Não há dúvidas quanto a isso, a estratégia do “Campo” é simples: VETAR. Ou seja, é terminantemente inconcebível que a DS possa se estruturar para construir novas lideranças. Está evidente, que o “Campo” entende que agora é preciso cuidar para que chegue a sua vez, antecipando definitivamente 2014. Não a Copa, mas as eleições.
6- O Chefe da Casa Civil
Escolhido pela governadora para representar o projeto da DS em 2010, o Chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, se viu diante de uma implacável perseguição política, patrocinada pelo “Campo” e tendo como aliado o PMDB e seu instrumento de maldade, o Diário do Pará.
Na verdade o fortalecimento da candidatura do Chefe da Casa Civil representa um duríssimo golpe nas pretensões do “Campo” e do PMBD, posto que viram nessa nova liderança a possibilidade do surgimento de um sucessor político de Ana Júlia, na própria DS, o que contraria os interesses de ambos. No caso do “Campo”, representa ameaça interna e por parte do PMDB, o surgimento de um nome do PT que eventualmente poderá ter viabilidade eleitoral em 2014, quando o PMDB terá planos mais ousados. Com a formação dessa aliança do “mal” foi se constituindo a estratégia gradual de queimação política. Ao perceberem que essas ações vinham surtindo pouco efeito prático junto à governadora, passaram então a defender a tese de que a permanência do Secretário Puty era uma afronta as demais forças que compõem o governo.
7- O Estopim
O “Campo Majoritário” aproveitando-se de um fato isolado e controverso, que foi a organização junto ao Governo do Estado de uma agenda programada com o Incra, para atender 17 prefeitos da região Sul e Sudeste do Pará, deu inicio a crise. Isto porque viu no fato a tentativa do gestor do Incra de Marabá, Raimundo Oliveira, de mostrar força e emplacar um sucessor que pudesse servir aos seus interesses políticos, já que Raimundo visa ser candidato a Deputado Estadual pelo PT.
Ocorre que Raimundo Oliveira foi indicado para assumir o órgão pelo Dep. Federal Zé Geraldo em substituição a Dep. Estadual Bernadete, uma vez que todos faziam parte da mesma tendência interna, o PT Pra Valer. Por alguma razão, que eu não sei exatamente qual, o Raimundo rompeu seu acordo político com esses parlamentares e se lançou pré candidato a deputado estadual na base de Bernadete. Em represália, o PT Pra Valer reivindicou o cargo.
Como conseqüência dessa disputa, os parlamentares não estiveram presentes na audiência com os prefeitos, reivindicando não terem sidos chamados pelo Chefe da Casa Civil, desencadeando na denúncia, por parte desses dois parlamentares de que a DS, através de Puty, estaria armando para tirar o controle do Incra de Marabá das mãos do PT Pra Valer, como parte de cooptação política e apoio de Raimundo Oliveira à sua candidatura, mesmo o Secretário Puty negando qualquer tentativa de indicação da DS no Incra de Marabá.
Até onde eu entendo de política, tudo não passou de um ato político natural, havia uma disputa entre os parlamentares e o gestor do Incra, e este último tentou uma cartada para mostrar que tinha apoio para indicar o seu sucessor.
8- A Chantagem
Acusando o golpe, os parlamentares partiram para o ataque. Ataque mesmo. Principalmente à Ética. Com acusações e ameaças feitas através de um documento subscrito pelos seus mandatos e enviado a direção da DS e do PT, os parlamentares informaram que se a Governadora Ana Júlia não respaldasse a indicação do nome proposto por eles para assumir o Incra de Marabá, lançariam mão do nome da Dep. Bernadete para concorrer contra Ana Júlia nas prévias internas do PT pela indicação do partido a disputa para o cargo de Governador do Estado nas eleições de 2010. Além das prévias, o lunático documento citava a pretensão do Governo em fazer do Puty o Deputado Federal mais votado do Pará, com meta de 500.000 votos. Cá entre nós, uma loucura sem tamanho.
9- O que Eles não Disseram
Já havia no PT um consenso de que o nome que irá substituir Raimundo Oliveira no Incra de Marabá seria indicado pelo PT Pra Valer. Ocorre que a própria tendência não tinha consenso sobre o nome a indicar, documentos com indicações do nome do marido da Dep. Bernadete, do Bressan e da Rose, já haviam chegado à direção do PT. Antes mesmo do mal fadado documento em questão ser entregue, a governadora Ana Júlia, em sua ida a Brasília, já havia defendido para o ministro do Desenvolvimento Agrário (que é da DS), a indicação do PT Pra Valer, no caso a própria Rose, que vai substituir Raimundo Oliveira.
10- Da Chantagem ao Oportunismo
Percebendo que tinha nas mãos uma excelente oportunidade, o “Campo Majoritário” se unificou em torno da derrubada do Chefe da Casa Civil e, consequentemente, da ameaça que Puty representa. Ocorre porém que, em política, tal qual no Boxe, a luta só acaba após a contagem final, ou seja, não basta só derrubar o adversário tem que esperar o juiz decretar o final da luta. Nesse caso, em que a governadora já havia concordado em antecipar a saída de Puty, não era mais interessante só a antecipação, é preciso reduzir seu campo de manobra. Agora o alvo deixa de ser o Puty e passa a ser a DS como um todo. O “Campo” passa então a apresentar o seu feroz apetite por estruturas de governo, desta feita a Casa Civil, espaço ocupado pela DS.
Frequentemente o “Campo Majoritário” queixava-se de que havia um chamado “Núcleo Duro” no governo, composto somente por secretários de estado integrantes da tendência da governadora e que a revelia das demais forças políticas, tomavam todas as decisões mais importantes do governo. Neste ponto, reivindicaram e foram atendidos quanto a participação de secretários de outras tendências nesse “Núcleo Duro” de governo.
Agora que exigiram a Casa Civil e participação no comando das decisões, só faltava a “pá de cal”. Já que a hora era boa porque também não exigir o comando da campanha? Exigiram. O presidente do partido, João Batista, será desde já o coordenador da campanha.
Ainda dá para ganhar mais? É possível. Como outros dois secretários de estado da DS também vão deixar o governo, porque não negociar esses espaços com partidos da base aliada, quem sabe a SECULT com o PTB, a SEDURB com PR? Faz todo sentido, já que estão assumindo a coordenação política do governo, podem logo mostrar sua boa vontade. Agora, com “Campo” no comando, finalmente o PMDB tem alguém igual para negociar, sem ideologismo barato, só o pragmatismo do poder.
Aliás, perguntar não ofende, depois de toda disputa pela indicação do Incra de Marabá, será que o PT Pra Valer vai abrir mão da Secretaria de Transporte?
11- Do Oportunismo a Humilhação
Me desculpem as mulheres pelo machismo, reconheço, mas não pude encontrar alusão melhor para representar esse fato. Dizem, nas rodas de homens, que não adianta nada você sair com a mulher mais linda do mundo se seus amigos não puderem lhe ver com ela, ou seja, não adianta só matar a cobra, tem que o mostrar o pau. E eles mostraram.
Ter a Governadora do Estado nas mãos, de joelhos às suas chantagens e completamente envolvida nessa teia de maldades não era suficiente. Era preciso dizer, mostrar ao mundo quem manda, surge então o parceiro de primeira e todas as horas: o Diário do Pará. Pronto. O verdadeiro alvo fora enfim atingido.
Com uma cobertura digna de premiação, o jornal estampa em destaque a queda do Secretário Puty, a derrocada da DS e finalmente a forma humilhante como a governadora Ana Júlia é descrita fazendo uma ligação para Brasília, acatando a indicação do Incra de Marabá. O texto, de tão cínico, me fez lembrar a cena de velhos filmes de guerra onde o chefe de estado derrotado é obrigado a assinar, humilhado, ao Termo de Rendição.
12- A Festa pelo “Pacto”
Discurso antigo do PT: “...nos debatemos, brigamos, mas no fim saímos mais fortes e unidos para as batalhas”. E foi assim, com esse discurso que mais uma vez o PT diz ter superado mais uma crise, entre mortos e feridos salvaram-se todos. Será? Sim, claro, agora temos um candidato enfraquecido, uma tendência desmantelada e uma figura pública acuada. Ok. Temos as bases para a reeleição de Ana. Vamos comemorar!
É, mas festa mesmo tem que ter gozação. Vamos ver, quem sabe colocar o Puty ao lado da Dep. Bernadete, ou talvez, a Governadora Ana Júlia ao lado do Zé Dirceu. Sim, isso mesmo, aquele! É, é isso. Ficou bom. Um dia perfeito. Viva os próximos 30 anos do “Campo” e do PT.
13- E Ficou só Nisso?
Bom, quanto a reação da DS, este ainda é um movimento em construção. Reagir me parece ser um caminho necessário. Quem sabe perdemos apenas o 1º round. Em minha opinião dividir o comando do governo é necessário, mas negociar a Casa Civil não pode estar na pauta da DS, é inegociável.
Como vimos essa é uma crise do PT, portanto, a sua resolução não pode passar só pelo governo. A direção da DS tem que se pronunciar, responder a altura. Não podemos nos calar e permitir esse golpe.
Vamos aguardar.
Postado por Vicente Cidade
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