quarta-feira, 17 de março de 2010

Candidata à reeleição no PA, governadora Ana Julia diz: “Não vejo problema em ter aliança com Jader”




terça-feira, 16 de março de 2010


Governadora do Pará, Ana Júlia Carepa
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), que concorrerá à reeleição, não costuma medir elogios à senadora Marina Silva , pré-candidata do PV à Presidência. Assim como no Acre, onde o PV apoiará o senador Tião Viana (PT-AC) ao governo estadual, no Pará está quase tudo acertado para que o partido formalize apoio à reeleição da governadora.
- Tenho imenso respeito, mas imenso respeito mesmo, pela Marina. Tenho uma amizade pessoal com ela, o que ajuda muito também, independente de meu partido ter ou não candidato. É obvio que vou votar na candidata do meu partido, mas nunca ouvirão eu falar mal da Marina.
Ana Júlia disse que, embora possa ter alguma divergência com a presidenciável Marina Silva, acima disso está o seu “imenso respeito” à contribuição dela à sustentabilidade ambiental do país.
- Desconhecer essa história seria um absurdo. Isso jamais vai acontecer de minha parte - acrescentou.
Mas a governadora do Pará apoiará e votará mesmo é na correligionária Dilma Roussef, com o argumento de que a atual ministra da Casa Civil reúne condições para dar continuidade ao governo do presidente Lula. Ana Júlia Carepa prefere enxergar os pontos fortes da candidata petista, mas arrisca apontar uma vulnerabilidade:
- Diria que o ponto fraco dela é o fato de ser ainda um nome pouco conhecido.
A governadora do Pará disputará a reeleição com apoio do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), famoso como protagonista de escândalos nacionais.
- Eu lido com isso com muita tranqüilidade. Não vou discutir a moral do meu eleitor. Não vejo problema em ter aliança com Jader Barbalho. O deputado é uma liderança reconhecida no Pará.
Leia os melhores trechos da entrevista:
Sou seguidor de seu Twitter e vejo que a sua agenda está cada dia mais intensa. Isso já é em decorrência de sua pré-candidatura à reeleição ao governo do Pará?

Na verdade o Twitter deu maior visibilidade para as coisas. Ele nos possibilita essa vantagem de estar fazendo e anunciando. É verdade que minha agenda está bem mais intensa neste ano. Por causa da crise, muita coisa só ficou pronta agora e, claro, estamos tendo que inaugurar. Estou preparando o Pará pro futuro. Dispus-me a fazer um governo que não fosse apenas melhor que os outros, mas um governo de transformação, especialmente de transformação de modelo de desenvolvimento. Aliás, a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento pro Pará foi tema de meu primeiro discurso quando senadora. É isto que estou pondo em prática: agregação de valor dos nossos recursos naturais, fazer nossa agro-indústria, verticalizar nossa política agrícola e de produção mineral. Em vez de exportar ferro gusa pra China, transformá-lo em aço aqui mesmo, gerando empregos no Estado. Também temos enfrentando um problema histórico, que é o da regularização ambiental e fundiária, detalhamento do Zoneamento Ecológico-Econômico, que já fizemos de duas regiões, e agora tramita na Assembléia Legislativa, após audiências públicas. Nós estamos destravando as possibilidades para empreendimentos sustentáveis no Pará.

Lideranças do PV dão como certo que o partido vai apoiar sua candidatura à reeleição…
Eu vejo isso com muita simpatia. O PV está na base de nosso governo com muita identidade. O PV, que defende a sustentabilidade, sabe do meu esforço, do trabalho que estamos fazendo para fazer a regularização fundiária no Pará. Nós temos que saber separar o joio do trigo. Aqui, na Amazônia, tem muita gente que vem ocupar a região e que não é bandida. É gente que quer trabalhar e é meu dever ocupar essas pessoas, fazer com que elas possam entrar na legalidade. Não adianta eu fechar um monte de empreendimentos. O PV é um partido que tem essa percepção. A ausência de regularização fundiária na Amazônia é a melhor amiga de grileiros ou dos crimes ambientais porque não se tem como identificar quem é quem.

Sendo assim, durante a campanha a senhora poderá ter em seu palanque a senadora Marina Silva, presidenciável do PV, apoiando a sua candidatura à reeleição?
Eu acho bom. Tenho imenso respeito, mas imenso respeito mesmo, pela Marina. Tenho uma amizade pessoal com ela, o que ajuda muito também, independente de meu partido ter ou não candidato. É obvio que vou votar na candidata do meu partido, mas nunca ouvirão eu falar mal da Marina.

Por que?
Por causa desse respeito que tenho por ela. Mesmo que eu possa ter alguma divergência, acima de tudo está o meu imenso respeito à contribuição dela à sustentabilidade ambiental deste país. Desconhecer essa história seria um absurdo. Isso jamais vai acontecer de minha parte.

Além disso, agiram no Pará em parceria quando ela era ministra do Meio Ambiente, não?
Muitas e muitas vezes. O PV está conosco porque tem identidade com os ideais de nosso governo. Tem conhecimento de que estamos regularizando mais de 1,8 milhão de hectares, beneficiando centenas de comunidades.

O que destacaria mais como contribuição de Marina Silva ao se lançar candidata à Presidência?
A Marina vai evidenciar mais claramente essa discussão sobre sustentabilidade, que não deve ser apenas da Amazônia. Uma das coisas que estamos querendo que aconteça, que a própria seccional da Ordem dos Advogados está cobrando, é que o Ministério Público, por exemplo, cobre regularização ambiental não apenas do Pará, mas das demais regiões brasileiras. Do contrário, parece que cobranças relativas ao meio ambiente só devem envolver quem vive na Amazônia. Os demais podem viver na ilegalidade, podem desrespeitar a lei? Não pode ser assim. Isso demanda que o Ministério Público tenha apenas um discurso e não dois, isto é, deixe de ter um discurso pro Pará e outro para os demais Estados brasileiros. Outros biomas precisam ser respeitados também. Não aceitamos que seja diferente.

Recentemente, o governador do Acre, Binho Marques, também petista, disse que alterar o Código Florestal é um risco e representa retrocesso às políticas de desenvolvimento sustentável do Acre. O que a senhora pensa a respeito?
Acho que precisamos aperfeiçoar o Código Florestal Brasileiro, sim. A realidade do Acre é completamente distinta da realidade do Pará. Não quero entrar em detalhes sobre o que dever ser reformado ou não. Como nós vamos manter um Código Florestal antigo como o nosso? Ele precisa mesmo ser aperfeiçoado. Do contrário, nós não vamos ter mecanismos de proteção das florestas. E a floresta que está ocupada? Não estou falando de uma ocupação qualquer, mas de ocupações que têm 40 anos ou mais. Temos que regulamentar isso. Nós estamos fomentando o reflorescimento no Pará com nosso programa de 1 bilhão de árvores. E uma das formas de incentivar o reflorestamemto é com a recuperação da área de reserva legal. Permitimos num primeiro momento o plantio de espécies exóticas, nativas, frutíferas e que se possa fazer o manejo sustentável. Essa é uma forma de se incentivar a regularização, a recomposição, de forma economicamente produtiva. Se não fizermos isso, você acha que as pessoas vão recompor sem ganhar nada? É preciso entender que temos que dar uma solução para que as pessoas possam viver melhor. Esse é o rumo da vida.

Existem muitas multinacionais que exploram há dezenas de anos os recursos naturais do Pará. O que a senhora tem feito para elevar os dividendos dessa exploração em benefício da população?
Isso tanto me preocupa que estou fazendo um grande esforço para agregar valor na exploração de nossos recursos naturais. No leilão da usina de Belo Monte nós conseguimos incluir, diferente do que aconteceu no Madeira, que no mínimo 20% da produção de energia seja destinada aos produtores porque a bauxita está saindo de Juruti para outros países e outros estados da federação para ser transformada em alumínio. Se é transformada em alumínio em outros locais, que haja energia para que ela seja transformada aqui, gerando emprego no Pará. Nós estamos implantando um novo modelo de desenvolvimento.

A senhora escreveu no seu microblog que a hidrelétrica de Belo Monte é um exemplo de que é possível um grande empreendimento com sustentabilidade social e ambiental. Apesar disso, existem muitas críticas de organizações do movimento social por conta dos impactos da obra.
Algumas organizações precisam se reciclar e informar melhor. Algumas pessoas se apegam a alguns dogmas. Outra briga que estamos tendo é em relação à reforma tributária. No ano passado, pedi ardorosamente que ela fosse votada. Ela está prevendo que uma parte do ICMS seja cobrada de quem produz energia elétrica. Então o Pará ganha com isso porque é produtor de energia elétrica. Queremos também ganhar na produção. É uma das poucas coisas que se cobra no destino. Quase tudo hoje é cobrado na origem. Acho que São Paulo, um dos estados mais industrializados, ganha a maior parte do ICMS do país. Por que quando se trata de energia elétrica não é assim? Temos que mudar isso no Congresso Nacional.

A senhora falou de Marina Silva, pré-candidata à Presidência pelo PV. Como avalia a outra pré-candita Dilma Roussef, do PT?
Não tenho dúvida de que a ministra Dilma, pelo fato de estar no governo Lula, reúne todas as condições necessárias para dar continuidade ao que faz o presidente Lula.

Enxerga na candidata dela alguma vulnerabilidade?
Todos nós temos fragilidade e pontos fortes. Não procuro ver as fragilidades. Procuro ressaltar os pontos fortes, pois acho que isso ela tem muito: conhecimento do país, das políticas públicas que estão sendo realizadas, compromisso com a sustentabilidade. Mas diria que o ponto fraco dela é o fato de ser ainda um nome pouco conhecido.

Última pergunta: o seu maior cabo eleitoral no Pará é o deputado Jader Barbalho, do PMDB, famoso como protagonistas de escândalos nacionais. Como a senhora avalia questionamentos em relação ao apoio dele?
Eu lido com isso com muita tranqüilidade. Não vou discutir a moral do meu eleitor. Não vejo problema em ter aliança com Jader Barbalho. O deputado é uma liderança reconhecida no Pará. Foi o deputado federal mais votado no Pará, com mais de 300 mil votos, foi governador duas vezes e é presidente de um partido político. Eu negocio com partido político. Portanto, não vejo nenhum tipo de problema. Eu quero fazer aliança com o PMDB, que é um partido forte. Precisamos entender que nem o PMDB nem o PT consegue ter a representatividade total da política brasileira. Cada um tem uma fatia do eleitorado.

Foto: David Alves/Ag Pa

Fonte:Blog da Amazônia
Altino Machado às 1:31 pm

Nenhum comentário:

Postar um comentário