Ciro Gomes - Eu vou lutar até segunda-feira à noite. Porque considero fundamental para o Brasil, para a democracia brasileira, que o Brasil decida, e não os esquemas de gabinetes em Brasília, confinando as opções até deixar o povo sem alternativa praticamente nenhuma. Eu não quero tomar a Presidência da República de ninguém. Eu quero participar de um debate, trazer uma experiência de 30 anos de vida pública decente, de vivências na área econômica. Mas se o partido entender que não, eu respeitarei. Porque uma democracia se faz não com donos da verdade, se faz com respeito às maiorias. Se a maioria do meu partido entender que não devo ser candidato, eu respeitarei completamente.
Folha - A essa altura dos acontecimentos, o que o faz não declarar efetivamente que não é mais candidato a presidente?
Ciro - Boa-fé, confiança, porque a direção do partido me disse que essa discussão será tomada numa reunião com todos os diretórios estaduais, representados em Brasília. E eu confio, estou entre companheiros. É um partido de gente boa, de gente decente, de gente bem intencionada. Pode ser de gente um pouco inexperiente em certa dimensão. Talvez o momento histórico colocou a encruzilhada complexa demais para o nível de experiência de alguns companheiros, mas são gente boa.
Folha - Até que momento o senhor efetivamente acreditou na sua candidatura em termos pragmáticos politicamente, no sentido de o partido efetivamente abraçar sua candidatura, a ponto de buscar alianças com outros partidos?
Ciro - Até o presente momento. Porque com a minha experiência, eu não sou nenhum inocente. Eu sei que a natureza da minha candidatura é rebelde ao dispositivo que a grande estrutura do Brasil marcou. A partir da confrontação paroquial, provinciana da política de São Paulo, muito reciprocamente conveniente para eles, PT e PSDB de São Paulo. Eles querem fazer disso a realidade do Brasil. Eu me insurjo contra isso desde sempre. Acho que tem feito muito mal ao país, eu tenho explicado com detalhes, com nomes, o mal que isso tem feito ao Brasil. Então, não terei vida fácil jamais, pela natureza mesmo da candidatura.
Evidente que não tirei aliança nenhuma, se o meu partido não estava seguro de bancar os riscos inerentes a uma candidatura que se rebela contra tudo que está posto na mídia, no poder econômico, nas oligarquias partidárias. Se não for essa a expressão da vontade da maioria, cabe a mim pedir que o partido incorpore no passo adiante, que é o entendimento com alguém que o partido resolva apoiar, as ideias que eu estou defendendo. Porque o que importa não sou eu, o que importa é o país.
Folha - O que o senhor acha que levou a essa situação de agora, de na terça-feira o partido declarar que o senhor não é mais candidato?
Ciro - Eu conversei com eles. Olhando a história do Brasil, com essa candidatura o partido só ganha. Porque está provado que quem disputou cresceu. O partido que não disputou definhou. Inclusive, na minha opinião, com razão. Só deveriam sobreviver partidos que tivessem o que dizer para o país. Porque tem feito muito mal ao Brasil essa pulverização de burocracias partidárias que existem para barganhar minutos de televisão, que têm imenso poder no Congresso Nacional, mas nenhuma responsabilidade com a vida da República, com a vida do povo. Vivem chantageando o poder, e o PSB não é isso.
Folha - No caso de haver a confirmação de o PSB abdicar da candidatura própria, qual será o seu comportamento político a partir daí para as eleições presidenciais? Há possibilidade de apoio a Dilma Rousseff, ou o senhor vai se manter neutro?
Ciro - Eu nunca fui neutro na minha vida, nunca deixei de tomar posição. Eu vou seguir a orientação do meu partido, a posição que o partido tomar é aquela que eu seguirei. O nível de entusiasmo, entretanto, vai depender do nível de incorporação das minhas preocupações com o futuro do país, com as diretrizes éticas, programáticas, ideológicas do passo seguinte que o partido der, se eu não for candidato.
Folha - O senhor pretende se reunir com a candidata Dilma Rousseff para discutir colaborações suas para o programa de governo dela?
Ciro - Sua entrevista está completamente fora de tempo, ou então você está querendo enterrar o defunto com ele vivo ainda. É preciso refrasear as perguntas aí.
Folha - Insisto. Na hipótese da decisão de terça-feira ser desfavorável aos seus anseios, o senhor pretende colaborar com o programa de governo da ex-ministra Dilma Rousseff?
Ciro - Eu acho que é uma falta de delicadeza você tratar como defunto quem está vivo, antes de ser enterrado. Publique isto.
Folha - Durante todo esse tempo em que o senhor tentou viabilizar a sua candidatura, o senhor sempre foi crítico da aliança PT-PMDB. O senhor vai manter o discurso público nesse sentido ou vai se recolher?
Ciro - Eu nunca fui crítico da aliança PT-PMDB. Eu sei que interessa para eles reduzir a minha opinião a essa miudice. Eu não sou crítico de aliança nenhuma. Eu sou crítico da hegemonia moral e intelectual que preside essa aliança. Se você compreende o Brasil, você sabe que precisa ter aliança. A pretexto de que isso é correto e necessário, o que está se fazendo é tráfico de minuto de televisão, é acobertamento de malfeito, manipulação de CPI. E isso não tem nada a ver com governabilidade, tem a ver com frouxidão moral, concessão de espaço público para fisiologia, corrupção e clientelismo. Essa opinião não muda, é uma opinião de vida minha.
Folha - Em entrevista ao portal iG, o senhor declarou que José Serra é mais capaz do que Dilma Rousseff. A sua visão é essa, efetivamente?
Ciro - Eu não dei nenhuma entrevista para o portal iG.
Folha - Independentemente da entrevista, o senhor acredita que José Serra é mais capaz do que a ex-ministra Dilma?
Ciro - O que eu digo a todo mundo que me pergunta é que a Dilma é uma pessoa muito melhor do que o Serra, mas infelizmente para nós outros, o Serra é mais preparado do que ela, mais legítimo do que ela.
Folha - O que confere legitimidade a um candidato?
Ciro - Estrada, serviço prestado, experiência, derrotas, vitórias, compromissos assumidos. Isso é o que confere legitimidade a alguém.
Folha - Já que ele prestou serviços ao país, cumpriu compromissos, por que o senhor o vê como uma figura ruim para o país?
Ciro - A vinculação a um projeto de país que prejudicou o Brasil de forma quase criminosa. Ele foi ministro do governo Fernando Henrique durante quase oito anos. Não adianta fazer de conta, manipular, fazer conivência da grande mídia, lavagem cerebral, não adianta. Ele foi ministro do Planejamento no tempo em que se formatou a privataria. Ele foi ministro da Saúde, ele foi o sucessor do Fernando Henrique, ele foi a Dilma do Fernando Henrique. Isso, infelizmente, é o real. Então, na política, você é você e as suas circunstâncias. Eu, por exemplo, era da mesma turma e rompi quando vi o Fernando Henrique fazer o que estava fazendo. Fui para o deserto, fui falar contra, apelar contra, sofri o pão que o diabo amassou, para sustentar a coerência da minha percepção de mundo em relação ao Brasil.
Folha - O senhor pretende, se não vier a ser candidato a presidente da República, se candidatar a algum outro cargo eletivo este ano?
Ciro - Se eu não for candidato a presidente da República, eu vou me aquietar. Vou sair da política, não sei se definitivamente, mas pelo menos por um longo tempo.
Folha - Sair da política por um longo tempo significa se ausentar dos debates agora das eleições presidenciais?
Ciro - Depende, se eu for candidato a presidente da República, eu não posso me ausentar. Se eu não for, você espera o defunto ser enterrado para você tripudiar em cima, cuspir na cova
EDITOR DO BLOG :
Elizeu das Chagas Souza.
"Ciro Gomes com certeza daria um otimo Senador, ia ter mais força o Senado Brasileiro com ele lá, muita gente e senador que faz coisas errada ficaria com medo, Ciro presidente do Senado, já pensou te cuida Sarney e companhia." Mercadante para o Governo e Marta para o Senado.
O evento, realizado na sede do Sindicato dos Bancários, no centro de São Paulo, acabou transformado em exaltação a pré-candidata do partido à Presidência da República, Dilma Rousseff, recebida ao som de jingle de campanha pelos correligionários.
Anunciada, a presença do presidente Lula ao evento acabou não acontecendo. Em seu lugar, foi lida uma carta pelo líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, elogiando Mercadante.
Discursos
Em seu discurso, Aloizio Mercadante centralizou seus ataques no atual governo paulista, ocupado até o início de abril por José Serra (PSDB), principal adversário de Dilma para a sucessão de Lula.
Já Dilma usou o argumento entoado pela oposição na disputa pelo Planalto ('O Brasil pode mais') para defender a vitória do senador senador petista em São Paulo.
"Nós achamos que é possível e é necessário fazer muito mais", disse Dilma, que reforçou que a vitória do PT em São Paulo "vai permitir que nós aqui façamos mais".
O slogan tucano tem sido alvo de brincadeiras e críticas do presidente Lula. Em 10 de abril --dia do lançamento da pré-candidatura de José Serra à Presidência-- Lula disse, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que o lema tucano seria uma cópia da campanha de 2008 do presidente americano Barack Obama, que usou "Yes we can" ("Sim, nós podemos").
Folha
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