segunda-feira, 1 de março de 2010

DESSE JEITO NÃO DAR.



O PRIMEIRO TATAME.

No primeiro ringue, perdeu a DS e até a própria governadora Ana Júlia Carepa, que, à noite, acabou tendo de revogar o decreto publicado no Diário Oficial de ontem, que impunha à Casa Civil um esvaziamento sem precedentes.
O decreto transferia para a Secretaria de Governo o poder de nomear e exonerar cargos em confiança, como os DAS.
Nada de mais não fossem dois “detalhes”.
O primeiro é que a capacidade de nomear e exonerar DAS é, de fato, o maior instrumento de barganha da Casa Civil. Sem isso, como lembra um petista, o chefe da Casa Civil viraria um simples assessor.
O segundo é que a mexida na Casa Civil, com a saída de Cláudio Puty, da DS, e a ascensão de Everaldo Martins, da Unidade na Luta, foi negociada entre o Governo e o PT, para sinalizar aos aliados (especialmente o PMDB) a desconcentração do poder das mãos da DS.
No início da semana, conversei com vários petistas e eles não se mostraram muito preocupados com o chamado “esvaziamento” da Casa Civil.
Isso porque consideravam que programas como o Pró-Jovem e a regularização fundiária – que foram transferidos para outras secretarias, após o anúncio da saída de Puty – nunca deveriam ter estado na Casa Civil.
No fundo, os petistas pareciam querer, apenas, que Puty saísse de lá, mesmo que levando para secretarias ocupadas por pessoas de confiança todo esse “armamento” eleitoral – incluindo as aeronaves do Governo.
A reação dos petistas foi muito diferente, ontem, diante do decreto que transferiu a competência das nomeações e exonerações.
Em meio à queda de braço entre a DS e as correntes majoritárias do PT, sucederam-se reuniões (uma delas, à noite, entre a bancada federal e a direção local do partido) e houve até quem aventasse a possibilidade de Everaldo “renunciar” antes mesmo de assumir.
“Acho que isso vai requerer um novo exercício de entendimento, porque a coisa pode desandar”, disse um cauteloso petista.

Outro foi mais incisivo: “Qual a leitura que fica disso? É a de que ela (Ana Júlia) está desautorizando o cara (Everaldo) e, se eu fosse ele, nem assumia. A Ana está dominada por esse grupo e, se ela não romper com ele, vão enterrá-la. Isso é para dizer: ‘quem manda somos nós’, e ela acaba engolindo isso. Ela não consegue compreender o que isso significa publicamente”.
“Uma avaliação que há é de que isso não contribui com o propósito que havia quando se colocou o nome do Everaldo, que era o de abrir mais o cargo aos nossos aliados e até internamente”, disse outra liderança vermelha.
E acrescentou, mais adiante: “O Everaldo veio para conduzir a Casa Civil menos preocupado com a administração, e mais com a articulação. Mas, não pode ficar lá sem poder de nada. Se for para ser assim, ele mesmo vai tomar a decisão de não aceitar, e nós, também, não concordaremos com isso. Ele não vai querer conduzir 100%, mas não pode apenas fazer papel de assessor”.
Segundo a fonte, o próprio Everaldo teria dito “que, se não for para ser útil e fazer o trabalho proposto, não vale a pena ficar”.
O decreto, que caiu como uma bomba sobre as cabeças petistas, também agitou os arraiais peemedebistas.
“Esse pessoal (a DS) não dá espaço, não adianta. Quando cederam a Casa Civil já foi com a intenção de esvaziar. Eles fizeram isso conosco, com as nossas secretarias. Tudo era coordenado pelo gabinete civil e o Puty é que dizia a quem e quanto pagar. Eles controlam tudo e o que estão fazendo com a Casa Civil é exatamente o que se espera deles ”, disse o deputado Parsifal Pontes, que, na tarde de ontem, publicou, em seu blog, uma postagem onde se lia um sugestivo “Basta!” em letras garrafais.
Na postagem, Parsifal escreveu: “Este foi o tratamento que recebeu o PMDB: nomeamos secretários, mas cercaram-nos de leões de chácara, que rugiam ferozes a qualquer movimento que ousasse ultrapassar os ínfimos limites do bureau que lhes foi concedido”.
E acrescentou: “Este governo não tem salvação. Tentar retirá-lo da areia movediça em que se lambuzou, é residir no mesmo limbo que morou o PMDB, e que agora está sendo oferecido ao próprio PT”.
Na avaliação do deputado, “é difícil se relacionar com um governo amador desse jeito. Eles acham que ainda estão em porta de sindicato e que o negócio é no grito”.
E observou: “No fundo, eles fazem o jogo que queremos: nos dão a desculpa para dizer que não dá”.
À noite, a confusão era tão grande que Ana cedeu e revogou o decreto – e a decisão será publicada no Diário Oficial de hoje.
Há informações de que ela teria sido emparedada pelos petistas – inclusive com a ameaça de convocação de prévias partidárias.
O blog conversou com Charles Alcântara, que antecedeu Puty na Casa Civil.
Charles comentou: “Nunca vi uma coisa tão deprimente, tão incompreensível. Como é que pode a Ana, com a trajetória que tem, ter se permitido dominar dessa forma por um grupo prepotente, imaturo, arrogante. O PT tomou a única decisão que lhe restava, para não ser desmoralizado. Era difícil calcular a reação do PT? Eles (a DS) perderam a noção de realidade. Ela (Ana) não é maior que o partido - aliás, nunca foi tão pequena. Como governadora, ela conseguiu ser menor do que tudo o que foi na vida”.



O SEGUNDO TATAME

À tarde, outro tiroteio, dessa vez em público: o deputado federal Zé Geraldo fez um duro pronunciamento contra o PMDB, porque o partido não estaria colaborando com a aprovação do empréstimo de R$ 366 milhões que o Governo do Estado tenta contrair junto ao BNDES, para fazer frente às perdas de arrecadação decorrentes da crise financeira internacional, no ano passado.
“O Pará e a sua população não aceitam esse tipo de conduta disforme e impeditiva do desenvolvimento, na medida em que recursos volumosos deixam de ser votados por meras vaidades políticas. A população espera de grandes líderes e dos grandes partidos, políticas inovadoras, sérias, comprometidas com o interesse comum de seu povo. Não podemos voltar ao passado em que as disputas políticas míopes conduziram o Pará ao atraso profundo”, disse o deputado.
Pouco depois, Parsifal Pontes respondia em seu blog.
“O governo do Pará já deve ter satisfeito os interesses do deputado Zé Geraldo, pois, há duas semanas, a governadora Ana Júlia foi ameaçada, por ele, de prévias dentro do PT, pelo fato de lhe querer tirar as tetas do INCRA dos lábios”, ironizou.
Classificou como “chantagem” as acusações do petista e disparou: “O PMDB serve ao Pará e não ao PT e muito menos a Zé Geraldo que pode pensar que o PMDB é um agregado subalterno, pronto para votar qualquer coisa em troca de cadeiras vazias, como, aliás, vazia já está a cadeira que deverá sentar Everaldo Martins, o novo chefe do gabinete civil, tomado de assalto por Zé Geraldo, talvez achando que lá ficaria o cofre”.
E afirmou, mais adiante: “O PMDB ajudou substancialmente na aprovação de autorização de empréstimos que já somam mais de R$ 2 bilhões ao governo: onde estão as obras essenciais que este montante ergueria? O Pará continua sem ver o resultado do dinheiro e o PMDB não vai se pautar por discursos desta igualha para tomar decisões”.
Disse que falta a Zé Geraldo “autoridade moral” para chamar os deputados estaduais de irresponsáveis, pelo fato de “não quererem ceder aos caprichos do governo”.
E afirmou: “O que a governadora está dizendo a quem ela chama em gabinete é a promessa de pulverizar o numerário em prendas que não são essenciais ao Pará, mas apenas substanciais ao governo e ao PT. E os interesses deste incauto governo do PT não têm sido coincidentes com os interesses do Pará. É só ver a situação da saúde, educação e segurança pública no Estado, para constatar que o governo não usa de forma eficaz o que o povo lhe deposita nos cofres em forma de impostos”.
Parsifal afirmou à Perereca que, na próxima terça-feira, vai “sentar a pua” em Zé Geraldo, na tribuna da Assembléia Legislativa.
Como se vê foi um dia muito, muito quente, menos de 48 horas depois de uma reunião em Brasília, na qual a direção nacional do PT tentou recompor as relações entre a legenda e o Governo, no Pará.
Os fatos, aliás, acabaram desmentindo a nota publicada no jornal O Liberal de ontem, dando conta de que petistas e peemedebistas teriam fechado uma aliança e que ela seria anunciada brevemente.
O próprio Parsifal, aliás, desmentiu a informação em seu blog.
Como se vê a pancadaria vai longe.
Agora, é esperar pelos próximos capítulos.

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