Leitor me pergunta se não vou comentar esse tal projeto que a minha xará, a governadora Ana Júlia Carepa, sancionou e que obriga os restaurantes paraenses a disponibilizarem fio dental a sua clientela.
Em primeiro lugar, agradeço a fidelidade do leitor, que continua a bater ponto neste blog, apesar das minhas ausências.
Em segundo lugar, quero deixar registrado que ainda não entendi a carga que alguns estão a fazer, por conta desse projeto, contra a minha xará.
Se estivesse no lugar da Ana Júlia, também teria sancionado essa história do fio dental.
E por quê?
Porque essa é uma lei tão xexelenta que já nasce morta. E, se alguém resolver cumprir, mal não fará à população.
Daí que não vejo motivo para que a governadora compre briga com a Assembléia Legislativa, com o Joaquim Passarinho e com a bancada do PTB por causa de uma besteira dessas.
E duvido muito que qualquer governador – Almir, Jatene, Jader, Gueiros – armasse um pé- de- vento por causa disso.
Ademais, quem tem de se explicar não é governadora – é a Assembléia Legislativa e o autor de tal projeto.
Tá certo que é um direito democrático do deputado Joaquim Passarinho apresentar qualquer projeto que considere importante para a população – e, pelo visto, ele considera isso importante.
Mas, também é direito democrático nosso, eleitores, contribuintes, considerar que esse é um projeto pra lá de estapafúrdio, diante das enormes carências do estado do Pará.
Ficaria bem lá na Dinamarca ou na Suécia.
Mas, no Brasil, e especialmente em estados paupérrimos como Pará, soa como brincadeira de mau gosto.
Não creio, porém, que esse projeto me autorize a atribuir, per si, “falta de caráter” ao deputado Joaquim Passarinho.
É, antes, enorme leseira dele e “senso de oportunidade” de muitos dos deputados que o apoiaram...
Pelo visto, Joaquim Passarinho não tem sequer noção do Pará existente para além dos muros da mansão em que vive.
Tanto, que esse projeto parece até coisa de “Maria Antonieta no Tucupi” - o pau comendo, a população sem nem farelo pra botar no prato e ela a recomendar, displicentemente: “que comam brioche!”...
É o retrato da ignorância de boa parte da elite brasileira, acerca da insuportável miséria do nosso povo.
É, portanto, um projeto até emblemático, quanto ao fosso que separa as nossas elites da massa de “descamisados”.
Sujeito que propõe que se disponibilize fio dental em nossos restaurantes não é “ruim” – a não ser, é claro, que possua uma fábrica de fio dental!...
É, antes, um cidadão absolutamente desconectado da realidade, além de muitíssimo mal assessorado.
Porque a idéia é boa: fio dental é, sim, indispensável à higiene bucal.
Mas, só é realmente bacana num país em que as pessoas têm dentes. E, sobretudo, têm o que o comer.
O fio dental da minha xará II
Há outra coisa que gostaria, também, de anotar.
Essa história do “fio dental da Ana Júlia” tem, claramente, um tom sexista, muito parecido, aliás, àquela perseguição que alguns moviam contra a vida sexual dela.
Uma perseguição, como já disse aqui, até ofensiva não só à Ana Júlia, mas, a todas as mulheres – e nós, mulheres, é sempre bom lembrar a uns e outros, somos maioria no eleitorado...
Mas, é até engraçado o aspecto subliminar dessa coisa do “fio dental”.
Afinal, quem projeta Ana Júlia de fio dental a projeta seminua. “Sexy”, portanto.
Quer dizer: essa macharada mal resolvida não consegue sequer dissimular o “tesão reprimido” em relação a uma “mulher poderosa”...
(É coisa meio masoquista – aquele negócio de algemas e chicote, capitchi?...)
Mas, se estivesse no lugar da nossa governadora nem me importaria com mais esse “ato falho”...
Antes, até cantaria, que nem no Diário de Bridget Jones: “Tá chovendo homem, aleluia!”.
ANA CÉLIA PINHEIRO
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