terça-feira, 29 de setembro de 2009

Odair, parece, desconhece os vácuos de poder

Não é apenas Duciomar Costa que é um cara de sorte.
Não é.
A governadora Ana Júlia é, também ela, uma cara, ou melhor, uma mulher de sorte.
Ana Júlia viajou para a Califórnia (EUA).
Fica por lá até 3 de outubro.
Por aqui, fica Odair Corrêa (na foto), o vice-governador de direito.
E, mais importante, fica Cláudio Puty, o vice-governador de fato.
Por que Ana Júlia é uma mulher de sorte?
Porque tem um vice-governador de direito com um perfil que rejeita a belicosidade.
Odair, mesmo passando por certos constrangimentos, não tem os pendores de quem parte para o confronto.
E nem deve partir mesmo.
Mas deve se impor.
Deve impor a sua autoridade, o seu status funcional.
Há quem ache que a governadora só lhe impõe humilhações porque ele, o vice, também não se impõe.
Como não se impõe, Ana Júlia impõe como vice-governador de fato Sua Excelência o doutor Cláudio Puty, que cuida de tudo de tudo neste governo, de ProJovem a hidrelétrica.
E cuida de tudo porque, claro, é pré-candidato a deputado federal pela DS – tendência do PT -, no próximo ano.
Não se sabe se Odair tem conhecimento desta velha máxima: em política, não há vácuo de poder. Não há mesmo.
Se um vácuo aparece, alguém o ocupará logo, logo.
É o caso de Puty, nesta dobradinha com Ana Júlia.
Para Odair se impor, precisaria deixar claro que apenas ele, na condição de vice, é quem deve desempenhar certas atribuições que lhe são constitucionalmente asseguradas.
Mas não precisaria chega aos extremos de um Helinho.
Helinho?
Sim, Helinho, o filho de Hélio Gueiros, ex-governador do Pará e ex-prefeito de Belém.
No segundo governo Almir Gabriel, Hélio Gueiros, o Júnior, era o vice-governador.
E rompeu com Almir.
Numa das viagens do governador, o vice Helinho passou a mão na caneta e mandou pra rua vários auxiliares que ocupavam funções de confiança. Sobrou até para gente do primeiro escalão.
No retorno, Almir, é claro, revogou todas as exonerações e chamou todo mundo de volta.
Mas criou-se um fato político.
E desde então, Helinho nunca mais assumiu o governo, nas ausências do titular.
Odair, que não é belicoso, não precisaria, repita-se, chegar a tanto.
Mas precisa se impor.
Se não se impuser, continuará a ficar em segundo plano.
E Puty continuará como o vice-governador de fato.



Odair, o vice de direito. Puty, o vice de fato.
Na coluna “Repórter 7o”, edição de O LIBERAL desta sexta-feira (18):

VICE
Entendimento

O vice-governador Odair Corrêa (PDT) vai tentar se entender com a governadora Ana Júlia sobre o seu já restrito território no governo. Ele anda descontente com o avanço de alguns secretários sobre o CredPará, único quinhão que lhe coube no latifúndio estadual. O ataque acontece desde que Odair revelou que será candidato a deputado federal. Suas verbas foram reduzidas a ponto de ter que pagar do próprio bolso o aluguel de aeronave para viajar pelo Estado.

Lealdade

O vice-governador está proibido de comprar passagens áreas para seus poucos assessores e não tem conseguido usar os aviões do Estado, que sempre estão com problemas mecânicos ou em missão. Odair pretende dizer à governadora, caso ela o receba, que sempre lhe foi fiel e a defendeu por todos os quadrantes dos ataques inimigos. E que, nas vezes que assumiu o governo, não praticou nenhum ato que comprometesse a sua lealdade.

É humilhante.
É verdadeiramente humilhante o tratamento dispensado pela governadora Ana Júlia ao vice-governador Odair Corrêa (na foto).
Não por ser ele o Odair – porque o vice poderia muito bem ser o Pedro, o Miguel, o José, o Francisco, qualquer um.
O tratamento é humilhante por ser Odair o vice-governador do Estado.
Um vice-governador que não sabe nem se a governadora o receberá em audiência não está sendo tratado como vice-governador.
Está sendo tratado como um moleque, como um qualquer.
Um vice-governador que precisa pagar do próprio bolso o aluguel da aeronave para viajar pelo Estado não está sendo tratado como vice-governador.
Está sendo tratado como um moleque, como um qualquer.
Se o argumento a ser apresentado for o de que o vice quer desfrutar do avião e de outras prerrogativas inerentes ao seu cargo para pavimentar a candidatura dele a deputado federal, então deveria ser adotado um tratamento equânime.
Se esse for o argumento, Sua Excelência a governadora deveria fazer o mesmo com seu vice, o dr. Cláudio Puty.
Puty? Vice?
Sim, o chefe da Casa Civil, como aqui já disse – e faz alguns meses –, é a segunda pessoa mais importantes do governo Ana Júlia.
Mais importante do que o próprio vice-governador.
Por quê?
Porque ele é da DS.
DS é a Democracia Socialista.
Democracia Socialista é a tendência petista a que pertence a governadora.
E a governadora que fazer de Puty candidato.
A quê?
A deputado federal, o mesmo cargo a que Odair aspira.
Mas Puty, ao contrário de Odair, tem avião à disposição e dispõe de toda a estrutura inerente a seu cargo para se deslocar pelo interior do Estado.
- Ah, mas Puty não está fazendo política – dirão uns quatro ou cinco.
É mesmo?
Contem outra.
Contem outra, que essa não cola.
Como não cola humilhar o vice-governador e retirar-lhe prerrogativas inerentes a seu cargo, deixando-se de fazer o mesmo com Puty.
São dois pesos e duas medidas.
Porque Odair é um, e Puty, obviamente, é outro.
Odair é o vice de direito.
Puty é o vice de fato.
Quem ainda duvida?

Edilza desabafa em carta: ‘Fui escorraçada do governo”

O blog As Falas da Pólis, de Diógenes Brandão, disponibiliza desde esta segunda-feira a íntegra da carta em que a professora Edilza Fontes (na foto) formaliza seu desligamento da DS (Democracia Socialista), ainda que continue no PT.
Conforme o Espaço Aberto antecipou, a carta tem um teor contundente.
Diz a professora, em certo trecho: “Fui objeto de uma disputa interna na tendência, cuja finalidade serviu tão somente para resguardar candidaturas. Nada tenho pessoalmente contra o atual Chefe da Casa Civil, sr. Cláudio Puty, ou ao atual secretário de cultura, sr. Edilson Moura, candidatos ungidos como únicos capazes de representarem a DS. Minhas objeções são políticas por defender a legitimidade de qualquer candidatura parlamentar, independente da vontade suprema e absoluta de alguns e algumas.”
E diz mais: “Por conta desse claro posicionamento, fui excluída do projeto estruturado pela DS para as eleições de 2010. Escorraçada do governo que, repito, jamais deixei em constrangimento público sob quaisquer processos judiciais, e tenho sofrido também um processo violento de expurgo simbólico e real. Fui eleita para compor o GT da tendência em nossa última conferência, mas a relação que o núcleo dirigente tem tido comigo é de total desprezo às nossas tradições democráticas.”
A seguir, a íntegra da carta da professora.

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Belém, 27 de setembro de 2009.
Companheiros (as) da tendência Interna petista “Democracia Socialista”

Sou militante histórica do PT, e ajudei a construir junto com outros companheiros e companheiras a intervenção do partido em nosso Estado. Minha história de compromisso com a transformação social e com o socialismo é anterior ao próprio PT. Vem dos tempos sombrios do regime militar quando participei de um dos mais importantes agrupamentos clandestinos da esquerda nacional, o Partido Revolucionário Comunista – PRC.
Atuei de diversas formas no movimento social, nos anos mais difíceis para a democracia e a liberdade. Com denodo, ética, espírito revolucionário e seriedade, tenho a convicção que muito contribuí à história social de nosso povo, seja na luta política, seja nas experiências e tradições de classe que comunguei em minha trajetória. Sou personagem de um enredo marcado pela defesa do humanismo no seu mais radical princípio: a libertação plena da humanidade contra tudo que corrói e oprime a essência humana. Na partilha dessa experiência, tornei-me sujeito histórico plena de contradições, nas diversas faces que me fez mulher, mãe, professora e produtora de conhecimento.
Junto a essa trajetória de sujeito e ator social, galguei com meus próprios esforços, a carreira acadêmica, abraçada por mim com suor, estudo e trabalho, sem usar de recursos escusos e anti-profissionais para alcançar meus objetivos. Dediquei-me ao ofício de historiadora pontuando a carreira acadêmica na dupla missão de amar o saber, inscrevendo-o na história social militante, fazendo o possível para fugir ao script do diletantismo deletério.
Foi com esse background cultural e político que assumi cargos importantes de gestão em esferas diferentes do Estado, com transparência, ética, senso de gestão profissional e comprometida com a coisa pública, de forma eficiente e eficaz. Prova disso são as minhas contas aprovadas, sem máculas pelos organismos públicos de auditagem, desde a minha experiência de gestão na UFPA, na Fundação Cultural de Belém – FUMBEL em 1997 até a última na Direção Geral da Escola de Governo do Estado do Pará – EGPA, entre 2007 e 2009 e na Coordenação do Planejamento Territorial Participativo – PTP.
No governo do Estado, atuei de forma leal, aberta e sincera com a Governadora Ana Júlia Carepa, cuja gestão ajudei a eleger em 2006, com afinco e labor. Nos momentos críticos do governo, pautei o debate fraterno com qualidade, sem entrar no baixo joguetes de disputas fratricidas, ao mesmo tempo fortalecendo nosso projeto de governo diante dos ataques permanentes de nossos adversários internos e externos.
Na DS atuei com a mesma lealdade e tenho certeza que ajudei em muito no seu crescimento como tendência, saltando de forma qualitativa e quantitativa no PED de 2007 para uma intervenção consistente na estrutura interna do PT. A DS hoje no PT, a despeito da máquina governamental, é uma tendência em crescimento, graças às estratégias que ajudei a construir com os (as) companheiros (as).
Em torno dessas considerações é que me sinto a vontade de me dirigir aos (as) companheiros (as) para apresentar por este documento, meu pedido de desligamento da tendência. Não me sinto à vontade de continuar na tendência, após os acontecimentos do primeiro semestre, quando fui exonerada do governo, sem qualquer acusação de malversação administrativa, em nome de uma barganha política com adversários do passado recente e ainda tendo que abrir mão da coordenação de um programa que de forma apaixonada e responsável dirigi nesses 2 anos e meio de governo, o PTP.
Mais do que isso, fui objeto de uma disputa interna na tendência, cuja finalidade serviu tão somente para resguardar candidaturas. Nada tenho pessoalmente contra o atual Chefe da Casa Civil, sr. Cláudio Puty ou ao atual secretário de cultura, sr. Edílson Moura, candidatos ungidos como únicos capazes de representarem a DS. Minhas objeções são políticas por defender a legitimidade de qualquer candidatura parlamentar, independente da vontade suprema e absoluta de alguns e algumas.
Por conta desse claro posicionamento, fui excluída do projeto estruturado pela DS para as eleições de 2010. Escorraçada do governo que, repito, jamais deixei em constrangimento público sob quaisquer processos judiciais, e tenho sofrido também um processo violento de expurgo simbólico e real. Fui eleita para compor o GT da tendência em nossa última conferência, mas a relação que o núcleo dirigente tem tido comigo é de total desprezo às nossas tradições democráticas.
A título de exemplo, nunca fui consultada quanto ao papel da candidatura de Suely Oliveira no PED e sei que esse debate nunca foi aprofundado no interior da tendência. Para agravar o desrespeito dos (as) companheiros (as), fui alijada da Executiva Estadual do PT por um processo de expurgo comandado pelo GT da DS, da forma mais absurda possível, sem direito de defesa em uma reunião onde não fui avisada ser ponto de pauta a avaliação sobre minha atuação na executiva do PT, o que revela o lamentável grau de autoritarismo que tem dado substância às ações dos (as) companheiros (as).
Nesse sentido, já ficou evidente que na há mais clima para continuar na tendência. Sinto-me constrangida de ainda representar uma tendência que não tem tido o mínimo de respeito e solidariedade para com essa companheira.
Ao sair da DS, quero deixar claro que continuarei a debater com o campo da “Mensagem ao Partido”, procurando agrupar-me nesse horizonte dentro do PT. Não irei para outro partido e vou manter minha candidatura à Deputada Estadual em 2010.
Saio da DS com o dever cumprido com a tendência, com o PT e com o governo sem contas bloqueadas na justiça e limpa para com minhas obrigações de gestora pública. Agradeço a confiança depositada pelos (as) companheiros (as) ao indicar-me aos cargos públicos que assumi e sei que cumpri rigorosamente a defesa do projeto que pensamos para o nosso Estado.
Sejamos felizes, cada um em nossos caminhos, ao mesmo tempo juntos na tarefa de refundar o PT.

Saudações Petistas,
Edilza Fontes

Uma jogada preocupante

Pefelistas e peemedebistas parecem, afinal, ter descoberto a roda.

Unidos, poderão de fato bagunçar o jogo e, quem sabe, até retomar o Governo do Estado.

Não lembro se escrevi sobre isso, ou se evitei escrever sobre isso, justamente pelo calafrio que me provoca.

Mas, essa dobradinha, se concretizada, poderá sim colocar em risco a manutenção do Governo do Estado nas mãos de tucanos e petistas.

Creio que não preciso falar sobre a miséria e a pobreza do nosso povo.

Quem escapa da primeira classificação, quase sempre cai na segunda.

Os segmentos com melhores condições de vida e nível educacional formam uma ínfima parcela.

A “massa crítica”, os chamados formadores de opinião e que estão engajados na política, quase cabe no bolso.

Daí que propostas assistencialistas, como as de peemedebistas e pefelistas, encontrem aqui um amplo campo para vicejar.

Na verdade, o que pode ser considerado exceção, excepcionalidade, é a conquista de poder pelos tucanos, em 1995.

Que ocorreu numa conjuntura bem diferente daquela que temos hoje: uma verdadeira crise institucional, desencadeada pelo “fator” Carlos Santos, após três anos de Jader.

Além disso, na esteira de um leque de alianças, que agora, certamente, não existirá.

Juntos, peemedebistas e pefelistas possuem um arsenal formidável.

Tempo de TV, prefeituras, vereadores, militância.

Uma figura carismática como Valéria, cujo apelo ao arquétipo da “Grande Mãe” pode simplesmente explodir, na esteira de uma boa estratégia de marketing.

Um líder carismático como Jader, com uma capacidade estratégica que chega a meter medo, devido à “clarividência” que possui.

Ambos, ainda, com comandos centralizados, o que faz com que seus exércitos marchem na direção determinada, sem defecções, “punhetas intelectuais”, reuniões intermináveis ou crises existenciais.

As “linhas de abastecimento” para a guerra virão não apenas do que já estocaram, mas, também, dos inúmeros empresários de mentalidade medieval que temos no Pará e em vários pontos do País.

Será que alguém é tão ingênuo a ponto de duvidar disso?

Mesmo na capital temos um prefeito que foi talhado nesses moldes assistencialistas.

E, sintomaticamente, ao segundo turno das eleições da capital, da cidade mais desenvolvida deste estado, seu opositor não era alguém de esquerda, mas uma liderança do mesmíssimo espectro político.

II

De quem partiu o aceno para esse “casamento” doloroso?
Não sei.

Ambos, Jader e Vic, são suficientemente inteligentes para projetar algo assim.

E o que me admira, na verdade, não é nem que estejam dispostos a se unir. Mas que tenham demorado tanto tempo para somar dois mais dois.

É claro que há muitas barreiras a essa união.

Uma das principais – e ele, certamente, não gostará do que vou dizer – é a instabilidade do Vic, sobejamente conhecida em todo o meio político.

Mas, se ele recuar e deixar que Valéria permaneça à frente das negociações esse obstáculo poderá ser facilmente ultrapassado.

Hábil, macia, inteligente, estável Valéria é, de fato, a “alma política” do casal.

Apesar do ideário pefelê e de ter permanecido apenas quatro anos numa posição de destaque na monarquia tucana, ela conseguiu conquistar mais corações entre essas aves ariscas do que o complicadíssimo Jatene, que foi governador e já escrevinhava a cartilha do PSDB até antes de Almir.

Nunca me esqueço do frisson que provocou na convenção do PSDB, em 2006, quando apareceu no palco: militantes tucanos se esgoelavam, gritando o nome dela.

E, ainda hoje, admiráveis quadros técnicos que perfilaram com os tucanos permanecem ao redor de Valéria.

Mais: ela tem, ainda, aquela espécie de ímã que permite arrastar multidões – vi isso em Capanema.

Em suma: é um problemão quando se está do lado oposto...

III

Outra barreira, talvez maior, é essa luta encarniçada entre os dois maiores grupos de comunicação do estado.

Um ligado diretamente aos peemedebistas. Outro, sem ligação direta, mas, certamente, simpático aos Pires Franco.

Do lado do PMDB é mais fácil prever a reação: na hora em que Jader der a ordem, toda a história recente será reescrita...

Mas, como reagirão os Maiorana, sem comando centralizado e com várias cabeças para dar piteco em tudo?

Os irmãos terão pragmatismo suficiente para superar o ódio a Jader e perceber o que podem ganhar mais adiante?

Até que ponto a máquina e as verbas de publicidade conseguirão mantê-los onde estão?

Até que ponto a simples expectativa de retorno à fartura de verbas que tiveram os levará a apoiar Jatene?

Ou a possibilidade da candidatura de Valéria ao Governo os levaria a aceitar nacos nem tão significativos, mas ainda assim expressivos desse bolo, dadas as maiores probabilidades de realização?

Penso que é realmente muito difícil que joguem do mesmo lado, até porque isso exigiria a mentalidade empresarial moderna, arejada, que não possuem: em ambos, Liberal e Diário, o que impera é o capitalismo selvagem - a busca, simplesmente, da destruição da concorrência.

Mas, em política, nada é impossível. Ademais, apesar das agatanhadas, ambos já repartem as verbas de publicidade, sob a batuta do PT.

IV

Além da afinidade ideológica, outros fatores contribuem para essa aliança: a maior facilidade na montagem da chapa às majoritárias, que seria negociada pragmaticamente, levando em conta, apenas, as possibilidades de vitória; e o trânsito que possuem Jader e Valéria entre outras lideranças partidárias igualmente conservadoras.

Ora, nem Jader nem Valéria estão preocupados em emancipar, mas, em “amparar” as massas populares.

Ambos defendem a propriedade privada da terra, e não a utilização social, coletiva, da terra.

Ambos, enfim, querem apenas manter, com um remendo aqui ou acolá, a divisão social que temos hoje.

Porque vêem o mundo, a sociedade, as pessoas pela mesmíssima lente.

Daí que não terão de se estapear em torno dos caminhos a seguir para a transformação da sociedade – esse, o pomo da discórdia entre tucanos e petistas.

E assim, não terão maiores dificuldades na montagem de uma chapa: colocarão em cima da mesa as pesquisas, a melhor estratégia para a vitória e o perfil mais adequado a essa estratégia. Pragmaticamente, sem dores de parto.

Em agindo assim, conseguirão, também, atrair outras forças, igualmente conservadoras.

Os próprios integrantes do PP, que hoje estão no governo, dificilmente trocariam os doces braços de Jader e Valéria pelas malinagens de tucanos e petistas...

E, como eles, várias e importantes lideranças, de outros partidos fariam a mesma opção - eis que neste estado atrasado, transbordante de latifundiários e “barões da borracha”, a maioria das lideranças vê o mundo da mesmíssima maneira que pefelistas e peemedebistas...

V

Infelizmente, são enormes as chances de que uma chapa dessas seja bem sucedida.

Além de aglutinar as forças conservadoras, até porque bem menos autoritários e arrogantes, pefelistas e peemedebistas também possuem um discurso fácil, capaz de hipnotizar as massas populares.

Não lhes prometerão um mundo irrealizável, para quem não tem, hoje, sequer um prato de comida. Mas, uma turbinada assistência social, essa sim factível aos olhos da massa desamparada.

Falarão, também, a linguagem do poder forte – que, se a nós provoca arrepios, ao seu José e à dona Maria, que vivem atazanados pela insegurança deles e de seus filhos, soará como resposta divina às muitas orações que já fizeram.

E a culpa por esse retrocesso político terá de ser dividida irmãmente entre o PT e o PSDB.

Porque transformaram um ao outro no principal inimigo.

Porque imaginaram que essa “massa atrasada” não teria nem fôlego, nem capacidade para se rearticular.

Iguais na arrogância e no autoritarismo, tucanos e petistas confundiram vanguarda com inteligência, conservadorismo com burrice.

Quando, na verdade, são apenas formas diferentes de enxergar o mundo, com as quais se pode concordar ou discordar.

Mas que, rigorosamente, não torna ninguém nem mais, nem menos brilhante; nem melhor, nem pior, do ponto de vista meramente pessoal.

Tucanos e petistas cometeram, enfim, um erro brutal: acreditaram, apesar de vivermos numa democracia, que essas forças “estavam mortas” ou que poderiam ser mantidas, indefinidamente, a reboque, no cabresto.

Ao mesmo tempo em que dividiam esse “Exército de Brancaleone”, que deseja, de fato, mudanças radicais na sociedade.

Lembro que Lula, já por duas vezes, comemorou o fato de as próximas eleições presidenciais terem como candidatos fortes apenas lideranças de esquerda.

O que significa dizer que qualquer que seja o resultado, Dilma ou Serra, e apesar das críticas que tenhamos uns aos outros, o Brasil continuará a buscar a eliminação desse enorme fosso que separa ricos e pobres.

Continuará a buscar a construção da Cidadania e da Democracia verdadeiras, que não se resumem ao voto ou a um documento de identificação - e muito menos a um prato de comida.

Quem sabe, daqui a 50 anos - que é o tempo que as coisas que acontecem no Brasil levam para chegar ao Pará – os tucanos e os petistas paraenses compreendam, enfim, o significado das sábias palavras do companheiro Lula.

FUUUUIIIIIIII!!!!!!!

Postado por Ana Célia Pinheiro

terça-feira, 15 de setembro de 2009

2010

Novamente, vou na contramão das análises políticas que estão sendo feitas neste momento.

Há tempos, lembro bem, todo mundo dizia que Jader queria lançar Helder, seu filho, ao Governo do Estado.

Lembro que disse que isso não me parecia lógico, eis que Helder bamboleou até para reconquistar a prefeitura de Ananindeua.

E que mais inteligente seria jogar assim: Jader para o Senado, Helder para vice-governador.

O tempo mostrou que eu tinha razão, quanto ao que estava posto naquela época.

Hoje, já não possuo as informações que possuía, e que me permitiam “adivinhar” as jogadas deste imenso tabuleiro.

Tenho andado meio que afastada da política; quase nem tenho contato com as minhas tão preciosas fontes. E esse é um assunto que prefiro deixar para depois.

Mesmo assim, a quem me pergunta, tenho dito que não creio que Jader se candidate, de fato, ao Governo do Estado.

Por um simples motivo: o risco é demasiado alto. E Jader, sem mandato, sabe muito bem que pode até dormir em Batista Campos. Mas acordará, certamente, em Americano.

Pode até ser que, há quatro anos, ele tenha apostado no quanto pior, melhor.

Quer dizer: tenha apostado que o PT, ao assumir o Governo, se igualaria aos demais partidos.

E que a desconstrução da imagem ética do PSDB – uma imagem pra lá de frágil, por sinal – reduziria todos à mesma lama, ao mesmo patamar.

O problema é que Jader sofreu um processo de satanização que não se “limpa” de um momento para outro.

Obviamente, ele sempre aparecerá bem nas pesquisas, realizadas há em uma distância segura das eleições.

Mas, resistirá a uma campanha? Não apenas pela idade avançada, mas, por tudo aquilo que traz à tona uma campanha?

Hoje, se vocês querem saber, penso que nem o Senado é uma cartada certa para Jader.

É certo que serão duas vagas, de dois senadores, provavelmente, sem chance alguma de reeleição: Flexa Ribeiro e José Nery.

O problema é que mesmo que Paulo Rocha não saia ao Senado – ou até Mário Cardoso, com o belíssimo desempenho que teve nas últimas eleições – mesmo assim nada será certo para Jader.


Afinal, as bases petistas não são assim tão dóceis. E nada as impedirá de cravar o voto em qualquer outro candidato, inclusive Nery, caso ele resolva se recandidatar.

O problema é que eleição não dá para combinar com os russos – os eleitores, esses seres brabos e insondáveis...

Por isso, nada é certo. E Jader, definitivamente, pelo enorme rabo de palha que construiu e pela quantidade de inimigos que amealhou, não pode, simplesmente, se arriscar.

Porque, no caso dele, não se trata de simplesmente ficar sem mandato, por dois, três, quatro anos.

Trata-se de liberdade, mesmo. A liberdade que, por sinal, assegura a sobrevivência de todo um grupo político.

No entanto, creio que todos os jogadores desta mesa estão cometendo um erro enorme ao voltarem os holofotes simplesmente para Jader.

A mim parece que há outros movimentos bem mais importantes no tabuleiro.
E esses estão sendo feitos, na penumbra, pelo PT.

Por mais que se queira valorizar o escândalo dos kits escolares, a verdade é que o troca-troca na Seduc aconteceu por motivos outros.

E tal troca-troca é apenas a ponta do rearranjo de forças que está a acontecer no Governo do Estado.

E eu, sinceramente, peço desculpas aos leitores por estar tão afastada da política a ponto de não poder produzir uma reportagem bacana sobre isso.

Desde aquele encontro no Palácio dos Despachos, que não me lembro bem quando aconteceu, mas acho que foi no final do ano passado, que o PT começou a tomar as rédeas do governo, que até então se encontravam nas mãos de uma corrente complicada e minoritária, a DS.

O encontro uniu na mesma fúria as duas maiores do PT no Pará – a Unidade na Luta e o PT Pra Valer – que também integram o Campo Majoritário, a pragmática aglutinação de militantes e tendências que comanda o partido nacionalmente.

Desde então, pequenos movimentos, sem alardes, vêm sendo feitos no governo – e é por isso que até já escrevi, no blog do Vic, que não dou um dedal de mel coado pela cabeça do Puty.

Afinal, a minha xará, a governadora Ana Júlia Carepa, pode até ser despreparada, mas não é doida: não rasga dinheiro e nem come merda, como diria a minha sapientíssima mãe.

Por isso, certamente, chegará um momento em que entregará os anéis, para conservar os dedos...

Esse rearranjo de forças não torna o governo apenas mais petista; na verdade, está a torná-lo mais amplo.

E, por mais que não se goste, há aqui de reconhecer a inteligência dos “companheiros”: eles perceberam que o tabuleiro das últimas eleições municipais lhes foi amplamente desfavorável.

Daí que partiram para uma estratégia, até agora bem sucedida, de cooptação.

Quer dizer: em vez de reagirem raivosamente, como há alguns anos reagiria o PT, pragmaticamente, resolveram conquistar as peças ajuntadas pelo campo adversário.


Atraíram, por exemplo, o Gerson Peres. E algumas pessoas gostam de apenas se rir do Gerson Peres, esquecendo a enorme respeitabilidade que ele tem no interior do PP e da enorme penetração que o PP possui no Nordeste do Pará, a segunda região com maior número de eleitores, depois da Metropolitana.

Agora – e, na verdade, não é de agora – os petistas estão a “arrodear” o PR, partido que teve um extraordinário desempenho no último pleito, conseguindo conquistar algumas das maiores prefeituras deste estado.

Penso que a última investida petista se concretizará em torno do PTB e do lamentável e enigmático Duciomar Costa.

Se tudo isso for bem sucedido, o PT, que já tem quase que por simples poder de atração outros partidos de esquerda, como é o caso do PSB, terá, na próxima campanha, quantas prefeituras e quantos cabos eleitorais?


Bom, mas alguém até pode dizer: sim, mas esses prefeitos, como, por exemplo, os do PR, são jatenistas desde que nasceram.

Eu responderia: eles, é verdade, são jatenistas desde que nasceram. Mas o problema é que aqui, neste momento, o Jatene só lhes pode acenar com uma esperança de poder. Enquanto que o PT tem condições de lhes dar poder efetivo, hoje, agora, já.

E, vamos deixar pra lá essa coisa de ingenuidade: a maioria dos jogadores está é cagando e andando pra essa coisa de “desenvolvimento do Pará”, “mudança da base produtiva”, “preservação ambiental”.

Quer é saber do poder que possui, agora, já.

Além disso, os nossos prefeitos são suficientemente espertos para perceberem uma coisinha que eu só percebi depois de olhar todos os balanços do Estado, dos últimos 15 anos: não há, rigorosamente, qualquer diferença entre o Jatene e a Ana Júlia, em termos de eficácia de gestão.

Ambos são lamentáveis gastadores; permitem, simplesmente, que o custeio da máquina cresça de forma absurda, por causa de mixarias, de penduricalhos que não fazem a menor diferença em termos sociais

Mas que irão, certamente, impactar a máquina pública.

Lembro que fiz uma alentada pesquisa sobre isso, e que o Liberal não quis publicar – aliás, nem cheguei a escrever, porque o jornal, como me foi dito, não publicaria nem no domingo, nem na segunda, nem na terça e por aí vai.

Mas, os balanços gerais do Estado mostram justamente isto: do ponto de vista meramente administrativo, não há diferença visível entre a Ana Júlia e o Jatene.

O que pegou com ela foi a crise econômica mundial, com a redução da arrecadação paraense.

Mas, de resto, a se levar em conta a maneira como o Jatene vinha gastando, não sei se ele, também, não teria sido apanhado de calças curtas pela crise.

Os balanços mostram, enfim, que o grande administrador público deste estado se chama Almir Gabriel.

Ele, sim, manteve os gastos em rédea curta, justamente para que sobrasse mais dinheiro para investimento.

E a administração do doutor Almir foi tão bem sucedida que o Jatene passou quatro anos se beneficiando dela: o custeio crescia, mas ainda assim havia dinheiro para investir, graças ao acumulado daquela época.

Mas, não convém falar em Almir. Não só porque é carta fora do baralho, mas, porque é um retrocesso.

É tão autoritário que não interessa a ninguém o seu retorno – e eu, almirista de carteirinha, lamento ter de reconhecer que, de fato, ele só nos atrasa em termos democráticos.

Mas, voltando à questão da estratégia petista para 2010: os movimentos atuais no tabuleiro levam a prever surpresas enormes no ano que vem.

A maior delas é que, talvez, pela primeira vez em duas ou três décadas o PMDB deixe de ser decisivo.

E por quê?

Porque a constelação de partidos menores que o PT está a construir tem, provavelmente, o mesmo peso eleitoral do PMDB.

o PT conseguir, de fato, atrair todas as demais forças políticas deste estado, isolando o PMDB e parte do PSDB (parte, porque parte dos tucanos aderirão a isso) será uma verdadeira revolução no tabuleiro político do Pará.

Será a primeira vez que o PMDB não decidirá uma eleição – e, conseqüentemente, não terá o “quinhão” que está habituado a ter em todo e qualquer governo.

Daí, talvez, a ferocidade de Jader, um sujeito tão frio e pragmático: se eu, que sou uma fumada, estou vendo esse horizonte, ele, de há muito, já deve tê-lo visto, também...

O que é que eu posso dizer acerca disso? Por mais simpatia que tenha pelo PMDB e pelos seus valorosos quadros, sou obrigada a torcer pela estratégia petista; para que dê certo.

Afinal, o PMDB, apesar do enorme valor de muitos de seus quadros, tem algumas práticas, digamos assim, complexas, que a gente precisa varrer do Pará, se quisermos, de fato, o desenvolvimento deste estado.

Jamais daria para ser carrasco em Cuba; jamais conseguiria ordenar ou participar de um fuzilamento. Simplesmente, me apego às pessoas. E penso sempre naqueles que as amam.

No entanto, também penso na dona Maria e no seu José, tão amados quanto!


E, como aqui não há nem paredon, nem sangue, creio que vou acabar me perfilando do lado do avanço.

Com uma saudade danada dos companheiros peemedebistas, é verdade. Afinal, nunca vi companheiros tão valorosos, tão corajosos.

Mas essa é uma guerra que transcende, simplesmente, a qualquer de nós.

FUUUUUUUIIIIIIII!!!!!!!!!

Postado por Ana Célia Pinheiro

Sepub vai à Justiça contra

Sindicato se diz frustrado com o governo petista e revela: secretário de
Planejamento teria dito que 13º do funcionalismo pode ser pago só no ano que vem

O sindicato dos servidores públicos do Pará, Sepub, prepara um presente indigesto para o Círio da governadora Ana Júlia Carepa: até outubro, a entidade promete entrar na Justiça contra o governo petista, devido à contratação maciça de assessores especiais, cujos salários, na maioria dos casos, estão bem acima da massa do funcionalismo.

Mas, não é só.

Também em outubro, o Sepub espera concluir um levantamento complicadíssimo, se de fato for veraz: a listagem dos “fantasmas” que existiriam no atual governo. Gente que só aparece no local de trabalho, quando muito, para apanhar o contracheque.


Quem afirma tudo isso é o presidente do Sepub, Carlos Esdras.

Servidor público há mais de três décadas, ele apoiou a eleição de Ana Júlia, mas se diz decepcionado: segundo ele, o funcionalismo, em vez de ganhos salariais, teve é prejuízo financeiro com o atual governo.

Na sua avaliação, trocar o ex-governador Simão Jatene por Ana Júlia “foi trocar seis por meia dúzia”.


Ou, talvez, tenha até ficado um pouquinho pior: em reunião com os representantes dos servidores públicos, o secretário de Planejamento, Orçamento e Finanças, José Júlio, teria afirmado que o 13º salário do funcionalismo pode atrasar, pela primeira vez em 14 anos. A possibilidade, em função da crise econômica, é que ele seja pago só no ano que vem.


Veja os principais trechos da entrevista:

O Governo atual frustrou as expectativas dos funcionários públicos?

Carlos Esdras: Frustrou sim, porque todos nós, a grande maioria de representantes dos sindicatos de servidores públicos do estado, apoiou esse governo que hoje está aí com a Ana Júlia. Tínhamos esperança de que ela realmente fizesse uma modificação geral, para melhor, nessa situação em que se encontra o servidor público. Mas, não estamos vendo isso na prática. Temos muitas coisas pendentes, na mesa de negociação, muitos assuntos importantes que dizem respeito ao servidor público do estado, e principalmente, ao servidor temporário. Então, muita coisa que esperávamos da governadora não está sendo posta em prática.

O senhor pode citar um exemplo dessas pendências?

Carlos Esdras: Por exemplo, a questão do Sistema Penal, com cerca de 1.500 agentes prisionais. Tivemos uma conversa, na mesa de negociação, com o secretário da Sepof; houve conversa, no pé do ouvido, com a própria governadora, para que não houvesse mais distrato no Sistema Penal, enquanto não fosse realizado concurso público. Mas, o que se está vendo é que está saindo agente prisional que tem tarimba e estão colocando pessoas sem experiência. Então, está sendo tudo tratado em desacordo com a conversa que tiveram com a gente.

No atual governo, vocês tiveram um aumento real de salário? Quanto foi e quanto vocês esperavam?

Carlos Esdras: Olha, foi alardeado pelo Governo do Estado, nessas propagandas que ele tanto condenava na época do Almir Gabriel e do Jatene, que tivemos aumento. Mas, se você for ver na prática – e eu posso dizer por mim, presidente do Sindicato do Servidor Público do Estado, trabalhador da Imprensa Oficial, que não tive um centavo de aumento no meu salário. Tive até prejuízo – R$ 5,00, R$ 8,00, mas tive. Então, isso aí foi geral: o servidor público não teve no bolso o aumento que ele esperava.

Quer dizer, então, que o governo mentiu?

Carlos Esdras: Olha, o governo tenta passar à imprensa e à população que o Pará foi o único estado que deu aumento, enquanto outros rebaixaram e até atrasaram salários. Mas, o que houve, na verdade, foi a retração no reajuste do servidor público.

De quanto?

Carlos Esdras: Em torno de 2%, em 2008, em relação a 2006.

Há possibilidade de greve em função disso?

Carlos Esdras: Olha, você sabe que tem a Intersindical que representa os servidores públicos do estado – são dez ou onze sindicatos. E a Intersindical está fragilizada.

Por quê?

Carlos Esdras: Porque estamos indo para a mesa de negociação e ela não tem acontecido como deveria, como a gente discutiu. Estamos tendo um tratamento que não corresponde ao que esperávamos. Então, é difícil dizer que pode haver uma greve geral dos servidores públicos do estado. É muito difícil, haja vista que o Sintepp (o sindicato dos trabalhadores da educação pública), que é um sindicato grande e forte, um sindicato de massa, fez aqueles poucos mais de vinte dias de greve e não avançou em nada.

Mas, qual o motivo dessa fragilidade?

Carlos Esdras: A fragilidade existe porque não há o respeito que a gente esperava, na mesa de negociação. E aí os servidores estão decepcionados, com o Governo do Estado e até com os próprios sindicatos que os representam.

Os sindicatos estão atrelados ao Governo?

Carlos Esdras: O Sepub que não tem atrelamento a nenhum político, nem ao Governo do Estado. Não temos sequer um diretor que seja DAS. Então, nós, do Sepub, não somos atrelados. E eu respondo pelo Sepub.

E o que é que vocês vão fazer, já que a greve não é uma opção?

Carlos Esdras: Eu nem sei lhe dizer o que vamos fazer, já que fizemos tanta coisa... Somos acusados de participar desse governo, somos acusados pela oposição de sermos atrelados a esse governo, quando, na verdade, não temos isso. Não sei nem dizer o que podemos fazer, em termos de Intersindical, para organizar essa categoria que está desacreditada. Mais uma vez eu lhe digo, tanto em relação ao governo, quanto em relação aos sindicatos: todos os sindicatos estão desacreditados perante a sua categoria, porque esse governo não tem respeitado as nossas negociações.

E vocês apostaram muito no atual governo?

Carlos Esdras: Apostamos. A atual governadora veio do movimento sindical, andou em cima de carros elétricos, de carros-som, nas passeatas, junto com a gente, em vários locais, aqui no nosso sindicato... Tudo isso levava a crer que viéssemos a ter uma condição melhor, como servidores públicos, com a eleição dela.

Piorou em relação ao governo do Jatene?

Carlos Esdras: Olha, eu acho que foi trocar seis por meia dúzia, para não dizer que um ganhou e o outro perdeu.

Bem, a massa dos servidores não teve aumento salarial, mas houve aumento para secretários de Estado e adjuntos, não é?

Carlos Esdras: Teve um aumento grande para os secretários e teve aumento agora para os procuradores da PGE (Procuradoria Geral do Estado) – e nós achamos isso inconstitucional. Por que é que o Governo do Estado trata os procuradores a pão-de-ló, dando o aumento que eles pedem, enquanto a massa dos servidores públicos não teve sequer um aumento digno para botar a comida no prato do seu filho?

Qual o salário médio, hoje, dos servidores estaduais?

Carlos Esdras: Na média, uns R$ 700,00.

Quanto era em 2006?

Carlos Esdras: Uns R$ 550,00.

Mas então houve um ganho de R$ 150,00, não é?

Carlos Esdras: Mas é porque nós tivemos uma defasagem salarial de 70%, em 12, 13 anos!...E, em nenhum momento, o governo conversou com a gente para dizer o seguinte: “vamos tratar da defasagem salarial dos servidores públicos”. Não, eles não querem colocar essa situação na mesa. Colocam o mínimo que podem, sempre em nome da crise econômica que afetou o país.

Diz-se que o custeio da máquina cresceu muito. Vocês temem que isso traga de volta aquela situação que se vivia antes, com o atraso do pagamento do funcionalismo?

Carlos Esdras: Olha, a respeito disso posso lhe garantir o seguinte: foi dito pelo próprio doutor José Júlio (o secretário estadual de Planejamento, Orçamento e Finanças) que preside a mesa de negociações do estado com os servidores, que poderia haver um atraso no pagamento do 13º dos servidores, neste ano, simples e puramente por causa da crise econômica. Ele não afirmou que vai ter, mas, disse que poderia; que o servidor poderia não receber esse 13º em 2009.

Quando foi que ele disse isso?

Carlos Esdras: Foi nas primeiras reuniões, na mesa de negociação. Essas reuniões começaram em 14 de janeiro - foi quando ele previu isso. E, de lá pra cá, não mudou o discurso.

Seria o primeiro atraso em 14 anos, não é?

Carlos Esdras: Olha, faz tempo que a gente não tem atraso. Ganhava pouco, não tinha reajuste, mas, também não tinha atraso. E ele garantiu isso, na mesa, para a gente.

Vocês estão preocupados com isso?

Carlos Esdras: Olha, nós estamos preocupados com várias situações dentro desse governo. Essa é uma: o atraso no pagamento do 13º. Outra, são as demissões, que achamos injustas, dentro do Sistema Penal e de outros órgãos onde não aconteceram concursos públicos. Quer saber da última? Recentemente, a governadora autorizou, através de decreto, que, a partir do pagamento de setembro, os servidores terão de acessar a internet, para receber o contracheque. Agora, veja isso em comparação a um servidor do interior, que é desinformado e não tem acesso à internet. Pior: com certeza isso ainda vai custar R$ 1,00 ou R$ 2,00 para servidor. Além dele já ganhar um salário precário, ainda vai ter de tirar R$ 1,00 ou R$ 2,00 para conseguir o seu contracheque. É uma tremenda injustiça, mais uma injustiça do governo da Ana Júlia.

Vai ter de pagar para pegar o contracheque?

Carlos Esdras: Com certeza. Eles contrataram uma empresa, segundo o decreto, a título de evitar gastos com papel, para a impressão do contracheque. Então, terceirizaram isso. E veja também que, para acessar a internet, os funcionários do interior ainda terão de se deslocar para municípios maiores. Por exemplo, quem mora em Curuçá ou Marapanim, vai ter de se deslocar – e pagando o ônibus do próprio bolso – até Castanhal. Quer dizer: vai ter de pagar transporte, ou ir de bicicleta arriscando a própria vida e, chegando lá, ainda vai ter de pagar de R$ 1,00 a R$ 2,00, para ter o seu contracheque, quando, na verdade, o Governo do Estado deveria era entregar isso na casa do servidor, principalmente em se tratando dos aposentados. Isso ainda vai dar muita confusão, principalmente no interior. O pessoal da Setran, por exemplo, que é a nossa maior base, já começou a ligar para o sindicato, para saber como é que isso vai ficar.

Quantos funcionários públicos o Pará tem?

Carlos Esdras: Com esses distratos que a gente está vendo todos os dias no Diário Oficial do Estado, a gente calcula que ainda haja cerca de 100 mil servidores públicos, entre ativos e inativos.

E entrou muita gente no governo da Ana Júlia, especialmente nas assessorias especiais?

Carlos Esdras: Entrou sim. Inclusive, estamos acompanhando isso, para ver quantos assessores a Ana Júlia colocou no seu governo e quantos servidores, principalmente temporários, foram mandados embora.

Por quê? O que é que vocês vão fazer?

Carlos Esdras: Vamos contestar isso na própria Justiça; vamos entrar na Justiça.

Contra a contratação maciça de assessores especiais?

Carlos Esdras: Isso. Contra é... Privilegiando os assessores com os seus DAS altos, ao mesmo tempo em que manda embora servidores temporários que ganham menos de R$ 1.000,00, trabalham, são essenciais, arriscam suas vidas.

Quando é que vocês vão entrar na Justiça?

Carlos Esdras: Assim que terminar o levantamento, o mais tardar, em outubro. Veja: não tem justificativa para o governo cortar hora extra, tempo integral, que atinge também o tempo de serviço, cortar adicional noturno e continuar contratando assessores especiais.

Quanto ganha um assessor especial?

Carlos Esdras: Olha, vai do DAS 1 ao DAS 5, ou seja, vai de R$ 330,00 até R$ 3.500,00 ou R$ 4.000,00. Os assessores especiais ganham mais ou menos isso também.

E esse pessoal trabalha?

Carlos Esdras: Olha, o que a gente vê muito é assessor especial com celular no ouvido, telefonando pra cá e pra lá, ou no Orkut, brincando. Em toda secretaria tem isso – Setran, Imprensa Oficial... Todas as secretarias têm esse tipo de assessor, que fica no Orkut ou brincando com o celular. A maioria deles não faz nada.

Mas tem fantasma também?

Carlos Esdras: Fantasmas? Em todo lugar existem fantasmas...

Vocês têm provas disso?

Carlos Esdras: Olha, saber a gente sabe. Mas eu iria me arriscar dizendo que temos prova. Mas, a gente sabe, porque os companheiros ligam para o sindicato dizendo: “olha, tem um aqui que só vem receber”. A Sead é um antro disto: assessores especiais que não fazem nada e fantasmas.

Vocês têm uma relação desses fantasmas?

Carlos Esdras: A gente está levantando isso. Não podemos fazer a denúncia pela denúncia. Temos de ter o levantamento de nomes e locais de trabalho.

Quando é que vocês terão isso?

Carlos Esdras: Também em outubro.

Vai ser o presente de Círio para a governadora?

Carlos Esdras: Para ela e para todos os seus assessores especiais.

Um esclarecimento

Eu mesma, às vezes, tenho medo deste meu pragmatismo; da frieza com que analiso o quadro político.

Isso tem uma certa vantagem, é verdade, na medida em que nos leva a encarar a realidade “bruta”, apesar dos nossos eventuais interesses.

Mas, às vezes, pode trazer uma certa desesperança à maioria.

E é por isso que gostaria de voltar ao Sarney e a essa evisceração pública do coronelismo que estamos a fazer.

Não posso jamais afirmar o contrário do que afirmei na postagem da semana passada: que Sarney pode até cair, mas que o coronelismo, pela própria permissividade da cultura brasileira, sobreviverá.

Estaria mentindo se escrevesse algo diferente.

Porque transformações culturais não se resolvem assim, magicamente.

Dependem de lutas travadas ao longo de décadas, por vezes, séculos.

Mas, o fato de nos indignarmos com tudo isso; de, ao menos, a elite brasileira se indignar diante disso, já é um sinal alentador de toda a contracultura que conseguimos acumular, desde 1.500.

Há 200, 300 anos é muito provável que nada disso significasse coisa alguma para a maioria dos que estão nos degraus mais elevados da pirâmide social.

Um ou outro levantaria a sua voz, nas ruas, no Parlamento, mas seria olhado como um corpo estranho; seria quase que um extraterrestre.

Hoje, no entanto, o coronelismo, o feudalismo, que desde sempre dominou a política brasileira, já consegue indignar a maioria dos que estão no topo dessa pirâmide social.

É um avanço formidável, numa Nação que já nasceu a parir privilégios.

O tipo de avanço que a Europa levou milênios para alcançar.

Por isso, a lucidez que precisamos ter, no sentido de que Sarney representa apenas a prática corrente de uma cultura, não pode nos levar a imaginar que de nada adianta lutar contra isso.

Pelo contrário: temos a imensa responsabilidade de dar o nosso piteco; de colocar a nossa pedrinha, o nosso tijolinho nessa enorme construção iniciada pelos nossos tatatatatatatatatatatatataravós.

É muito improvável que vejamos “com os próprios olhos” o nosso povo a sair às ruas, indignado, contra o nepotismo.

Mas, certamente, os nossos tatatatatatatatataranetos verão algo assim.

E nós, através dos olhos deles!...

Uns olhos, talvez, até espantados diante de tão extraordinário avanço.

Como veriam os olhos de nossos tatatatatatatataravós a queda de uma ditadura ou de um Collor de Mello...

Como veriam os olhos dos nossos tatatatatatataravós a luta contra o racismo e, aquela que vai se adensando, pela preservação ambiental.

O que temos de compreender é que nada começa em nós; talvez, quem sabe, nos primeiros homens das cavernas...

Mas, cabe a cada um de nós, que conseguimos trazer essa caminhada até aqui, prossegui-la com a mesmíssima firmeza com que prosseguiriam os nossos tatatatatatatatatataravós.

Mesmo sem o conhecimento – que hoje temos! - da roda “imparável” que é a História.
ANA CÉLIA PINHEIRO

A minoria com complexo de maioria

Nem quando está fora do poder, consegue descer do salto, para buscar, enfim, aquilo que lhe faz mais falta: o apoio da sociedade civil organizada.

O autismo de que padece o partido o impede de ver que as casas parlamentares são, apenas, uma frente de batalha.

Aquela em que se pode, é verdade, andar enfatiotado.

Mas que, ao fim e ao cabo, é infinitamente inferior à grande frente de batalha das ruas deste país.

Falta aos preparadíssimos técnicos e intelectuais tucanos a necessária humildade para ir ao encontro do povo onde o povo está.

Nas baixadas, nas periferias repletas de lama e poeira, onde inexiste o mínimo para a sobrevivência digna de um cidadão.

Falta ao PSDB até mesmo a humildade para acarinhar as poucas lideranças populares que vêm ao seu encontro.

Lideranças que penam que nem sovaco de aleijado, sempre que tentam ponderar ao partido a realidade existente para além desse autismo que o consome.

Ao contrário do PT, o PSDB nunca conseguiu inserir-se no movimento popular, nas associações comunitárias, nos sindicatos, nos clubes de mães.

Pode-se argumentar que o partido padece de um defeito genético, uma vez que galgou o poder pouco depois do nascimento.

Quer dizer: queimou etapas imprescindíveis ao amadurecimento político.

Como a ciência sabe, a genética influi, mas o meio exerce papel preponderante sobre os rumos orgânicos.

E o meio em que cresceu o PSDB, nestes 15 anos, foi o do fisiologismo, do compadrio, da corrupção, do coronelismo.

Ou seja, esse caldeirão do inferno em que se realiza, desde sempre, a política brasileira.

Um caldeirão que também tem feito um mal danado ao PT, o mais partido entre os partidos brasileiros e o único que possui, de fato, “anima” popular.

E é graças a essa “anima” que o PT vacila, titubeia e nunca consegue apoiar, em bloco, as tenebrosas transações da “massa atrasada”.

Em outras palavras, sempre haverá, no PT, liderança sindical ou comunitária a indagar: “Mas o que é que eu vou dizer em casa?”.

Falta ao PSDB esse controle social interno; o controle pelo qual tanto lutou na exterioridade que é o Estado.

O controle que também tem o poder de “levantar as ruas”, quando necessário.



Simples assim.


As lições de Sarney

O Caso Sarney nos deixa a todos, Nação, preciosas e dolorosas constatações.

A mais acachapante é que somos um corpo envelhecido com rosto de menina-moça.

A par de todos os avanços dos últimos 100 anos, somos, ainda, uma sociedade de “coronéis”; a sociedade comandada pelos herdeiros legítimos dos senhores da Casa Grande.

O pior é que a maioria do povo brasileiro sequer se dá conta dessa continuidade; sequer reconhece, sob as novas denominações, as velhas práticas escravistas.

Daí o patrimonialismo (e suas expressões, como o nepotismo) ser encarado como coisa “normal” – e não como o escândalo que efetivamente é.

Daí a persistência de práticas políticas que os jornais de países desenvolvidos têm até dificuldade de explicar a seus leitores, tão surrealistas lhes parecem.

Daí o poder – e democrático – de um partido como o PMDB.

A alma desta Nação ainda vagueia pela Senzala, enquanto suspira pela Casa Grande – e não pela Democracia.

Claro sintoma dessa mentalidade arcaica é que ainda andamos a discutir o fim da prisão especial para diplomados, que perfazem, talvez, nem dez por cento dos cidadãos.

E que essa revogação proposta não se aplique aos políticos e a outras categorias, eis que não se reconhecem – e nem nós as reconhecemos – como “cidadãos comuns”.

Claro sintoma de que ainda permanecemos a suspirar pela Casa Grande é, também, o silêncio das ruas diante da evisceração pública do coronelismo, no Senado Federal.

Tivemos, apenas, a manifestação de 50 gatos pingados convocada, em São Paulo, pelo PSOL e um punhado de mensagens no Twitter e em outros “neoquilombos” da Internet.

Mas, não conseguimos transbordar para as ruas a indignação que estamos a sentir, nós, os “quilombolas”.

A maioria segue a própria vida como se nada disso lhe dissesse respeito.

E, bem lá no fundo, até a considerar que Sarney está é certo. Ou, ao menos, não está tão errado assim.

Porque, para a maioria, é “natural” usar “benesses naturalmente conquistadas” em favor dos seus.

Como se cargo público fosse ou desse direito a “benesses”. Ou fosse “conquista” forjada por mero “valor” individual.

É o suspiro pela Casa Grande, entranhado na alma brasileira.

Uma disfunção cultural que o PMDB conhece e maneja tão bem.

Daí a sua capilaridade.

Daí a conclusão de que Sarney pode até cair, pela ação dos “neoquilombolas”.

Mas o coronelismo, certamente, sobreviverá.

O fio dental da minha xará I

Leitor me pergunta se não vou comentar esse tal projeto que a minha xará, a governadora Ana Júlia Carepa, sancionou e que obriga os restaurantes paraenses a disponibilizarem fio dental a sua clientela.

Em primeiro lugar, agradeço a fidelidade do leitor, que continua a bater ponto neste blog, apesar das minhas ausências.

Em segundo lugar, quero deixar registrado que ainda não entendi a carga que alguns estão a fazer, por conta desse projeto, contra a minha xará.

Se estivesse no lugar da Ana Júlia, também teria sancionado essa história do fio dental.

E por quê?

Porque essa é uma lei tão xexelenta que já nasce morta. E, se alguém resolver cumprir, mal não fará à população.

Daí que não vejo motivo para que a governadora compre briga com a Assembléia Legislativa, com o Joaquim Passarinho e com a bancada do PTB por causa de uma besteira dessas.

E duvido muito que qualquer governador – Almir, Jatene, Jader, Gueiros – armasse um pé- de- vento por causa disso.

Ademais, quem tem de se explicar não é governadora – é a Assembléia Legislativa e o autor de tal projeto.

Tá certo que é um direito democrático do deputado Joaquim Passarinho apresentar qualquer projeto que considere importante para a população – e, pelo visto, ele considera isso importante.

Mas, também é direito democrático nosso, eleitores, contribuintes, considerar que esse é um projeto pra lá de estapafúrdio, diante das enormes carências do estado do Pará.

Ficaria bem lá na Dinamarca ou na Suécia.

Mas, no Brasil, e especialmente em estados paupérrimos como Pará, soa como brincadeira de mau gosto.

Não creio, porém, que esse projeto me autorize a atribuir, per si, “falta de caráter” ao deputado Joaquim Passarinho.

É, antes, enorme leseira dele e “senso de oportunidade” de muitos dos deputados que o apoiaram...

Pelo visto, Joaquim Passarinho não tem sequer noção do Pará existente para além dos muros da mansão em que vive.

Tanto, que esse projeto parece até coisa de “Maria Antonieta no Tucupi” - o pau comendo, a população sem nem farelo pra botar no prato e ela a recomendar, displicentemente: “que comam brioche!”...

É o retrato da ignorância de boa parte da elite brasileira, acerca da insuportável miséria do nosso povo.

É, portanto, um projeto até emblemático, quanto ao fosso que separa as nossas elites da massa de “descamisados”.

Sujeito que propõe que se disponibilize fio dental em nossos restaurantes não é “ruim” – a não ser, é claro, que possua uma fábrica de fio dental!...

É, antes, um cidadão absolutamente desconectado da realidade, além de muitíssimo mal assessorado.

Porque a idéia é boa: fio dental é, sim, indispensável à higiene bucal.

Mas, só é realmente bacana num país em que as pessoas têm dentes. E, sobretudo, têm o que o comer.



O fio dental da minha xará II

Há outra coisa que gostaria, também, de anotar.

Essa história do “fio dental da Ana Júlia” tem, claramente, um tom sexista, muito parecido, aliás, àquela perseguição que alguns moviam contra a vida sexual dela.

Uma perseguição, como já disse aqui, até ofensiva não só à Ana Júlia, mas, a todas as mulheres – e nós, mulheres, é sempre bom lembrar a uns e outros, somos maioria no eleitorado...

Mas, é até engraçado o aspecto subliminar dessa coisa do “fio dental”.

Afinal, quem projeta Ana Júlia de fio dental a projeta seminua. “Sexy”, portanto.

Quer dizer: essa macharada mal resolvida não consegue sequer dissimular o “tesão reprimido” em relação a uma “mulher poderosa”...

(É coisa meio masoquista – aquele negócio de algemas e chicote, capitchi?...)

Mas, se estivesse no lugar da nossa governadora nem me importaria com mais esse “ato falho”...

Antes, até cantaria, que nem no Diário de Bridget Jones: “Tá chovendo homem, aleluia!”.
ANA CÉLIA PINHEIRO

São Mário, o Cosanostra e a governadora

Li, não sei onde, que o PT decidiu torpedear o nosso senador-bicheiro, devido aos persistentes ataques à governadora Ana Júlia Carepa.

E o último ataque é demonstração cabal do pensamento machista, hipócrita e tortuoso desse infeliz parlamentar.

Mário Couto criticou duramente Ana Júlia por freqüentar um bar, o Cosanostra; por, como se diz, “tomar uns copos”, depois do expediente.

E a primeira coisa a se perguntar é: o que é que ele tem a ver com isso? Ele, por acaso, pagou-lhe a bebida?

Mas será que um senador da República não tem mais o que fazer?

Será que nós, contribuintes, pagamos seu altíssimo salário apenas para ficar bisbilhotando a vida alheia? Então, melhor é pagar à vizinha fofoqueira, pois não?

Além disso, é o caso de se dizer: melhor beber do que comandar jogatina...

Mas, que nem acionista da Perobal S/A, Mário Couto faz de conta que todos ignoramos quem, de fato, ele é.

E manipula um preconceito imundo contra as mulheres, que, nessa sua visão típica dos “padrinhos”, não podem nem botar a cara para fora de casa, sob pena de serem tachadas de “vagabundas”.

Nunca soube de qualquer crítica desse pitoresco senador às bebedeiras do Hélio Gueiros – que até incorporou essa interessante característica ao seu marketing pessoal... – nem ao uísque fartamente consumido pelo ex-governador Almir Gabriel.

No entanto, Ana Júlia sai para tomar uma cerveja e lá está o “santo” do Mário Couto a apontar-lhe o dedão acusador.

O mesmo Mário Couto que fez fortuna com o jogo do bicho, como toda a população de Belém sabe que fez.

Trata-se, portanto, de uma beata com passado de prostituta!...

Um “santo” que amealhou o dinheiro que possui através da exploração de milhares de pessoas pobres deste estado.

Um “santo” que fez fortuna à margem da Lei, numa atividade ligada ao crime organizado; ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro.

E é no crime organizado, além da miséria da população – dessa mesmíssima população que Mário Couto cansou de explorar – que se deve buscar a causa de milhares de mortes de crianças, adolescentes e jovens deste estado.

É na corrupção, na distribuição de cestas básicas com dinheiro público e objetivos eleitoreiros, que se perpetua essa miséria que estimula a criminalidade.

Não, não é o bar Cosanostra nem nas noitadas da governadora que devem ser buscadas as raízes dessa violência que o nosso senador-bicheiro diz, hoje, abominar.

Não fosse tão hipócrita, Mário Couto faria é um mea culpa, em vez de ficar se aproveitando, de forma politiqueira e nojenta, do cadáver de uma criança.

Porque a culpa pela morte daquele garoto - e de tantos outros milhares de garotos paraenses - é, em verdade, da “Cosanostra”.

Ou seja: de todas as máfias que o Mário Couto, certamente, conhece muitíssimo bem...
um esclarecimento necessário

Quero deixar registrado que essa defesa da minha xará não significa um “alinhamento”.
Tento, apenas, ser justa.

Além de marcar posição contra o uso dessa politicagem machista contra a primeira governadora do Pará.

Porque acredito que a luta das mulheres por respeito, dignidade, igualdade, não pode estar subordinada aos interesses eleitorais de qualquer legenda.

Nossa luta tem milhares de anos; custou milhões de vidas.

Não pode, portanto, ser simplesmente “rifada” em nome de uma vitória tucana.
De resto, continuo a divergir do atual governo em quase tudo.

Ana Júlia, para mim, foi uma grande decepção.
Pela falta de pulso e de conhecimento da administração pública.

Penso que é saudável o alinhamento ideológico. É qualidade, e não defeito, ser leal a companheiros de uma determinada corrente de pensamento.

Mas, daí a governar apenas para um grupo, há enorme diferença.

Ana e Almir, entre os nossos mais recentes governantes, foram aqueles que chegaram ao Poder mais cercados de esperança.

Almir, até pelo perfil autoritário, conseguiu se impor.

Ana, no entanto, perdeu-se nessa fidelidade canina à Democracia Socialista – esquecendo, talvez, que a sua primeiríssima fidelidade teria de ser é ao povo do Pará.

Infelizmente, a minha xará perdeu-se na ilusão dos projetos juvenis.
Continuou a gritar “abaixo a ditadura” e “o povo unido jamais será vencido”, enquanto, nas ruas, na “vera”, a sociedade avançava por outros caminhos – para alcançar, bem lá na frente, quem sabe, até os mesmíssimos objetivos estratégicos da DS...

Mas a DS não soube fazer a crítica da sua postura. E Ana, como liderança – e apesar do Poder que lhe foi concedido pelos cidadãos – não soube conduzir a sua corrente a essa crítica necessária.

Tornou-se, antes, refém da DS e dos que, inteligentemente é verdade, souberam conquistar o comando dessa corrente.

É uma pena que seja assim.

Com um pouquinho mais de jogo de cintura, Ana poderia ser, hoje, a governadora de todos os paraenses.

Mas, optou por ser, simplesmente, a governadora da DS.
Deu no que deu.

ANA CÉLIA PINHEIRO

Estratégias de poder desconhecem conveniências e pudores

Petistas – e não petistas – mostraram-se estupefatos com a revelação feita aqui no blog, de que o deputado federal Wladimir Costa (PMDB) aproxima-se da governadora Ana Júlia para tentar emplacar novos voos eleitorais, no pleito do próximo ano.
E a aproximação está tão acentuada que a governadora se permite deixar-se fotografar (veja acima, na foto à esquerda) em evento público, tendo a seu lado Sua Excelência o deputado Wladimir Costa com um dos braços sobre os ombros de outra Excelência, a própria governadora.
Isso tudo, vale notar, depois de Wladimir, na campanha de 2006, ter apoiado a candidatura Almir Gabriel (PSDB) e desancado a então candidata Ana Júlia (PT) com impropérios inadequados para ouvidos de menores de 150 anos.
Por que a estupefação de petistas e não petistas?
Porque, acham todos, caberia a Ana Júlia rechaçar qualquer aliança político-eleitoral com gente como Wladimir, que a brindou com calúnias, difamações e injúrias na campanha passada.
Petistas e não petistas, assim tão estupefatos, não podem e nem devem exigir tanto da governadora.
Ana Júlia segue as estratégias de poder que entendeu convenientes para se manter no poder.
E estratégias de poder – tanto para alcançá-lo como para que nele alguém se mantenha – desconhecem limites, conveniências, pudores éticos mais acentuados e quaisquer gravames de ordem pessoal.
Tudo para que se alcance o poder ou nele alguém se mantenha.
Ana Júlia faz isso à risca.
Ela não é a primeira.
E nem será a última.

O desmonte no governo Ana Júlia chega ao PTP

Se vocês pensam que o desmonte no governo Ana Júlia limitou-se à derrocada da Coordenadoria de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (Cids), estão redondamente enganados.
O desmonte se amplia.
Chega ao Planejamento Territorial Participativo, o PTP.
Para quem não sabe – ou não se lembra -, o PTP foi vendido como o grande diferencial do governo petista.
Um diferencial que agregaria ao governo Ana Júlia verdadeiramente o perfil popular, a intervenção direta do cidadão, da comunidade, que assim poderiam indicar mais concretamente suas necessidades e cobrar a presença do Poder Público para minimizá-las ou mesmo superá-las completamente.
Pois bem.
Em menos de três meses, o PTP também está indo à bancarrota.
A fracassada gestão de Milene Lauande assiste a uma verdadeira operação-desmonte do Planejamento Territorial Participativo.
Metade da equipe levada por Milene para substituir os que antes coordenavam o PTP - na época em que a professora Edilza Fontes acumulava a direção do Planejamento com o cargo de diretora geral da Escola de Governo - já desistiu. Vários pediram boné.
O PTP, que antes ocupava quase todo o primeiro andar da Sepof (Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças), está reduzido a duas salas.
As coordenações de Formação e a Sistematização foram praticamente extintas e só o administrativo está funcionando a duras penas.
O Seminário promovido na UFPA foi um fiasco, e os conselheiros já nem acreditam mais no PTP.
Agentes tiveram retirados até seus celulares.
Uma pena: estão acabando com o que mais rico tinha neste governo, por mera luta fratricida e política.
A mesma coisa está acontecendo na Escola de Governo, onde os servidores estão em pé de guerra com a gestão do pastor Divino dos Santos e seus obreiros e estão ameaçando radicalizar.
A Sedurb, no momento sob a direção de Suely Oliveira, o Hospital de Clínicas Gaspar Vianna e o Hospital Ophir Loyola caminham, ao que parece, no mesmo rumo.
A gestão Ana Júlia chega assim a um ponto crítico.
A pouco mais de um ano da eleição de 2010.