Moacyr Lopes Jr./Folha
“Se tivéssemos que tomar uma decisão hoje, estaríamos mais perto de fechar com Serra, não com Dilma”.
A frase acima foi dita ao blog por um integrante da cúpula do PMDB. Dedica-se à análise do desenho político que começa a ser esboçado nos Estados.
Fez um levantamento nacional da situação da legenda. Verificou que, por ora, o acerto com o petismo revela-se viável somente em três Estados: Ceará, Amazonas e Piauí (neste último, com a dissidência do senador Mão Santa).
Nas outras 24 unidades da federação, o PMDB ou rumina a indefinição ou se encaminha para uma aliança com PSDB e DEM.
De acordo com o levantamento, a “namoradinha” da política brasileira flerta com a oposição justamente em alguns dos maiores colégios eleitorais do país.
No maior deles, São Paulo, Orestes Quércia, está fechado com a candidatura presidencial do tucano José Serra.
Um problema para o paulista Michel Temer. Voz ativa em Brasília, o presidente da Câmara apita pouco em sua terra.
Ali, quem dá as cartas no diretório do PMDB é Quércia. Ele preside o partido. Mais: controla-o.
Em Santa Catarina, uma aliança do PMDB com o PT é sonho irrealizável. O governador peemedebista Luiz Henrique governa em aliança com PSDB e DEM.
Candidato ao Senado, Luiz Henrique costura a manutenção da tríplice aliança. Não quer nem ouvir falar de Idelli Salvatti, o nome do PT à sua sucessão.
No Rio Grande do Sul, o PMDB é adversário histórico do PT. Leva ao forno a candidatura estadual do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça.
A governadora tucana Yeda Crusius rumina a idéia de candidatar-se à reeleição. Mas o tucanato nacional trama puxar-lhe o tapete, fechando com Fogaça.
A despeito da cara virada do presidente do PT, Ricardo Berzoini, o petismo gaúcho prevê para julho a escolha do seu candidato. Tarso Genro é favorito. Nada de PMDB.
No Paraná, o governador Roberto Requião, velho aliado de Lula no PMDB, liberou seus “costureiros” para tricotar com o PSDB.
Dialogam nos subterrâneos com os dois pré-candidatos tucanos ao governo paranaense: o senador Álvaro Dias e o prefeito curitibano Beto Richa.
Requião conversa amiúde com Quércia. Há coisa de dois meses, esteve com Serra, em São Paulo. Recebeu-o em Curitiba. Firmaram uma parceria fiscal.
Candidato ao Senado, Requião tenta esvaziar a candidatura ao governo de Osmar Dias (PDT), com quem o PT, empurrado por Lula, cogita se aliar.
Em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, o PMDB vai de Hélio Costa. O ministro das Comunicações busca uma aliança com Aécio Neves.
Tomado pelo noticiário, Aécio disputa a vaga de presidenciável com Serra. Tomado pelo que se diz dele abaixo da linha d’água, estaria rendido às evidências.
Prevalecendo a 2ª hipótese, Aécio pende para o Senado, não para a vice de Serra. Para o governo, tenta empinar a candidatura de seu vice, Antonio Anastasia.
É uma espécie de Dilma de calças. Jamais disputou eleições. O PMDB aposta na inviabilidade de Anastasia para atrair Aécio para o palanque de Hélio Costa.
Enquanto isso, o petismo mineiro briga. Medem forças pelo governo o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro do Bolsa Família, Patrus Ananias.
Em Brasília, os grãopeemedebistas José Sarney e Renan Calheiros posam de “dilmetes”. No Maranhão e em Alagoas, o PMDB de ambos quebra lanças com o PT.
Em conversa reservada, há dois dias, Roseana Sarney, que acaba de ganhar o governo maranhense no tapetão do TSE, desfiou um rosário de queixas ao PT.
O petismo do Maranhão torce o nariz para os Sarney. Resiste às tentativas de aproximação.
Nas plagas alagoanas, Renan joga o jogo do governador tucano Teotônio Vilela Filho. E vice-versa. Teotônio deve disputar a reeleição. Renan, o Senado. Ou vice-versa.
Em Pernambuco, o PMDB se chama Jarbas Vasconcelos. É Serra desde menino.
Na Bahia, PMDB é sinônimo de Geddel Vieira Lima. Ministro de Lula, Geddel mantém com o governador baiano Jaques Wagner, do PT, uma aliança frágil.
Espanta-se com os ataques que o petismo dirige ao seu grupo. Em privado, não excluiu a possibilidade de disputar o governo, em aliança com ‘demos’ e tucanos.
No Rio Grande do Norte, o PMDB vive um dilema. Henrique Eduardo Alves, líder na Câmara, é Dilma. Garibaldi Alves, majoritário no diretório, pende para Serra.
Garibaldi distanciara-se de José Agripino Maia (DEM). Agora, ensaia a reaproximação. Cogita apoiar a candidatura ao governo da senadora ‘demo’ Rosalba Ciarlini.
No Pará, o dono do PMDB é Jader Barbalho. Em 2006, ajudara a eleger a governadora Ana Julia Carepa, do PT. Hoje, quer vê-la pelas costas.
Ana Júlia deseja reeleger-se. Jader quer voltar ao Senado. E trama acomodar no palácio o filho Helder Barbalho, prefeito de Ananindeua, numa aliança com o PSDB.
No Rio, outro dilema. O governador Sérgio Cabral é Dilma. O ex-governador Antony Garotinho trabalha para arrastar o diretório do PMDB para o colo de Serra.
Para complicar, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, do PT, quer ser governador. Tenta retirar o PT do palanque reeleitoral de Cabral, dodói de Lula.
O PMDB, como se vê, faz jus ao vocábulo partido. Nada mais fragmentado. A lei não impede que o partido faça alianças diferentes nos planos nacional e estadual.
Mas o dirigente que traçou o quadro acima para o repórter diz que não há como ignorar que, por ora, Serra leva “vantagem” sobre Dilma no PMDB.
Escrito por Josias de Souza às 04h50
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