Novamente, vou na contramão das análises políticas que estão sendo feitas neste momento.
Há tempos, lembro bem, todo mundo dizia que Jader queria lançar Helder, seu filho, ao Governo do Estado.
Lembro que disse que isso não me parecia lógico, eis que Helder bamboleou até para reconquistar a prefeitura de Ananindeua.
E que mais inteligente seria jogar assim: Jader para o Senado, Helder para vice-governador.
O tempo mostrou que eu tinha razão, quanto ao que estava posto naquela época.
Hoje, já não possuo as informações que possuía, e que me permitiam “adivinhar” as jogadas deste imenso tabuleiro.
Tenho andado meio que afastada da política; quase nem tenho contato com as minhas tão preciosas fontes. E esse é um assunto que prefiro deixar para depois.
Mesmo assim, a quem me pergunta, tenho dito que não creio que Jader se candidate, de fato, ao Governo do Estado.
Por um simples motivo: o risco é demasiado alto. E Jader, sem mandato, sabe muito bem que pode até dormir em Batista Campos. Mas acordará, certamente, em Americano.
Pode até ser que, há quatro anos, ele tenha apostado no quanto pior, melhor.
Quer dizer: tenha apostado que o PT, ao assumir o Governo, se igualaria aos demais partidos.
E que a desconstrução da imagem ética do PSDB – uma imagem pra lá de frágil, por sinal – reduziria todos à mesma lama, ao mesmo patamar.
O problema é que Jader sofreu um processo de satanização que não se “limpa” de um momento para outro.
Obviamente, ele sempre aparecerá bem nas pesquisas, realizadas há em uma distância segura das eleições.
Mas, resistirá a uma campanha? Não apenas pela idade avançada, mas, por tudo aquilo que traz à tona uma campanha?
Hoje, se vocês querem saber, penso que nem o Senado é uma cartada certa para Jader.
É certo que serão duas vagas, de dois senadores, provavelmente, sem chance alguma de reeleição: Flexa Ribeiro e José Nery.
O problema é que mesmo que Paulo Rocha não saia ao Senado – ou até Mário Cardoso, com o belíssimo desempenho que teve nas últimas eleições – mesmo assim nada será certo para Jader.
Afinal, as bases petistas não são assim tão dóceis. E nada as impedirá de cravar o voto em qualquer outro candidato, inclusive Nery, caso ele resolva se recandidatar.
O problema é que eleição não dá para combinar com os russos – os eleitores, esses seres brabos e insondáveis...
Por isso, nada é certo. E Jader, definitivamente, pelo enorme rabo de palha que construiu e pela quantidade de inimigos que amealhou, não pode, simplesmente, se arriscar.
Porque, no caso dele, não se trata de simplesmente ficar sem mandato, por dois, três, quatro anos.
Trata-se de liberdade, mesmo. A liberdade que, por sinal, assegura a sobrevivência de todo um grupo político.
No entanto, creio que todos os jogadores desta mesa estão cometendo um erro enorme ao voltarem os holofotes simplesmente para Jader.
A mim parece que há outros movimentos bem mais importantes no tabuleiro.
E esses estão sendo feitos, na penumbra, pelo PT.
Por mais que se queira valorizar o escândalo dos kits escolares, a verdade é que o troca-troca na Seduc aconteceu por motivos outros.
E tal troca-troca é apenas a ponta do rearranjo de forças que está a acontecer no Governo do Estado.
E eu, sinceramente, peço desculpas aos leitores por estar tão afastada da política a ponto de não poder produzir uma reportagem bacana sobre isso.
Desde aquele encontro no Palácio dos Despachos, que não me lembro bem quando aconteceu, mas acho que foi no final do ano passado, que o PT começou a tomar as rédeas do governo, que até então se encontravam nas mãos de uma corrente complicada e minoritária, a DS.
O encontro uniu na mesma fúria as duas maiores do PT no Pará – a Unidade na Luta e o PT Pra Valer – que também integram o Campo Majoritário, a pragmática aglutinação de militantes e tendências que comanda o partido nacionalmente.
Desde então, pequenos movimentos, sem alardes, vêm sendo feitos no governo – e é por isso que até já escrevi, no blog do Vic, que não dou um dedal de mel coado pela cabeça do Puty.
Afinal, a minha xará, a governadora Ana Júlia Carepa, pode até ser despreparada, mas não é doida: não rasga dinheiro e nem come merda, como diria a minha sapientíssima mãe.
Por isso, certamente, chegará um momento em que entregará os anéis, para conservar os dedos...
Esse rearranjo de forças não torna o governo apenas mais petista; na verdade, está a torná-lo mais amplo.
E, por mais que não se goste, há aqui de reconhecer a inteligência dos “companheiros”: eles perceberam que o tabuleiro das últimas eleições municipais lhes foi amplamente desfavorável.
Daí que partiram para uma estratégia, até agora bem sucedida, de cooptação.
Quer dizer: em vez de reagirem raivosamente, como há alguns anos reagiria o PT, pragmaticamente, resolveram conquistar as peças ajuntadas pelo campo adversário.
Atraíram, por exemplo, o Gerson Peres. E algumas pessoas gostam de apenas se rir do Gerson Peres, esquecendo a enorme respeitabilidade que ele tem no interior do PP e da enorme penetração que o PP possui no Nordeste do Pará, a segunda região com maior número de eleitores, depois da Metropolitana.
Agora – e, na verdade, não é de agora – os petistas estão a “arrodear” o PR, partido que teve um extraordinário desempenho no último pleito, conseguindo conquistar algumas das maiores prefeituras deste estado.
Penso que a última investida petista se concretizará em torno do PTB e do lamentável e enigmático Duciomar Costa.
Se tudo isso for bem sucedido, o PT, que já tem quase que por simples poder de atração outros partidos de esquerda, como é o caso do PSB, terá, na próxima campanha, quantas prefeituras e quantos cabos eleitorais?
Bom, mas alguém até pode dizer: sim, mas esses prefeitos, como, por exemplo, os do PR, são jatenistas desde que nasceram.
Eu responderia: eles, é verdade, são jatenistas desde que nasceram. Mas o problema é que aqui, neste momento, o Jatene só lhes pode acenar com uma esperança de poder. Enquanto que o PT tem condições de lhes dar poder efetivo, hoje, agora, já.
E, vamos deixar pra lá essa coisa de ingenuidade: a maioria dos jogadores está é cagando e andando pra essa coisa de “desenvolvimento do Pará”, “mudança da base produtiva”, “preservação ambiental”.
Quer é saber do poder que possui, agora, já.
Além disso, os nossos prefeitos são suficientemente espertos para perceberem uma coisinha que eu só percebi depois de olhar todos os balanços do Estado, dos últimos 15 anos: não há, rigorosamente, qualquer diferença entre o Jatene e a Ana Júlia, em termos de eficácia de gestão.
Ambos são lamentáveis gastadores; permitem, simplesmente, que o custeio da máquina cresça de forma absurda, por causa de mixarias, de penduricalhos que não fazem a menor diferença em termos sociais
Mas que irão, certamente, impactar a máquina pública.
Lembro que fiz uma alentada pesquisa sobre isso, e que o Liberal não quis publicar – aliás, nem cheguei a escrever, porque o jornal, como me foi dito, não publicaria nem no domingo, nem na segunda, nem na terça e por aí vai.
Mas, os balanços gerais do Estado mostram justamente isto: do ponto de vista meramente administrativo, não há diferença visível entre a Ana Júlia e o Jatene.
O que pegou com ela foi a crise econômica mundial, com a redução da arrecadação paraense.
Mas, de resto, a se levar em conta a maneira como o Jatene vinha gastando, não sei se ele, também, não teria sido apanhado de calças curtas pela crise.
Os balanços mostram, enfim, que o grande administrador público deste estado se chama Almir Gabriel.
Ele, sim, manteve os gastos em rédea curta, justamente para que sobrasse mais dinheiro para investimento.
E a administração do doutor Almir foi tão bem sucedida que o Jatene passou quatro anos se beneficiando dela: o custeio crescia, mas ainda assim havia dinheiro para investir, graças ao acumulado daquela época.
Mas, não convém falar em Almir. Não só porque é carta fora do baralho, mas, porque é um retrocesso.
É tão autoritário que não interessa a ninguém o seu retorno – e eu, almirista de carteirinha, lamento ter de reconhecer que, de fato, ele só nos atrasa em termos democráticos.
Mas, voltando à questão da estratégia petista para 2010: os movimentos atuais no tabuleiro levam a prever surpresas enormes no ano que vem.
A maior delas é que, talvez, pela primeira vez em duas ou três décadas o PMDB deixe de ser decisivo.
E por quê?
Porque a constelação de partidos menores que o PT está a construir tem, provavelmente, o mesmo peso eleitoral do PMDB.
o PT conseguir, de fato, atrair todas as demais forças políticas deste estado, isolando o PMDB e parte do PSDB (parte, porque parte dos tucanos aderirão a isso) será uma verdadeira revolução no tabuleiro político do Pará.
Será a primeira vez que o PMDB não decidirá uma eleição – e, conseqüentemente, não terá o “quinhão” que está habituado a ter em todo e qualquer governo.
Daí, talvez, a ferocidade de Jader, um sujeito tão frio e pragmático: se eu, que sou uma fumada, estou vendo esse horizonte, ele, de há muito, já deve tê-lo visto, também...
O que é que eu posso dizer acerca disso? Por mais simpatia que tenha pelo PMDB e pelos seus valorosos quadros, sou obrigada a torcer pela estratégia petista; para que dê certo.
Afinal, o PMDB, apesar do enorme valor de muitos de seus quadros, tem algumas práticas, digamos assim, complexas, que a gente precisa varrer do Pará, se quisermos, de fato, o desenvolvimento deste estado.
Jamais daria para ser carrasco em Cuba; jamais conseguiria ordenar ou participar de um fuzilamento. Simplesmente, me apego às pessoas. E penso sempre naqueles que as amam.
No entanto, também penso na dona Maria e no seu José, tão amados quanto!
E, como aqui não há nem paredon, nem sangue, creio que vou acabar me perfilando do lado do avanço.
Com uma saudade danada dos companheiros peemedebistas, é verdade. Afinal, nunca vi companheiros tão valorosos, tão corajosos.
Mas essa é uma guerra que transcende, simplesmente, a qualquer de nós.
FUUUUUUUIIIIIIII!!!!!!!!!
Postado por Ana Célia Pinheiro
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