sábado, 17 de abril de 2010

DECIFRANDO OS CENÁRIOS OCULTOS DAS DISPUTAS MAJORITÁRIAS DE 2010

*Roberto Corrêa

As análises políticas em profusão cada vez mais intensa na imprensa nacional e local, têm por traço comum a construção de cenários especulativos focados nas eleições gerais de 2010 e seus desdobramentos em nível subnacional.

Esse exercício do jornalismo profissional e dos cientistas políticos, é hoje quase unanimidade nos espaços midiáticos, tendo como matéria prima dominante de análise a movimentação e o exercício retórico dos principais atores da cena política brasileira.  

Nesse ambiente ainda em construção, ganha significado estratégico o termo “construir palanque” ─ metáfora que designa ação concertada dos comitês dos dois principais candidatos a presidência da República, na busca de alianças que tenham por referência os 27 espaços eleitorais em disputa.

Evitar dois palanques na disputa para presidência da República significa reduzir ao mínimo os riscos de defecção que, no plano estratégico, afigura‐se prejudicial ao empreendimento cooperativo que busca alcançar vitória eleitoral nesses espaços, mormente no que toca a disputa presidencial.

Situação e oposição sabem o quanto isso é importante pois, certamente, apreenderam e muito com os erros do passado. Subestimar alianças eleitorais é condenar a si próprio e a seu partido ao imprevisível, ao imponderável. Com efeito, se a aliança tem por inspiração as tendências do eleitorado, a observância dos líderes partidários a esse princípio obrigaos a consolidar unidade de ação mediante acordos que tenham por objetivo dar consistência às campanhas eleitorais dos candidatos a governador, senador e a presidente da República naquele estado, perante as forças desafiantes.

Fugir a essa regra motivado por caprichos, futricas e intrigas; é ser merecedor de um atestado de incompetência política.  É bom lembrar que a experiência aponta casos em que boa parte dos eleitores da coligação sujeita a desacertos internos, termina optando por um terceiro desafiante, o tertius, quase sempre o candidato com menor expressão nas pesquisas.

Em abuso de metáfora política, diríamos que o caudatário produz afluentes à esquerda e a direita, transformando igarapé em rio‐mar. Exemplos de observância ou inobservância a esse preceitos lógico existem aos montes para ilustrar riscos estratégicos de alianças feitas e desfeitas ao sabor dos caprichos de seus líderes.

Nos anos que antecederam o fim do Estado Novo e a fundação da democracia de 1945, vemos a aliança eleitoral entre as forças lideradas pelo comunista Luiz Carlos Prestes e as do ditador Getúlio Vargas.
Mágoas e diferenças a parte, essa aliança teve por objetivo principal, garantir o avanço do projeto democrático nacionalista dominante nos espaços eleitorais fundados pelo proletariado urbano em crescimento.

Na fase da transição democrática que desemboca na constituinte de 1988 e o retorno ao Estado de direito democrático, defecções intra e entre as forças que avalizaram o golpe militar de 1964 terminam produzindo a constituição de uma frente democrática que se espalha por todos os estados da federação, fazendo emergir os governadores de oposição que terminam viabilizando o acelerado avanço do retorno a democracia.

Em nível nacional essa aliança se expressa nas pessoas de Tancredo Neves e José Sarney para se alastrar em outras dimensões políticas dando coerência as transformações demandadas pelo eleitorado. No segmento histórico oposto, das alianças desfeitas, vemos as cisões e defecções entre lideres viabilizar a emergência dos desafiantes.

]No Pará o desentendimento entre Jarbas Passarinho e Alacid Nunes , lideres do golpe militar de 1964, facilitou, com o apoio do segundo, a vitória de Jáder Barbalho, candidato do Movimento Democrático Brasileiro –MDB, com o apoio do eleitorado de esquerda.

Na mesma trilha, a contenda entre Jader Barbalho e Hélio Gueiros terminou por facilitar a vitória do desafiante petista, Edmilson Rodrigues. Recentemente, no jardim secreto tucano, os desentendimentos
entre Almir Gabriel e Simão Jatene, permitiu ser mais do que exeqüível a vitória de Ana Júlia Carepa, com o apoio do PMDB e de outros partidos menores.

Ou seja, refletir o cenário nacional e as probabilidades de vitória nos espaços eleitorais subnacionais, é refletir sobre a lógica que preside as tendências do eleitorado, pois, como prova a história, as alianças ─ para serem vitoriosas ─ não dependem da vontade dos líderes partidários, apenas, mas da exeqüibilidade
política de um projeto definido no espaço eleitoral em disputa. Este é o caso da aliança que traz em sua hegemonia o PT e o PMDB de um lado, e o PSDB e o DEM, do outro.

 Na primeira composição,  o deslocamento do Estado em benefício dos mais pobres, por um Brasil mais igualitário. Na segunda, o comedimento dessa mesma proposta, atrelada ao discurso da competência, mas que na prática subentende benefícios endereçados aos bem nascidos e por um Brasil encalhado na
desigualdade abjeta. Façam suas apostas,meus senhores e minhas senhoras!

* Professor e pesquisador da Ufpa, economista, doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro ‐ IUPERJ.

OBS: MUITO OBRIGADO COMPANHEIRO E AMIGO ROBERTO PELA ANALISE QUE FOI PUBLICADA EM : O Liberal, 13‐04‐2010, Atualidades, p.7
O BLOG  AGRADEÇE E DEIXA SEMPRE O ESPAÇO ABERTO A TODOS E TODAS.

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