Nem quando está fora do poder, consegue descer do salto, para buscar, enfim, aquilo que lhe faz mais falta: o apoio da sociedade civil organizada.
O autismo de que padece o partido o impede de ver que as casas parlamentares são, apenas, uma frente de batalha.
Aquela em que se pode, é verdade, andar enfatiotado.
Mas que, ao fim e ao cabo, é infinitamente inferior à grande frente de batalha das ruas deste país.
Falta aos preparadíssimos técnicos e intelectuais tucanos a necessária humildade para ir ao encontro do povo onde o povo está.
Nas baixadas, nas periferias repletas de lama e poeira, onde inexiste o mínimo para a sobrevivência digna de um cidadão.
Falta ao PSDB até mesmo a humildade para acarinhar as poucas lideranças populares que vêm ao seu encontro.
Lideranças que penam que nem sovaco de aleijado, sempre que tentam ponderar ao partido a realidade existente para além desse autismo que o consome.
Ao contrário do PT, o PSDB nunca conseguiu inserir-se no movimento popular, nas associações comunitárias, nos sindicatos, nos clubes de mães.
Pode-se argumentar que o partido padece de um defeito genético, uma vez que galgou o poder pouco depois do nascimento.
Quer dizer: queimou etapas imprescindíveis ao amadurecimento político.
Como a ciência sabe, a genética influi, mas o meio exerce papel preponderante sobre os rumos orgânicos.
E o meio em que cresceu o PSDB, nestes 15 anos, foi o do fisiologismo, do compadrio, da corrupção, do coronelismo.
Ou seja, esse caldeirão do inferno em que se realiza, desde sempre, a política brasileira.
Um caldeirão que também tem feito um mal danado ao PT, o mais partido entre os partidos brasileiros e o único que possui, de fato, “anima” popular.
E é graças a essa “anima” que o PT vacila, titubeia e nunca consegue apoiar, em bloco, as tenebrosas transações da “massa atrasada”.
Em outras palavras, sempre haverá, no PT, liderança sindical ou comunitária a indagar: “Mas o que é que eu vou dizer em casa?”.
Falta ao PSDB esse controle social interno; o controle pelo qual tanto lutou na exterioridade que é o Estado.
O controle que também tem o poder de “levantar as ruas”, quando necessário.
Simples assim.
As lições de Sarney
O Caso Sarney nos deixa a todos, Nação, preciosas e dolorosas constatações.
A mais acachapante é que somos um corpo envelhecido com rosto de menina-moça.
A par de todos os avanços dos últimos 100 anos, somos, ainda, uma sociedade de “coronéis”; a sociedade comandada pelos herdeiros legítimos dos senhores da Casa Grande.
O pior é que a maioria do povo brasileiro sequer se dá conta dessa continuidade; sequer reconhece, sob as novas denominações, as velhas práticas escravistas.
Daí o patrimonialismo (e suas expressões, como o nepotismo) ser encarado como coisa “normal” – e não como o escândalo que efetivamente é.
Daí a persistência de práticas políticas que os jornais de países desenvolvidos têm até dificuldade de explicar a seus leitores, tão surrealistas lhes parecem.
Daí o poder – e democrático – de um partido como o PMDB.
A alma desta Nação ainda vagueia pela Senzala, enquanto suspira pela Casa Grande – e não pela Democracia.
Claro sintoma dessa mentalidade arcaica é que ainda andamos a discutir o fim da prisão especial para diplomados, que perfazem, talvez, nem dez por cento dos cidadãos.
E que essa revogação proposta não se aplique aos políticos e a outras categorias, eis que não se reconhecem – e nem nós as reconhecemos – como “cidadãos comuns”.
Claro sintoma de que ainda permanecemos a suspirar pela Casa Grande é, também, o silêncio das ruas diante da evisceração pública do coronelismo, no Senado Federal.
Tivemos, apenas, a manifestação de 50 gatos pingados convocada, em São Paulo, pelo PSOL e um punhado de mensagens no Twitter e em outros “neoquilombos” da Internet.
Mas, não conseguimos transbordar para as ruas a indignação que estamos a sentir, nós, os “quilombolas”.
A maioria segue a própria vida como se nada disso lhe dissesse respeito.
E, bem lá no fundo, até a considerar que Sarney está é certo. Ou, ao menos, não está tão errado assim.
Porque, para a maioria, é “natural” usar “benesses naturalmente conquistadas” em favor dos seus.
Como se cargo público fosse ou desse direito a “benesses”. Ou fosse “conquista” forjada por mero “valor” individual.
É o suspiro pela Casa Grande, entranhado na alma brasileira.
Uma disfunção cultural que o PMDB conhece e maneja tão bem.
Daí a sua capilaridade.
Daí a conclusão de que Sarney pode até cair, pela ação dos “neoquilombolas”.
Mas o coronelismo, certamente, sobreviverá.
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